Em Lousada há mega-colónias de andorinhas-das-barreiras

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Este ano, a mais pequena das cinco espécies de andorinhas de Portugal construiu várias mega-colónias no município de Lousada. Centenas de aves estão a nidificar naquele “santuário” para andorinhas-das-barreiras.

A pequena andorinha-das-barreiras (Riparia riparia) é a única andorinha de Portugal que escava os seus ninhos em vez de os construir. Esses abrigos são escavados tipicamente em taludes verticais arenosos ou barrentos, explica a autarquia num comunicado enviado à Wilder.

Andorinha-das-barreiras. Foto: Ken Billington/WikiCommons

Esta Primavera, a região de Lousada alberga várias grandes colónias de andorinha-das-barreiras, uma delas com mais de 400 ninhos. “Temos registos de quatro mega-colónias e outras mais pequenas, dispersas por todo o concelho”, explicou Milene Matos, do Sector de Conservação da Natureza e Educação Ambiental da Câmara Municipal de Lousada. “A maior de todas, com 400 ninhos, fica na Paisagem Protegida Local do Sousa Superior, mas não podemos divulgar exatamente onde, para proteção das aves.”

Uma das colónias de andorinhas-das-barreiras em Lousada. Foto: Município de Lousada

A Paisagem Protegida Local do Sousa Superior, a mais recente área protegida de Portugal, tem 1.609 hectares, genericamente correspondendo ao vale do rio Sousa e os seus nove tributários, abrangendo administrativamente oito freguesias cuja biodiversidade é agora monitorizada de muito perto.

“Uma destas mega-colónias de 400 ‘buracos’ tem certamente 800 aves adultas (400 casais), mais as crias que nascerem. Se um casal criar um mínimo de quatro crias, falamos de aproximadamente 2.400 aves numa colónia. Mas podem ser mais. Face às pressões que estas aves sentem, é um excelente contributo para a sua conservação”, salientou Milene Matos.

As andorinhas escavam estas colónias “em taludes ou áreas declivosas que resultam da mobilização de terras, geralmente para construção de estruturas humanas ou instalação de vinha”, explicou ainda. “É um dos raros casos em que a vida selvagem beneficia das atividades humanas.”

Uma das colónias de andorinhas-das-barreiras em Lousada. Foto: Município de Lousada

A andorinha-das-barreiras está em Portugal entre Março e Setembro e é uma espécie migratória protegida por lei. Todos os anos voa milhares de quilómetros entre o nosso país e o continente africano, onde costuma passar o Inverno.

Alimenta-se de insetos que caça sobretudo sobre linhas de água, o que faz desta ave um importante aliado no controlo de pragas. O reverso da medalha é que é particularmente sensível ao uso de pesticidas e agroquímicos.

Proteger e cuidar deste “santuário” para andorinhas-das-barreiras

Lousada tem populações reprodutoras bem estabelecidas das cinco espécies de andorinhas que se reproduzem em Portugal, embora com diferentes graus de sucesso ecológico, muito por causa das pressões humanas. Há espécies mais sensíveis do que outras.

Há vários anos que o projeto local de ciência-cidadã CASA NINHO apela à população para comunicar locais de nidificação de espécies emblemáticas como a coruja-das-torres, o mocho-galego, os andorinhões e as várias andorinhas.

“Os ninhos identificados são monitorizados pelos biólogos da equipa Lousada Ambiente (Setor da Conservação da Natureza e Educação Ambiental), que garantem a sua salvaguarda e a sensibilização da população.”

Uma das colónias de andorinhas-das-barreiras em Lousada. Foto: Município de Lousada

Esta intervenção surge no âmbito da Estratégia Municipal de Sustentabilidade, no terreno desde 2015. Uma das suas prioridades é o restauro ecológico, a funcionalidade dos ecossistemas e a proteção da biodiversidade.

Desde então já foram plantadas 72.000 árvores e foi aprovado o Regulamento Municipal de Gestão de Arvoredo e dos Espaços Naturais, que protege todas as árvores de grande porte e todas as manchas de vegetação com relevante valor de conservação.

Além disso foram criadas várias áreas de conservação, através da Paisagem Protegida Local do Sousa Superior e da Rede Municipal de Micro-Reservas que, no seu conjunto, cobrem cerca de 20% da área concelhia.

A missão de proteger a natureza conta com mais de 7.500 voluntários em Lousada.

Segundo Milene Matos, todos podem ajudar a natureza e conhecê-la melhor, mais concretamente as andorinhas. Este mês realizou-se um passeio BioLousada, dedicado ao conhecimento e proteção destas aves.

A responsável deixou um pedido. “Tal como previsto na lei, as pessoas não podem perturbar as aves, os seus ovos ou ninhos, devendo especial cautela ser tomada durante o período reprodutivo. Em alguma situação de conflito ou incompatibilização, devem contactar a autarquia, através do projeto CASA-NINHO, para que procuremos soluções que garantam a proteção das espécies e a harmonização com as atividades humanas.”

“As andorinhas são vorazes predadoras de insetos, portanto têm o importantíssimo papel ecológico de controlar pragas que poderão causar prejuízos na agricultura, florestas e saúde pública. São, basicamente, inseticidas naturais de uma importância fundamental para todos.”


Saiba mais.

Fique a conhecer as espécies de andorinhas de Portugal, com a ajuda do ilustrador naturalista Marco Nunes Correia.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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