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Argonauta-pardo (Argonauta hians). Foto: Instituto Okeanos

Descoberta nova espécie de polvo pelágico para os Açores

24.10.2024

Esta semana, durante uma aula de campo do Mestrado em Estudos Integrados dos Oceanos da Universidade dos Açores, no Faial, foram encontradas várias conchas de uma espécie de polvo pelágico que nunca tinha sido registada nos Açores.

A informação sobre a descoberta de conchas de argonauta-pardo (Argonauta hians) foi avançada ontem pelo Instituto Okeanos, da Universidade dos Açores.

As seis conchas deste polvo pelágico foram encontradas pelos alunos durante uma aula de campo realizada nas praias de Porto Pim, Conceição e Almoxarife, na ilha do Faial. Esta espécie ainda não tinha sido registada nos Açores.

“Até agora, no arquipélago, eram conhecidas apenas conchas de argonauta-comum (Argonauta argo) mas desta vez recolheram-se 6 conchas de outra espécie – Argonauta hians – que poderemos baptizar com o nome comum de argonauta-pardo”, segundo um comunicado daquele instituto.

Na plataforma online de ciência cidadã iNaturalist, há várias ocorrências desta espécie nos Oceanos Pacífico e Índico mas no Atlântico Norte, esta foi a primeira vez que foi observada, tendo sido registada pelos alunos aqui.

A literatura científica especializada refere que esta espécie tem condições para ocorrer em todos os oceanos do mundo, embora pareça ser, de facto, mais rara no Atlântico. O tamanho máximo das “conchas” que as fêmeas produzem para pôr os ovos e viverem não ultrapassa os 10 centímetros de comprimento. 

Segundo o instituto Okeanos, “os argonautas são cefalópodes da ordem dos octópodes, vivem em mares tropicais e subtropicais. São polvos pelágicos, ou seja, que vivem na coluna de água em oceano aberto”.
 
“As fêmeas segregam uma delicada concha calcária, onde incubam os ovos e que contém bolsas de ar que lhe permitem movimentar na coluna de água.” 

Segundo aquele instituto, “os machos dos argonautas medem apenas 10% do tamanho das fêmeas. Essa grande diferença de tamanho, é um problema durante o acasalamento mas, como é habitual na natureza, o pequeno polvo argonauta conseguiu encontrar uma forma de contornar o problema. O órgão sexual dos machos consiste num braço modificado, que está adaptado para armazenar os espermatozoides. Quando uma fêmea está por perto, o macho liberta este braço, que se agita e penetra no saco de ovos da fêmea, fertilizando-os”. 
 
“Curiosamente, a primeira vez que este braço especializado, designado por hectocólito (o nome do braço-pénis) foi visto numa fêmea, pensou-se que se tratava de um verme parasita e o zoólogo francês Georges Cuvier batizou-o com o nome de Hectocotyle octopodis, que daria mais tarde origem ao nome atual.”
 
Até ao momento, nunca se encontrou um exemplar de um macho vivo, uma vez que estes morrem depois de libertarem o seu membro. Os estudos são feitos a partir de fêmeas, que vivem em grandes grupos em mar aberto, e da observação de machos mortos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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