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Fotógrafo português distinguido pelo Underwater Photographer of the Year

08.03.2019

 

O drama silencioso das raias-diabo ou jamantas, às mãos da sobre-pesca e da captura acidental, foi denunciado pela lente do fotógrafo português João Rodrigues, valendo-lhe a distinção dos prémios britânicos Underwater Photographer of the Year 2019.

 

“Killing angels” é o nome que João Rodrigues, 29 anos, deu à sua fotografia de uma raia-diabo (Mobula birostris), imagem que venceu o 2º lugar na categoria Conservação Marinha do Underwater Photographer of the Year 2019 (UPY2019). Os vencedores foram conhecidos a 24 de Fevereiro.

A fotografia mostra o momento em que um aldeão de Munca, porto piscatório na ilha indonésia de Java, retira as guelras a uma raia-diabo. Estas guelras serão exportadas para a China, para serem utilizadas em medicamentos da medicina tradicional chinesa.

“Todos os membros do júri consideraram esta como, provavelmente, a imagem mais perturbadora de todas, mas a sua mensagem deve ser levada ao maior número de pessoas possível”, comentou Peter Rowlands, um dos membros do júri, em comunicado.

A raia-diabo é uma espécie classificada como Vulnerável pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Estes fantásticos animais são conhecidos pelos seus saltos acrobáticos fora de água, que podem chegar a dois metros de altura.

“Escolhi este momento dramático, que invoca a exploração destes carismáticos animais, para chamar a atenção para a sua cruel realidade”, explicou João Rodrigues em comunicado.

 

 

A fotografia foi captada durante um trabalho do fotógrafo para a revista National Geographic Portugal. A expedição à Indonésia foi liderada por um biólogo marinho da Universidade dos Açores que estava a estudar a biologia sensorial das raias, com o objectivo de desenvolver novos métodos para reduzir as capturas acidentais destes animais nas redes de pesca.

“Sem esforços de conservação, estes peixes – que nadam nas águas como anjos -, podem rapidamente ficar ameaçados por causa da sobre-pesca”, comentou João Rodrigues.

Para dificultar, esta espécie demora vários anos até atingir a maturidade sexual e normalmente dá à luz apenas uma cria de cada vez, depois de um longo período de gestação.

A categoria Conservação Marinha, uma das 13 a concurso, teve como primeiro vencedor o espanhol Eduardo Acevedo, de Tenerife. A sua fotografia mostra uma tartaruga-comum (Caretta caretta) enredada numa rede de pesca abandonada em Los Gigantes, Tenerife.

 

 

“As tartarugas chegam às ilhas Canárias, depois de atravessarem o oceano Atlântico desde as Caraíbas, e têm de evitar muitos perigos de origem humana, como plásticos, cordas e redes de pesca”, comentou Eduardo Acevedo. “Esta tartaruga foi uma das sortudas porque conseguimos libertá-la.”

O UPY é uma competição anual, com sede no Reino Unido, que procura celebrar a fotografia subaquática nos oceanos, lagos e até em piscinas. O fotógrafo britânico Phil Smith foi o primeiro Fotógrafo Subaquático do Ano, em 1965. Hoje, com 13 categorias, o concurso recebeu cerca de 5.000 fotografias captadas por fotógrafos de 65 países. O júri deste ano foi composto pelos fotógrafos Peter Rowlands, Martin Edge e Alex Mustard.

Aqui ficam os vencedores em cada uma das 13 categorias:

 

Underwater Photographer of the Year e British Underwater Photographer of the Year:

 

“The Gauntlet”, de Richard Barnden

 

Wide angle:

 

“Gentle Giants”, de François Baelen

 

Macro:

 

“Fast cuttlefish”, de Fabio Iardino

 

Wrecks:

 

“Big Guns”, de René B. Andersen

 

Behaviour:

 

“The Gauntlet”, de Richard Barnden

 

Portrait:

 

“Fly high and smile”, de Nicholas Samaras

 

Black & White:

 

“Between Two Worlds”, de Henley Spiers

 

Compact:

 

“Hairy in the Sunrise”, de Enrico Somogyi

 

Up & Coming Photographer of the Year:

 

“Paradise”, de Taeyup Kim, captada na Polinésia Francesa

 

British Waters Wide Angle:

 

“Off the wall”, de Robert Bailey

 

British Waters Macro:

 

“Beauty in the Mud”, de Arthur Kingdon

 

British Waters Living Together:

 

“Morning Tide Mackerel”, de Victoria Walker

 

British Waters Compact:

 

“Playtime?”, de Martin Edser

 

Marine Conservation:

 

“Caretta caretta turtle”, de Eduardo Acevedo

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Recorde as histórias contadas por Nuno Sá, que foi o grande vencedor da competição em 2015.

Saiba quem é João Rodrigues e o que está a fazer pelos oceanos, na nossa conversa que publicámos em Fevereiro.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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