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Identificadas áreas chave para salvar animais das alterações climáticas

16.02.2018

Um estudo internacional, onde participaram dois investigadores portugueses, identificou as áreas onde animais ameaçados têm um maior potencial para se conseguirem adaptar às alterações climáticas.

 

O resultado da investigação – publicado ontem na revista Science e onde participaram os investigadores do CIBIO-InBIO e Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Paulo Célio Alves e José Melo-Ferreira -, mostrou de que forma a evolução, através de um processo chamado resgate evolutivo, poderia salvar oito espécies de animais que enfrentam alterações climáticas bruscas.

As espécies estudadas – lebres, doninhas e raposas do árctico – mudam a cor da pelagem no Inverno, de castanho para branco, para se camuflarem na neve. É uma forma de diminuírem a probabilidade de serem predadas. Mas não são as únicas no reino animal que têm esta estratégia. Ao todo, são conhecidas pelo menos 21 espécies que variam da cor castanha no Verão para branco no Inverno.

Acontece que, a cobertura de neve está a diminuir a uma escala global, com a chegada tardia dos Invernos e o degelo antecipado. Isto poderá ter impacto na sobrevivência destes animais. Por exemplo, estudos anteriores já mostraram que a mortalidade de lebres americanas brancas no Inverno em habitats sem neve era maior.

Mas há animais que já se estão a adaptar às alterações climáticas. “As doninhas do sul dos Estados Unidos e as lebres na Irlanda, por exemplo, evoluíram para manter a pelagem castanha todo o ano”, diz L. Scott Mills autor líder deste estudo, em comunicado. “Esta é uma adaptação genética para manter a camuflagem onde a neve é intermitente ou rara.” Os cientistas chamam a este processo resgate evolutivo, ou seja, mecanismos que atuam na diversidade genética e que permitem às populações persistirem sob condições ambientais adversas.

 

 

Neste estudo foram mapeadas áreas específicas da distribuição de oito espécies com capacidade para mudar de cor. Nestas áreas alguns indivíduos mantém a cor castanha no Inverno e coexistem com os que mudam para a cor branca.

Por isso estas áreas “têm o ingrediente especial para um rápido resgate evolutivo”, explica L. Scott Mills. “Como contêm indivíduos castanhos no Inverno que estão bem-adaptados a Invernos curtos, haverá uma tendência para que a evolução rápida ocorra no sentido de se ser castanho no Inverno em vez de branco, à medida que as alterações climáticas continuam.”

Segundo explica o co-autor do artigo e investigador do CIBIO-InBIO José Melo-Ferreira, “a variação genética é importante para promover uma adaptação rápida. Se algumas características que já existem nas espécies são favorecidas pela alteração do ambiente, tenderão a aumentar a sua frequência”.

 

Zonas a preservar

Os resultados deste estudo indicam que estas áreas distribuem-se por grande parte do hemisfério norte. Ainda assim, só 10% coincidem com áreas protegidas.

Estas áreas “deverão ser preservadas, uma vez que aí as populações têm maior probabilidade de se manterem perante as alterações climáticas, e mesmo de funcionarem como o reduto de novas populações”, refere Paulo Célio Alves.

“Ao mapear estes pontos de elevado potencial adaptativo identificamos áreas onde podemos promover o resgate evolutivo no curto prazo, tentando manter as populações naturais abundantes e conectadas”, reforça a investigadora Eugenia V. Bragina co-autora líder do artigo.

Os autores alertam ainda que estes locais, embora potenciem o resgate evolutivo, não são fortalezas mágicas indiferentes aos efeitos das alterações climáticas nos animais selvagens. Até porque, os efeitos das mudanças do clima poderão ultrapassar a capacidade adaptativa de muitas espécies.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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