Uma equipa internacional, que inclui um cientista da Universidade de Coimbra, analisou em laboratório e identificou uma nova flora encontrada perto da pequena localidade de Catefica.
Estas plantas angiospérmicas (com flor) terão existido no período do Cretácico Inferior, que ocorreu entre 100,5 a 145 milhões de anos atrás, numa altura em que se desenvolveram as primeiras plantas deste tipo e em que os dinossauros dominavam o planeta. Foram encontrados também fósseis de diversos tipos de coníferas e fetos, entre outra vegetação.
Segundo o artigo publicado na revista Fossil Imprint, os cinco investigadores analisaram os fósseis provenientes da zona de Catefica e identificaram 67 espécies diferentes de angiospermas, descrevendo ainda para a ciência cinco novos géneros e seis novas espécies deste grupo de plantas. Um resultado classificado como “simplesmente extraordinário”, aponta Mário Miguel Mendes, um dos co-autores do estudo, citado num comunicado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
Combinando técnicas como a microscopia eletrónica de varrimento e a microtomografia de raios-X por radiação de sincrotrão (realizada no Instituto Paul Scherrer, em Villigen, Suíça), a equipa estudou os órgãos florais preservados neste registo fóssil, procurando relacioná-los com as plantas de hoje em dia, de forma a compreenderem melhor a evolução das angiospérmicas ao longo de milhões de anos. “Nesta flora destaca-se a ocorrência de estruturas estaminadas com grãos de pólen in situ muito semelhantes aos produzidos pelos actuais géneros Ascarina e Hedyosmum (ambos atribuíveis à família Chloranthaceae)”, descreve Mário Miguel Mendes, que está ligado ao MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e à FCTUC. “Estas estruturas masculinas foram descritas como novo género e espécie – Proencistemon portugallicus gen. et sp. nov.”
Segundo o investigador português, o novo género Proencistemon foi baptizado em honra a Pedro Proença e Cunha, professor catedrático do Departamento de Ciências da Terra da FCTUC, “pelos contributos de vulto que tem dado no âmbito da estratigrafia do Cretácico português”.
Actualmente, as plantas angiospérmicas constituem cerca de 230 mil espécies que dominam os ecossistemas terrestres e que “são essenciais para a manutenção da vida na Terra”, mas pouco ainda se sabe sobre a forma como evoluíram e como se diversificaram em tão grande número.
“Na minha opinião, os estudos da vegetação cretácica são absolutamente imprescindíveis para o conhecimento das etapas iniciais de desenvolvimento das plantas com flor e para a caracterização dos paleoambientes e dos paleoclimas em que estas viveram. Portugal, a nível global, é uma região que reúne condições excelentes para o estudo desta temática”, sublinha o cientista do MARE.
Neste momento, o grupo de investigadores está focado no estudo das plantas não angiospérmicas encontradas no mesmo registo fóssil em Catefica, incluindo fetos, coníferas e outras espécies. “A combinação de todos os resultados irá permitir compreender em que condições se desenvolveu aquela flora”, acrescentou.
Este trabalho foi realizado em colaboração com investigadores da Dinamarca, Estados Unidos, República Checa e Suécia, tendo recebido financiamento do Swedish Research Council, da United States National Science Foundation, da Czech Grant Agency, assim como do MARE/ARNET da Universidade de Coimbra.