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Koala. Foto: Diego Delso / Wiki Commons

Incêndios na Austrália podem empurrar inúmeras espécies para a extinção

06.01.2020

Desde Setembro já terão ardido mais de oito milhões de hectares na Austrália, com consequências para a vida selvagem ainda difíceis de prever. Vários peritos alertam para prováveis extinções.

 

O ratinho Sminthopsis aitkeni é uma das espécies de mamíferos prioritárias para o Governo australiano. Está ameaçado de extinção e apenas vive na ilha de Kangaroo, ao largo da costa Sul da Austrália. E em mais lugar nenhum do planeta.

Na verdade, a Austrália tem uma impressionante diversidade de mamíferos, com mais de 300 espécies nativas, estima a Universidade de Sidney. Destas, 244 espécies só existem na Austrália.

Há dias, incêndios devastaram quatro locais daquela ilha onde a espécie ocorre. “O habitat foi dizimado”, constatou Pat Hodgens, ecologista na organização Kangaroo Island Land for Wildlife, citado pelo jornal The Guardian.

Para Sarah Legge, da Universidade Nacional Australiana, o prognóstico para este ratinho “não é bom” e a sua luta simboliza o que está a acontecer um pouco por todo o país.

“Muitas dezenas” de espécies ameaçadas foram gravemente atingidas pelos incêndios que lavram desde Setembro, acrescentou Sarah Legge, ao The Guardian. Algumas perderam quase todo o seu território para as chamas.

Todos os anos, a Austrália regista uma época de incêndios florestais, mas desta vez chegaram mais cedo do que o normal e de forma mais intensa, depois de três anos de seca.

Até ao momento já arderam mais de oito milhões de hectares, uma área correspondente à da Áustria. Já morreram 25 pessoas no estado de Nova Gales do Sul, o mais populoso do país, onde milhares de casas ficaram destruídas e algumas cidades estão sem electricidade.

O ecologista da Universidade de Sidney, Chris Dickman, estima que já terão morrido cerca de 480 milhões de animais (mamíferos, aves e répteis), incluindo um terço dos koalas (8.000 indivíduos) de Nova Gales do Sul. Esta região é o bastião desta espécie, com uma população estimada em 28.000.

A ministra federal do Ambiente, Sussan Ley, disse ao jornal ABC, que “até 30% da população daquela região” pode ter morrido, porque cerca de 30% do seu habitat ficou destruído.

Neste momento, mais de 100 incêndios continuam a lavrar por todo o país.

Ecologistas australianos receiam que meses de incêndios intensos e sem precedentes irão empurrar várias espécies de animais e plantas para a extinção. E, num cenário de alterações climáticas, algumas espécies podem nunca recuperar.

De facto, os cientistas do clima têm alertado para as consequências que o aumento das emissões com gases de efeito de estufa terá no acelerar de uma vaga de extinções.

Os incêndios não queimam apenas os animais mas criam situações onde os que sobrevivem não têm alimento. As aves perdem as árvores onde fazem os ninhos e as frutas e os invertebrados dos quais se alimentam. Os mamíferos perderam os seus abrigos e são presas fáceis para predadores.

“É razoável inferir que haverão consequências dramáticas para muitas espécies”, comentou ao The Guardian John Woinarski, da Universidade Charles Darwin. “A escala destes incêndios é tal que muitos animais, incluindo os ameaçados, terão morrido imediatamente.”

Imagens de cangurus e aves a fugir das chamas não são prova de que tenham sobrevivido. Com a extensão de área ardida, estes animais ficaram sem locais para escapar ou onde procurar alimento.

Este especialista explicou que os incêndios sempre foram uma parte da paisagem australiana mas, em circunstâncias normais, restavam extensas áreas intocadas, onde as espécies podiam sobreviver.

“Não há vencedores em fogos como estes”, comentou. “Estes fogos estão a homogeneizar a paisagem. Não beneficiam espécie nenhuma.”

Para John Woinarski, estes incêndios deitaram por terra décadas de trabalho de conservação na Austrália e são um sinal de um futuro negro. “Devido às alterações climáticas, os incêndios estão a tornar-se mais frequentes e mais severos. É um tempo muito triste para a conservação na Austrália.”

Na sua opinião, é muito provável que os fogos tenha causado algumas extinções, mas só haverá certezas depois de o Verão australiano terminar.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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