Cirrhilabrus finifenmaa. Foto: Yi-Kai Tea

Descoberta nas Maldivas uma espantosa nova espécie de peixe

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O bodião-fada-com-escamas-rosa (Cirrhilabrus finifenmaa), que vive a 70 metros de profundidade e tem cores espantosas, é a primeira espécie de peixe descrita por um investigador das Maldivas.

São centenas as espécies de peixes que vivem ao largo das Maldivas. Agora, uma maravilhosa espécie acaba de ser formalmente descrita para a Ciência – o processo científico pelo qual um organismo passa para ser reconhecido como uma nova espécie -, por um investigador das Maldivas.

Cirrhilabrus finifenmaa. Foto: Yi-Kai Tea

O bodião-fada-com-escamas-rosa (Cirrhilabrus finifenmaa), descrito a 8 de Março na revista ZooKeys, é também uma das primeiras espécies a terem o seu nome derivado da língua local Dhivehi: “finifenmaa” quer dizer “rosa” e foi escolhido porque as cores deste peixe fazem lembrar as cores da flor nacional das Maldivas, uma rosa.

Cientistas da Academia de Ciências da Califórnia, da Universidade de Sidney, do Instituto de Investigação Marinha das Maldivas e do Field Museum de Chicago colaboraram na descoberta, no âmbito da iniciativa Hope for Reefs que quer compreender melhor e proteger os recifes de coral de todo o mundo.

Cirrhilabrus finifenmaa. Foto: Yi-Kai Tea

“Têm sido sempre cientistas estrangeiros a descrever as espécies das Maldivas, sem muito envolvimento dos cientistas locais”, comentou, em comunicado, o Ahmed Najeeb, co-autor do estudo e biólogo do Instituto de Investigação Marinha das Maldivas. “Desta vez foi diferente. Fazer parte de algo pela primeira vez é verdadeiramente entusiasmante, especialmente ter a oportunidade de trabalhar ao lado de ictiólogos de topo numa espécie tão bonita e elegante como esta.”

Inicialmente, o bodião-fada-com-escamas-rosa foi recolhido por investigadores nos anos 1990. Então acreditou-se que era a fase adulta de uma espécie diferente, o Cirrhilabrus rubrisquamis, que tinha sido descrito com base em apenas um único espécime juvenil, recolhido a uma profundidade entre os 41 e os 48 metros de profundidade na Ilha Fouquet, no arquipélago Chagos, mil quilómetros a Sul das Maldivas.

Cirrhilabrus finifenmaa. Foto: Yi-Kai Tea

Neste novo estudo, contudo, os investigadores olharam com mais detalhe tanto para adultos como para juvenis do peixe multicolorido, medindo e contanto as várias características como a cor dos machos adultos e o número de escamas em várias regiões do corpo. Estes dados, juntamente com análises genéticas, foram então comprados com o espécime de Cirrhilabrus rubrisquamis para confirmar que o Cirrhilabrus finifenmaa era, na realidade, uma espécie inteiramente diferente.

Esta descoberta tem ainda outro significado: isto reduz a distribuição conhecida de cada espécie de bodião, uma consideração crucial na altura de decidir prioridades de conservação.

Cirrhilabrus finifenmaa. Foto: Yi-Kai Tea

“O que dantes acreditávamos ser uma espécie de peixe amplamente distribuída é, na verdade, não uma mas duas espécies diferentes, cada uma com uma distribuição potencialmente muito mais restrita”, comentou Yi-Kai Tea, o principal autor do estudo e estudante de doutoramento da Universidade de Sidney. “Isto exemplifica por que descrever uma nova espécie, e a taxonomia em geral, é importante para a conservação e gestão da biodiversidade.”

Os autores do estudo alertam que o bodião-fada-com-escamas-rosa já está a ser explorado pelo comércio dos peixes de aquário.

Cirrhilabrus finifenmaa. Foto: Luiz Rocha/Academia das Ciências da Califórnia

“Apesar de esta ser uma espécie abundante e por isso sem correr, de momento, o risco de ser sobre-explorada, ainda assim é inquietante quando um peixe já está a ser comercializado mesmo antes de ter sequer um nome científico”, comentou Luiz Rocha, outro autor do estudo e curador de Ictiologia da Academia de Ciências da Califórnia. “É uma prova de que ainda há muita biodiversidade por descobrir nos ecossistemas dos recifes de coral.”

Em Fevereiro, os investigadores da iniciativa Hope for Reefs fizeram os primeiros censos dos recifes de coral das Maldivas que existem entre os 50 e os 150 metros de profundidade, em colaboração com os investigadores das Maldivas. Ali encontraram novos registos de bodião-fada-com-escamas-rosa, bem como pelo menos oito potenciais novas espécies que ainda não foram descritas.

Ahmed Najeeb e Luiz Rocha a analisar um espécime recolhido numa expedição recente às Maldivas. Foto: Cláudia Rocha/Academia das Ciências da Califórnia

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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