Um jovem abutre-do-Egipto, que se perdeu ao migrar pela primeira vez para África, recebeu uma ajuda crucial de técnicos portugueses e espanhóis para sobreviver.
O abutre-do-Egipto (Neophron percnopterus), também conhecido por britango, é a espécie mais pequena de abutres na Europa.
As faces são amareladas e as caudas longas. Tem uma envergadura de asas que vai dos 1,55 aos 1,70 metros e pode medir até 65 centímetros de comprimento.
É uma das espécie Em Perigo de extinção em Portugal e alvo de um projecto de conservação, o LIFE Rupis.
O britango passa os Inverno na África sub-saariana. Mas Portugal é um dos países onde esta espécie se reproduz, de Março a Setembro.
É, por isso, uma espécie que assenta a sua estratégia de vida nos benefícios das migrações.
Mas nem sempre tudo corre bem e há aves que precisam de ajuda para seguir viagem.
Este Verão foi encontrado um abutre-do-egipto “enfraquecido e desorientado” no concelho de Santa Maria da Feira, explicou esta semana a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em comunicado.
“Ainda muito jovem, perdera-se ao iniciar a sua primeira migração, desviando-se dos corredores migratórios, parando numa zona onde não havia alimento e onde ficou debilitado e incapaz de prosseguir.”
Populares encontraram este abutre e entregaram-no ao Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR que o levou para o Parque Biológico de Gaia.
Ali permaneceu até estar mais estável, sendo depois transferido para o Centro de Recuperação de Animais Selvagens (CRAS) – Hospital Veterinário da UTAD, onde foi tratado e reabilitado.
Seguiram-se dois meses de tratamento, tempo durante o qual o jovem abutre recuperou peso e massa muscular, impermeabilizou as penas e ganhou capacidade de voo.
Depois de os especialistas da UTAD o considerarem apto e saudável, o abutre foi devolvido à natureza, em território espanhol, por uma equipa do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e um especialista da UTAD.
A localização para a libertação – Acehúche, na zona de Cáceres (Extremadura), no Sul de Espanha – foi escolhida por ser um “território mais quente” e “a única área de Inverno propícia à sobrevivência desta espécie na Europa”.
“Se a soltássemos no Norte de Portugal, ela não sobreviria, já que esta espécie costuma usar vários países nos seus voos migratórios conforme o clima e as necessidades exploratórias de alimento”, explicou Celso Santos, professor da UTAD que participou no processo de devolução da ave à natureza.
Antes de ser libertado, o abutre foi equipado com um GPS “para monitorar os seus movimentos, garantindo que seguia um destino adequado e possibilitando métodos de estudo sobre os comportamentos da espécie”.
Da informação entretanto recolhida verificou-se que “a ave, contrariamente ao que era esperado, não se acomodou com os outros coespecíficos no local de invernada estabelecido, mas foi em busca de melhor conforto térmico, viajando para o Norte de África”.
Num dos seus trajectos, fez, em duas horas e meia, mais de 200 quilómetros, sendo localizada já em Argel, o que significa ter conseguido uma velocidade média de 80 km/h.
Saiba mais.
Fique a saber aqui o que acontece aos abutres-do-egipto que voam de Portugal para África.
Conheça melhor esta fantástica espécie de abutre, escolhida como a Ave do Ano de Portugal em 2016.