Documentos preparatórios a que o jornal britânico The Guardian teve acesso revelam que a Comissão Europeia quer proibir os insecticidas que causam “riscos severos às abelhas”.
Depois de em 2013 a União Europeia ter imposto uma moratória temporária à utilização de três neonicotinóides em algumas culturas, agora há indicações de que este ano poderá avançar para uma moratória total, segundo uma notícia do jornal The Guardian publicada ontem. As propostas que estarão a ser preparadas por Bruxelas baseiam-se na avaliação de risco sobre pesticidas publicada no ano passado pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar.
Os neonicotinóides são insecticidas de largo espectro, introduzidos nos anos 90 e hoje comercializados em mais de 120 países, e que têm como alvo insectos considerados pragas pelos agricultores. Nos últimos anos, vários estudos científicos têm demonstrado os impactos nocivos destes insecticidas em polinizadores como as abelhas.
“A quantidade de evidências científicas sobre a toxicidade destes insecticidas é tão elevada que de forma alguma estes químicos deviam permanecer no mercado”, disse Martin Dermine, da Pesticide Action Network, entidade que obteve as propostas da Comissão Europeia e as mostrou ao The Guardian.
Segundo este jornal, a moratória terá apenas como excepção a utilização destes insecticidas em culturas totalmente produzidas em estufas.
As propostas de Bruxelas poderão ser votadas em Maio e, se aprovadas por uma maioria de Estados membros da União Europeia, entrar em vigor ainda este ano. “A PAN Europe vai lutar com os seus parceiros para conseguir o apoio da maioria dos países”, acrescentou ao The Guardian.
Contudo, Sarah Mukherjee, directora-executiva da Associação para a Protecção das Culturas, que representa os fabricantes de pesticidas, diz estar “decepcionada com esta proposta (da Comissão Europeia), que se assemelha mais a uma consideração política do que a ciência pura”.
A 8 de Março, peritos da ONU divulgaram um relatório altamente crítico aos pesticidas, defendendo ser um mito que são necessários para alimentar o mundo. O documento afirma que os pesticidas têm “impactos catastróficos no ambiente, na saúde humana e na sociedade como um todo”. Os autores consideram que chegou o momento de “criar um processo global de transição para uma produção de alimentos mais segura e saudável”.