Uma equipa de investigadores estudou o ADN de 64 esponjas marinhas de três espécies e encontrou fragmentos de ADN de outras espécies com as quais convivem, desde peixes a baleias.
Descobrir a diversidade de espécies que habitam no planeta é uma tarefa complexa quando falamos de terra firme. Mas nas profundidades marinhas, é ainda mais difícil.
A investigação desenvolvida pelo Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid (MNCN-CSIC), pelo Museu de História Natural de Londres (NHM) e pela Universidade John Moores, de Liverpool, permitiu descobrir a variedade de espécies de peixes presentes no Atlântico Norte e no Árctico, através da análise do ADN obtido a partir dos tecidos das esponjas marinhas.
As esponjas marinhas passam a maior parte da sua vida fixadas nas rochas, filtrando activamente enormes quantidades de água que passa através dos seus tecidos porosos. Neste processo, além de obterem nutrientes e eliminarem resíduos, os tecidos das esponjas acumulam fragmentos de ADN que libertam as espécies de peixes que partilham as águas onde se encontram.
“O que fizemos foi analisar o ADN armazenado em 64 esponjas que recolhemos no Atlântico Norte e no Ártico e que posteriormente depositámos nas coleções do MNCN e do NHM”, explica, em comunicado, a investigadora do MNCN, Ana Riesgo.
A equipa, que publicou a 30 de Agosto o estudo na revista Proceedings of the Royal Society B, trabalhou com três espécies de esponjas diferentes (Geodia barretti, Geodia hentscheli e Phakellia ventilabrum) que lhes permitiram reconstruir as comunidades de peixes que viveram em redor dos espécimes.
“A presença de espécies de peixes de águas frias como a faneca de Noruega (Trisopterus esmarkii) ou o Bathylagus euryops, que actuam como indicadores, permite diferenciar as comunidades em função da sua profundidade e latitude, nas regiões biogeográficas do Atlântico Norte e no Ártico, numa área de amostragem que vai desde as costas do Canadá às ilhas Svalbard”, acrescenta a investigadora da Universidad John Moores, Erika Neave.
Entre o material genético acumulado nos tecidos dos 64 espécimes também foi sequenciado ADN de baleias, tubarões e raias.
“Dizem que sabemos mais sobre a superfície da Lua do que sobre os fundos oceânicos. Não sei até que ponto essa afirmação é correcta. Aquilo que sei é que esta forma de nos aproximarmos da biodiversidade marinha pode ajudar-nos muito a desvendar os mistérios dos fundos marinhos sem ter que investir demasiados recursos”, comentou ainda Riesgo.