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Estas são algumas das 102 novas plantas descobertas em 2019

17.12.2019

Ao longo do último ano, cientistas de entidades parceiras dos Kew Gardens publicaram a descoberta de 102 espécies de plantas vasculares e oito espécies de fungos, por todo o mundo.

Quase metade destas espécies, todas elas novas para a Ciência, dizem respeito ao continente africano e estão ligadas ao programa ‘Tropical Important Plant Areas‘ (Áreas Importantes para as Plantas Tropicais, em português).

Os investigadores alertam que muitas destas espécies agora descobertas estão já ameaçadas de extinção. “Há ameaças crescentes para o seu habitat natural, desde a conversão de terras para a agricultura até às barragens hidroeléctricas, pedreiras, corte de árvores para produção de carvão e madeira, fogos e alterações climáticas”, avisam em comunicado os Kew Gardens, conhecidos também como os Reais Jardins Botânicos de Kew, situados em Londres.

“Descobrir e descrever novas espécies é verdadeiramente excitante e um esforço científico vital para podermos proteger melhor novas espécies antes que fiquem extintas”, comentou Martin Cheek, cientista sénior e botânico ligado aos Kew Gardens.

Conheça algumas das novas espécies de plantas descobertas por todo o mundo, entre aquelas que foram agora destacadas:

1. Nova baga-milagre na fronteira entre Moçambique e o Zimbabwe

Synsepalum chimanimani. Foto: Bart Wursten

A Synsepalum chimanimani foi encontrada nas florestas tropicais das planícies das Montanhas Chimanimani, numa zona de fronteira entre Moçambique e o Zimbabwe. Esta pequena árvore com quatro metros faz parte de um grupo de menos de 40 espécies que produzem “bagas milagrosas”: levemente doces, contêm miraculina, um composto que bloqueia o paladar. Quando se comem estas bagas, alimentos azedos adquirem um sabor doce. A nova planta foi classificada como Em Perigo, pois só foi observada em três localizações, todas elas ameaçadas pela desflorestação para plantação de culturas.

2. Espécie de acanto redescoberta em Angola, 160 anos depois

Barleria deserticola. Foto: Erin Tripp

A família dos acantos, as Acanthaceae, ganhou neste último ano 10 novas espécies, todas descobertas na África Tropical. Duas têm flores azuis especialmente vistosas e foram encontradas em Angola: a Barleria deserticola e a Barleria namba. A primeira tinha sido recolhida pela primeira vez no deserto do Namib, há 160 anos, mas foi reencontrada só em 2017 pelo cientista americano Erin Tripp, o que permitiu que finalmente ganhasse um nome.

3. Nova violeta africana tem flores da cor dos rebuçados

Cyrtandra vittata. Foto: Lynsey Wilson, Royal Botanic Gardens, Edimburgo

As pétalas riscadas e em tons de rosa vivo a fazerem lembrar rebuçados dão nas vistas na Cyrtandra vittata, uma espécie da família das violetas africanas, encontrada no Norte da Nova Guiné, uma ilha do Oceano Pacífico. Este arbusto cresce em florestas tropicais. Dá bagas brancas, que se acredita que são dispersas por rolas e pombos.

4. Planta de flores laranjas foi baptizada por amor

Gladiolus mariae em flor. Foto: RBG Kew

Na Guiné, numa montanha da região de Kounounkan, o cientista Xander van der Burgt, dos Kew Gardens, encontrou uma planta de vistosas flores laranjas. Baptizou-a com o nome científico Gladiolus mariae em honra da mulher, Maria. A nova espécie parece estar restrita a duas montanhas nesta região, as últimas que não foram ainda afectadas pela actividade humana. Esta espécie gosta de habitats livres de fogo.

5. Só há sete árvores como esta em todo o mundo

Zonozono. Foto: Andrew R Marshall

A espécie mais rara descrita num artigo científico em 2019 talvez seja a árvore Zonozono, com 20 metros de altura, da família das ylang-ylang. Por todo o mundo restam apenas sete exemplares desta árvore, encontrada nas montanhas Usambara, na Tanzânia. Está classificada como Em Perigo de extinção.

6. Esta flor foi descoberta graças ao Facebook

Galanthus bursanus. Foto: D. Zubov

Mal sabia o pediatra turco Y Konca que as fotografias das férias passadas na região Noroeste do país iriam permitir a descoberta de uma nova espécie de planta do mesmo género científico das delicadas campanhias-de-Inverno (Galanthus nivalis). Mas foi isso que aconteceu. As imagens foram vistas por Dimitri Zubov, especialista ucraniano neste género de plantas, que reparou que tinham algo de diferente. A nova espécie foi confirmada mais tarde com a ajuda de um especialista dos Kew Gardens. Hoje, a Galanthus bursanus está Criticamente Em Perigo. Ameaças? Apanha ilegal, alterações climáticas, expansão das áreas de cultivo e extracção de mármore.

7. Fungo era usado na medicina tradicional chinesa há 400 anos

Rubroshiraia. Foto: Cici Dong-Qin Dai

Este ano, um fungo conhecido na China há mais de 400 anos, e usado para fins medicinais é, afinal, um género e uma espécie até agora desconhecidos para a Ciência. Foi agora, formalmente, chamado Rubroshiraia bambusae. O novo género é nativo de Yunnan, no Sudoeste da China, onde cresce numa espécie de bambu, formando uns frutos esféricos e de cor rosa.

8. Nova “orquídea” descoberta numa queda-de-água

Inversodicraea koukoutamba. Foto: RBG Kew

Inversodicraea koukoutamba foi descoberta numa queda-de-água no rio Bafing, na Guiné. Não foi encontrada em mais lugar nenhum. A nova espécie, identificada como sendo da família conhecida como “orquídeas das quedas-de-água” pode crescer até aos 20 centímetros de altura. Os botânicos de Kew acreditam que esta espécie se irá extinguir mundialmente quando arrancar a construção de uma barragem na região, já em 2020. Outras espécies desta família já desapareceram em outras partes de África, por causa dos empreendimentos hidroeléctricos.

9. Onze novas árvores e arbustos descobertos nas florestas dos Andes

Freziera croatii. Foto: JP Janovec

Onze novas espécies de árvores e arbustos foram descobertas para a Ciência este ano nas florestas dos Andes, na América do Sul. Todas as 11 espécies pertencem ao género Freziera. Várias das espécies estão restritas a áreas relativamente pequenas das florestas nebulosas da Bolívia, Equador e Peru. Todas as 11 foram avaliadas como ameaçadas de extinção, principalmente por causa da sua raridade e destruição do habitat.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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