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Fangueiro. Foto: Vulture Conservation Foundation

Fangueiro está a ser (mais uma vez) uma “caixinha de surpresas” para quem o segue ao longe

08.01.2021

Este jovem abutre-do-Egipto, que foi equipado com um emissor GPS em Julho passado, no Douro Internacional, continua a desafiar o que é esperado destas aves migradoras. Saiba porquê.

Fangueiro voltou a agir de forma diferente de outras aves da sua espécie, contrariando o que é esperado dos abutres-do-Egipto, anunciou esta sexta-feira a Vulture Conservation Foundation (VCF), numa nota de imprensa enviada à Wilder.

Ao contrário de outros juvenis desta espécie de aves migradoras, que permanecem em África mais do que um ano na primeira vez que para lá voam, Fangueiro regressou apenas dois meses depois de deixar a Península Ibérica, atravessando de regresso o Estreito de Gibraltar a 30 de Dezembro, ainda antes da passagem do ano.

“O regresso de Fangueiro à Europa nesta altura é muito invulgar. Os jovens abutres-do-Egipto normalmente ficam em África pelo menos durante 18 meses (muitas vezes mais) antes de regressarem às áreas de origem na Europa pela Primavera, e começarem o seu ciclo anual de migração para África no Outono e de volta à Europa na Primavera“, nota a VCF.

Esta ave teve um início de vida desde logo atribulado. Foi detectado no Outono de 2019 muito fraco e debilitado na zona de Fão, em Braga, e o alerta foi lançado pelo fotógrafo de natureza Carlos Rio – que o baptizou e há uns meses relatou essa parte da história à Wilder.

Fangueiro numa altura em que ainda não tinha sido resgatado, em 2019. Foto: Rui Soares

Depois de resgatado com ajuda do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), passou quase um ano num centro de recuperação de animais selvagens onde detectaram que tinha passado muita fome no ninho. Ali, foi operado várias vezes e recebeu um transplante de penas.

Finalmente recuperado, Fangueiro foi devolvido à natureza em Julho passado na área do Douro Internacional, onde se situa o principal núcleo reprodutor da espécie em Portugal. Na altura foi equipado com um emissor GPS – no âmbito do projecto LIFE Rupis – o que permite que continue agora a ser seguido de longe e a surpreender.

Foto: Vulture Conservation Foundation

Todo este processo de recuperação e monitorização só foi possível, nota a VCF, graças ao esforço conjunto de várias entidades: ICNF, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, centro de reabilitação CIARA, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e a própria fundação com sede na Suíça.

Uma partida tardia

A equipa do projecto, que o segue atentamente para ver como se está a adaptar à natureza, detectou que Fangueiro passou os meses de Verão a explorar a região junto ao Douro, em especial do lado espanhol, “adaptando-se muito bem ao ambiente natural e desenvolvendo com eficácia as capacidades para se alimentar”.

Os abutres-do-Egipto (Neophron percnopterus), também chamados de britangos, são aves necrófagas, pelo que têm um papel importante para a manutenção da saúde dos ecossistemas.

No final de Outubro passado, numa altura em que os abutres-do-Egipto já costumam estar todos em território africano, Fangueiro voltou a surpreender. Voou desde a zona do Douro Internacional até Tarifa, no sul de Espanha, onde “muitas aves migradoras da Europa Ocidental se juntam antes de atravessarem o mar com destino a África”. Depois, atravessou o Estreito de Gibraltar em apenas 20 minutos.

Fangueiro. Foto: Vulture Conservation Foundation

Em África a jovem ave seguiu por uma rota diferente da mais comum para as da sua espécie. Nunca chegou a estabelecer-se num território, estando quase sempre em movimento, sempre seguida por GPS com atenção. Finalmente, regressou à Península Ibérica antes do habitual para estas aves – e bastante mais cedo do que acontece com os juvenis.

E agora, Fangueiro?

Os abutres-do-Egipto costumam atingir a maturidade sexual com cinco ou seis anos de vida. É então que se estabelecem num território e encontram o par com o qual voltarão a reunir-se todas as Primaveras sempre que possível.

No caso de Fangueiro, ainda é muito cedo para saber como será essa fase de vida. Por enquanto, a equipa do projecto está muito curiosa quanto ao que “esta ave incrível vai fazer a seguir”.

Uma possibilidade ainda por confirmar é que se junte à maior população de abutres-do-Egipto que invernam na Península Ibérica, situada na região espanhola da Extremadura, admitem.


Saiba mais.

Para seguir os movimentos de Fangueiro e de outros abutres-do-Egipto que têm emissor GPS pode espreitar aqui.

Para conhecer melhor os abutres-do-Egipto pode ler também este artigo da Wilder, sobre a escolha desta espécie como Ave do Ano em Portugal em 2016.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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