O lagarto Panaspis namibiana, com olhos que fazem lembrar os de uma serpente, acaba de ser descrito como nova espécie pela equipa do investigador português Luís Ceríaco. A Namíbia ganhou uma nova espécie.
Durante muito tempo estes pequenos lagartos foram confundidos com outra espécie, a Panaspis maculicollis. Na verdade, apesar de a Namíbia ser um local de grande diversidade de espécies de répteis e anfíbios, ainda se sabe pouco sobre estes animais.
Foi por isso que Luís Ceríaco, investigador do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, começou a tarefa de digitalizar todos os dados sobre a biodiversidade de répteis e anfíbios de Angola e da Namíbia, países vizinhos no Sul do continente africano, existentes em museus de História Natural na Europa, África e Estados Unidos.
No âmbito desse trabalho, a equipa deste investigador começou a olhar para o pequeno lagarto com mais atenção. O fruto do seu trabalho acaba de ser publicado na revista científica Zootaxa, artigo que descreve a Panaspis namibiana como uma nova espécie para a Ciência. Em português terá o nome de lagartixa-olhos-de-serpente-da-Namíbia, por causa da sua pálpebra não amovível, o que lhe dá o aspecto de olho de serpente.
Este é um pequeno réptil, com um comprimento de entre cinco e sete centímetros. “Com a informação que dispomos no momento, acreditamos que apenas exista na Namíbia”, disse hoje à Wilder Luís Ceríaco, curador-chefe do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto e curador-convidado da colecção de répteis e anfíbios do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa.
Segundo os investigadores, esta espécie tem uma vasta distribuição geográfica nas regiões Noroeste e Centro da Namíbia.
Pertence a um género de lagartos muito mais diverso do que se pensava até há pouco tempo.
Para resolver o enigma que deu origem à descrição da nova espécie, os investigadores exploraram minuciosamente mais de 20 exemplares destes lagartos, guardados em museus de todo o mundo.
A descrição desta nova espécie, um trabalho que se estendeu de 2016 a 2018 com base em exemplares guardados nos museus, “reforça a ideia de que a Namíbia e o Sul de Angola são áreas de extremo interesse para a herpetofauna”, explicou Luís Ceríaco à Wilder. “E apesar de ter muitas espécies, ainda terá mais do que aquelas que são conhecidas.”
Além disso, acrescentou, o trabalho demonstra que “alguns grupos de animais são ainda mais diversos do que aquilo que pensávamos, o que só põe a nu a quantidade de trabalho que ainda é preciso fazer para catalogar a biodiversidade”.
O investigador salientou ainda que “a descrição desta nova espécie só foi possível pela existência de exemplares em museus de História Natural, o que atesta a importância que este tipo de colecções, tantas vezes esquecidas, tem para o estudo e conservação da biodiversidade e para novas descobertas científicas”.
Neste momento, a equipa de Luís Ceríaco continua a missão de descrever novas espécies de répteis e anfíbios africanos, com trabalhos a decorrer em Angola, São Tomé, Namíbia e República Democrática do Congo.
Isto porque dar um nome a uma espécie é importante “para que esta possa entrar no ‘discurso’ oficial entre cientistas, agências de conservação, autoridades nacionais e internacionais, entre outras entidades e agentes”, explicou o investigador num comunicado de imprensa. Além disso, “sem nomes não há conservação”, uma vez que todos os documentos e diplomas legais precisam de se referir à espécie de forma clara.
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