Uma equipa internacional de investigadores identificou os custos económicos gerados por crustáceos aquáticos invasores, como algumas espécies de caranguejos e lagostins, e chegou a um número: pelo menos 238 milhões de euros, segundo um estudo revelado hoje.
A maioria dos estudos sobre as espécies exóticas invasoras – consideradas uma das maiores causas da perda de biodiversidade no mundo – tem-se dedicado a perceber quais são os seus impactos ecológicos. Quanto aos custos económicos destas espécies, ainda pouco se sabe.
Foi por isso que esta equipa internacional de investigadores – da República Checa, Espanha, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, Itália e França – olhou para o que está registado na literatura científica sobre custos económicos de lagostins, caranguejos, camarões de água doce e lagostas.
Segundo o estudo, publicado na revista Science of the Total Environment, os custos económicos mundiais dos crustáceos aquáticos invasores ascendem a uma média anual de 271 milhões de dólares (cerca de 238 milhões de euros) para o período entre os anos de 2000 e de 2020.
“Isto é como se, por exemplo, pedíssemos cerca de um euro a cada cidadão da Alemanha, França, Itália e Espanha para pagar os danos causados pelos crustáceos invasores, e mesmo assim os custos reais estão muito subestimados”, comentou, em comunicado Francisco Oficialdegui, investigador da Estación Biológica de Doñana em Sevilla, Espanha e um dos autores deste artigo científico.
Mas a falta de registos a nível taxonómico, geográfico e temporal sugere que estes custos estão subestimados.
Quais os mais prejudiciais?
Os crustáceos invasores – aqueles que são introduzidos e que se expandem para fora da sua área de distribuição natural – foram reconhecidos como uma grave ameaça aos ecossistemas. Causam mesmo a extinção de outras espécies.
Entre os crustáceos invasores que mais custos trazem estão os lagostins e os caranguejos marinhos, considerados os mais prejudiciais pelo seu tamanho, papel fundamental nos ecossistemas e pela sua tolerância a condições desfavoráveis.
Os custos económicos relacionados com os lagostins de rio atribuem-se, principalmente, a uma única espécie e país (o lagostim-sinal ou lagostim-do-Pacífico, Pacifastacus leniusculus, na Suécia, somando 116,4 milhões de dólares, ou seja, cerca de 102,6 de euros).
Outras espécies de lagostins norte-americanos, como o lagostim-vermelho-do-Louisiana (Procambarus clarkii) ou o lagostim-americano (Orconectes limosus), também causaram custos económicos, ainda que em menor medida.
A maioria dos custos relacionados com os lagostins (80%) tem a ver com perda de recursos para a pesca ou agricultura.
Os caranguejos marinhos causaram custos económicos sobretudo na América do Norte (57%) e na Europa (42%), principalmente como consequência de duas espécies: o caranguejo-verde (Carcinus maenas) – 86,4 milhões de dólares (76,2 milhões de euros) – e o caranguejo-peludo-chinês (Eriocheir sinensis) – 62,9 milhões de dólares (55,4 milhões de euros). Estas espécies afectaram, principalmente, as actividades piscícolas.
É necessária mais investigação
“Surpreendentemente, poucos custos foram atribuídos à gestão (prevenção, controlo, mitigação e erradicação) destes crustáceos invasores”, comentou Antonín Kouba, professor associado da Universidade da Boémia do Sul, na República Checa.
Esta situação poderá explicar-se, em parte, pelos benefícios comerciais e recreativos que estas espécies proporcionam, “contribuindo para uma percepção positiva em relação ao valor destas espécies invasoras”, acrescentou. “De certo modo, isto pode levar a um conhecimento limitado dos custos económicos, especialmente os indirectos, assim como a um interesse limitado em compreender os seus impactos.”
“Ainda que se tenha feito um grande esforço para compilar os custos dos crustáceos invasores, as lacunas de conhecimento nos custos notificados à escala taxonómica (muitos invasores conhecidos não têm custos económicos atribuídos), geográfica (Ásia, África, América do Sul e Oceânia estão praticamente ausentes, apesar da presença de crustáceos invasores) e temporal (a maioria dos custos registados são relativos ao século XXI) sugerem que os custos monetários notificados aqui estão muito subestimados”, salienta, por seu lado, Ross Cuthbert, investigador do GEOMAR – Centro Helmholtz de Investigação Oceânica em Kiel, na Alemanha.
Um pouco por todo o mundo, a preocupação com as espécies exóticas invasoras não pára de crescer, acompanhando o ritmo da invasão destes animais e plantas. Ainda assim, a capacidade de vários países em combater de forma eficaz estas invasões é limitada. Para esta equipa, isto explica-se, em parte, porque ainda não há um conhecimento real da magnitude das perdas e dos custos económicos, presentes e futuros.
Por isso, os autores do estudo defendem mais investigação sobre os custos económicos destas espécies para “avaliar melhor a verdadeira magnitude dos custos monetários causados pelos crustáceos invasores, já que muitos custos ainda não foram quantificados nem publicados”.