O drama silencioso das raias-diabo ou jamantas, às mãos da sobre-pesca e da captura acidental, foi denunciado pela lente do fotógrafo português João Rodrigues, valendo-lhe a distinção dos prémios britânicos Underwater Photographer of the Year 2019.
“Killing angels” é o nome que João Rodrigues, 29 anos, deu à sua fotografia de uma raia-diabo (Mobula birostris), imagem que venceu o 2º lugar na categoria Conservação Marinha do Underwater Photographer of the Year 2019 (UPY2019). Os vencedores foram conhecidos a 24 de Fevereiro.
A fotografia mostra o momento em que um aldeão de Munca, porto piscatório na ilha indonésia de Java, retira as guelras a uma raia-diabo. Estas guelras serão exportadas para a China, para serem utilizadas em medicamentos da medicina tradicional chinesa.
“Todos os membros do júri consideraram esta como, provavelmente, a imagem mais perturbadora de todas, mas a sua mensagem deve ser levada ao maior número de pessoas possível”, comentou Peter Rowlands, um dos membros do júri, em comunicado.
A raia-diabo é uma espécie classificada como Vulnerável pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Estes fantásticos animais são conhecidos pelos seus saltos acrobáticos fora de água, que podem chegar a dois metros de altura.
“Escolhi este momento dramático, que invoca a exploração destes carismáticos animais, para chamar a atenção para a sua cruel realidade”, explicou João Rodrigues em comunicado.
A fotografia foi captada durante um trabalho do fotógrafo para a revista National Geographic Portugal. A expedição à Indonésia foi liderada por um biólogo marinho da Universidade dos Açores que estava a estudar a biologia sensorial das raias, com o objectivo de desenvolver novos métodos para reduzir as capturas acidentais destes animais nas redes de pesca.
“Sem esforços de conservação, estes peixes – que nadam nas águas como anjos -, podem rapidamente ficar ameaçados por causa da sobre-pesca”, comentou João Rodrigues.
Para dificultar, esta espécie demora vários anos até atingir a maturidade sexual e normalmente dá à luz apenas uma cria de cada vez, depois de um longo período de gestação.
A categoria Conservação Marinha, uma das 13 a concurso, teve como primeiro vencedor o espanhol Eduardo Acevedo, de Tenerife. A sua fotografia mostra uma tartaruga-comum (Caretta caretta) enredada numa rede de pesca abandonada em Los Gigantes, Tenerife.
“As tartarugas chegam às ilhas Canárias, depois de atravessarem o oceano Atlântico desde as Caraíbas, e têm de evitar muitos perigos de origem humana, como plásticos, cordas e redes de pesca”, comentou Eduardo Acevedo. “Esta tartaruga foi uma das sortudas porque conseguimos libertá-la.”
O UPY é uma competição anual, com sede no Reino Unido, que procura celebrar a fotografia subaquática nos oceanos, lagos e até em piscinas. O fotógrafo britânico Phil Smith foi o primeiro Fotógrafo Subaquático do Ano, em 1965. Hoje, com 13 categorias, o concurso recebeu cerca de 5.000 fotografias captadas por fotógrafos de 65 países. O júri deste ano foi composto pelos fotógrafos Peter Rowlands, Martin Edge e Alex Mustard.
Aqui ficam os vencedores em cada uma das 13 categorias:
Underwater Photographer of the Year e British Underwater Photographer of the Year:
Wide angle:
Macro:
Wrecks:
Behaviour:
Portrait:
Black & White:
Compact:
Up & Coming Photographer of the Year:
British Waters Wide Angle:
British Waters Macro:
British Waters Living Together:
British Waters Compact:
Marine Conservation:
[divider type=”thick”]Saiba mais.
Recorde as histórias contadas por Nuno Sá, que foi o grande vencedor da competição em 2015.
Saiba quem é João Rodrigues e o que está a fazer pelos oceanos, na nossa conversa que publicámos em Fevereiro.