Uma equipa internacional, que incluiu cientistas do centro de investigação MARE, encontrou dois invertebrados novos para a ciência.
A descoberta aconteceu quando os investigadores analisaram amostras de briozoários recolhidas no âmbito de um levantamento de espécies não indígenas, ou seja, com origem fora do arquipélago, anunciou uma nota de imprensa divulgada esta quarta-feira pelo MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.
A Região Autónoma da Madeira é, tal como outras ilhas e arquipélagos, uma “rota de passagem para muitos navios”, o que as torna “zonas férteis e propícias à introdução de espécies não indígenas”, explica o MARE. Muitas espécies ali chegam incrustadas nos cascos de embarcações, passando depois para os substractos artificiais das marinas e também para as unidades de aquacultura ‘offshore’, instaladas no mar.
No âmbito deste estudo, descrito num artigo publicado a 7 de Julho pela revista científica Marine Biodiversity, a maior parte das espécies analisadas foram recolhidas a partir de painéis feitos de PVC que tinham sido colocados presos a tijolos dentro do mar em diferentes locais da costa sul da ilha da Madeira: quatro marinas recreativas e duas unidades de aquacultura para produção de douradas.
Três meses depois de terem sido colocados os painéis, a equipa retirou-os e analisou detalhadamente as espécies de briozoários que ali se tinham fixado. Foram encontradas 10 espécies diferentes, incluindo quatro registos novos para o arquipélago e duas novas espécies para a ciência. Uma destas últimas foi baptizada pelos cientistas de Crisia noronhai, em honra de Adolfo César de Noronha, “um naturalista entusiasta e ávido promotor do Museu de História Natural do Funchal”, que coleccionou briozoários ao longo de vários anos. A outra espécie ficou a chamar-se Amathia madeirensis.
Até hoje, estima-se que já estejam registadas no arquipélago 150 espécies diferentes de briozoários, um dos grupo de invertebrados mais diversos, abundantes e complexos que se conhecem. São na sua maioria animais minúsculos que vivem agrupados em colónias, sésseis – ou seja, imóveis e fixos pela sua base a substratos – e que estão presentes por todo o ambiente marinho. Em todo o mundo, existem cerca de 3500 espécies conhecidas.
Os briozoários são também dos invertebrados que mais se incrustam nos cascos de navios usados para o transporte marítimo internacional, apontado como uma das actividades que mais contribuem para a disseminação de espécies não indígenas ou exóticas. Representa, por isso, “uma ameaça significativa à biodiversidade nos ecossistemas costeiros marinhos a nível mundial”, indica o artigo científico publicado. A maioria das espécies marinhas que chegam à Madeira vindas de fora vêm aliás incrustadas em cascos de navios, dispersando-se mais tarde pelas marinas e pelas unidades de aquacultura presentes na costa.
Desde 2013 que o MARE-Madeira realiza um programa de monitorização de espécies indígenas, que levou a “avanços significativos” no conhecimento sobre as invasões marinhas no arquipélago, adianta o centro de investigação.
“Entre outras vantagens, este estudo destaca a importância dos programas de monitorização nos portos para a detecção precoce de espécies não indígenas e recomenda o incentivo a estudos adicionais que investiguem a identidade e distribuição desses organismos, um importante contributo para a expansão do conhecimento sobre a prevalência de briozoários em áreas de grande biodiversidade.”
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