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Ilustração: Palaeontological Artist & Avian Palaeontologist Julian P. Hume

Estudo revela que humanos já causaram a extinção a 600 espécies de aves

07.10.2024

A extinção de centenas de espécies de aves causada pelos humanos nos últimos 130 mil anos originou “reduções substanciais na diversidade funcional” das aves, alerta novo estudo.

Segundo um novo estudo publicado na revista Science a 1 de Outubro, a actividade humana causou a perda de diversidade funcional da avifauna – uma medida dos diferentes papeis e funções que as aves têm no ambiente – e resultou na perda de cerca de três mil milhões de anos de história evolutiva única.

Ao longo de milénios, os humanos têm vindo a causar uma erosão global da riqueza de espécies. Mas ainda pouco se sabe sobre quais as consequências das extinções passadas na biodiversidade.

Ilustração: Palaeontological Artist & Avian Palaeontologist Julian P. Hume

Uma nova investigação coordenada pela Universidade de Birmingham, no Reino Unido, revela agora as “graves consequências da crise da biodiversidade e da necessidade urgente em identificar as funções ecológicas que se perderam através das extinções”, segundo um comunicado daquela universidade.

Desde o Dodo (Raphus cucullatus) até à coruja oo-de-kauai (Moho braccatus), declarada extinta em 2023, os cientistas têm provas de que, pelo menos, 600 espécies de aves se extinguiram como resultado das actividades dos humanos desde o final do Pleistoceno, quando os humanos se começaram a espalhar pelo mundo.

“As conclusões a que chegámos salientam a necessidade urgente de compreender e de prever os impactos das extinções passadas na função dos ecossistemas, para nos podermos preparar para a magnitude das perdas futuras previstas”, comentou, em comunicado, Tom Matthews, principal autor do estudo e investigador da Universidade de Birmingham. 

Os autores avançam que nos próximos 200 anos deverão extinguir-se mil espécies de aves.

“O número de espécies de aves que se extinguiram é, claro, uma grande parte da crise de extinções mas também nos precisamos de focar na ideia de que cada espécie tem um papel ou uma função a desempenhar no ambiente onde vive e, por isso, tem um papel mesmo importante no seu ecossistema”, explicou o investigador.

Tom Matthews exemplificou que algumas aves controlam pragas ao alimenta-se de insectos, as aves necrófagas reciclam matéria morta, outras comem frutos e dispersam as sementes e permitem assim a mais plantas e árvores crescer e algumas, como os colibris, são polinizadores muito importantes. “Quando estas espécies desaparecem, o importante trabalho que fazem desaparece com elas.”

Além destas funções, cada espécie também carrega uma história evolutiva. “Quando essa espécie se extingue, é como se cortássemos um tronco da árvore da vida e toda a diversidade filogenética associada se perde também”, acrescentou.

Os investigadores descobriram que a escala das extinções das aves causadas pelos humanos até aos nossos dias resultou numa perda de aproximadamente três mil milhões de anos de uma história evolutiva única e de 7% das funções que as aves desempenham – uma percentagem significativamente maior do que o esperado, com base no número de extinções.

As consequências destas extinções têm como efeitos, por exemplo, a redução da polinização das flores e da dispersão de sementes, a quebra do controlo de populações de insectos e o aumento de surtos de doenças por causa da redução do consumo de animais mortos.

“A actual crise de extinções não tem apenas a ver com o número de espécies”, salientou Tom Matthews. “Ao identificar declínios na diversidade funcional e filogenética causados pelos humanos, o nosso estudo (…) ajuda com informação vital a definir metas mais eficazes nas estratégias mundiais de conservação, de restauro de ecossistemas e de rewilding.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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