Um britango (Neophron percnopterus), também chamado abutre-do-egipto, com três anos de idade foi capturado, marcado com um emissor e libertado na passada semana no Parque Natural de los Arribes del Duero (Zamora, Espanha). O objectivo é sabermos os movimentos migratórios desta espécie, escolhida como a ave do ano 2016 em Portugal.
A ave, baptizada de Rupis, foi capturada pelos parceiros espanhóis do projeto LIFE Rupis – Conservação do britango e da águia-perdigueira no vale do rio Douro (2015-2019), uma iniciativa de conservação transfronteiriça que decorre nas áreas protegidas do Douro Internacional e Vale do Rio Águeda e dos Arribes del Duero. Este projecto pretende reforçar as populações de britango e de águia-perdigueira (Aquila fasciata) na região.
Segundo um comunicado da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea), divulgado ontem, “a ave foi marcada com um emissor GPS/GSM/UHF que nos permite seguir o seu percurso diariamente durante mais de dois anos”. Pode seguir os movimentos do Rupis online.
Esta semana uma outra equipa do projeto está no terreno, em Figueira de Castelo Rodrigo, a tentar capturar mais britangos para o mesmo fim, ou seja, investigar os hábitos migratórios e as áreas de dispersão destas aves. Esta foi a primeira vez que britangos foram marcados com emissores de satélite em Portugal.
No âmbito do LIFE Rupis, lançado em Julho de 2015, será criada uma rede de campos de alimentação para aves necrófagas e serão geridos mais de 1.000 hectares de habitats importantes para as espécies alvo do projecto.
O projecto quer combater o uso ilegal de venenos com equipas da GNR que recorrem a cães treinados e corrigir linhas eléctricas para evitar a electrocussão e colisões das aves. Os conservacionistas vão também elaborar um plano de ação transfronteiriço para a conservação do britango.
Coordenado pela Spea, o projecto tem mais oito parceiros, a Associação Transumância e Natureza, a Palombar, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, a Junta de Castilla y León, a Fundación Patrimonio Natural de Castilla y León, a Vulture Conservation Foundation, a EDP Distribuição e a Guarda Nacional Republicana.
Estima-se que no Douro de Portugal e em Espanha se encontre uma das mais importantes populações da Península Ibérica de britango, com 116 casais. No mesmo território, existem 13 casais de águia-perdigueira.
[divider type=”thick”]Agora é a sua vez. Participe na construção do campo de alimentação de aves necrófagas em Lamoso.
[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o britango.
Este é o mais pequeno dos abutres ibéricos. Tem até 65 centímetros de comprimento e uma envergadura de asa de entre 1,55 e 1,70 centímetros. Pode pesar até cerca de dois quilos. A sua plumagem é essencialmente branca e preta; tem face amarela e cauda longa.
O britango alimenta-se de carcaças de outras aves e mamíferos e de fruta e vegetais já em estado de decomposição. Por vezes, pode caçar animais debilitados. Por dia, este abutre pode viajar 80 quilómetros em procura de alimento. Segundo a Spea, esta é uma das aves mais “inteligentes”. Por exemplo, consegue usar pedras para partir ovos de avestruz para se alimentar, quando está em África.
Em Portugal, esta ave pode ser vista a partir de finais de Fevereiro, permanecendo nas zonas de nidificação de Março a Setembro. Durante o Outono migra para Sul, passando o Inverno na África sub-saariana. Nidifica em buracos e plataformas rochosas.
Em Portugal e Espanha, o britango e a águia-de-Bonelli são duas espécies em perigo de extinção. O britango está classificado como “Em Perigo”. As populações desta espécie reduziram-se a metade nos últimos 40 anos, pressionadas por uma forte perda do habitat.
Já a águia-de-Bonelli, também conhecida por águia-perdigueira, tem o estatuto de “Quase Ameaçada” na Europa, devido às perdas de população e às pressões que a espécie sofre. Em Portugal e Espanha está classificada como “Em Perigo”.