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Conheça a “incrível história” deste abutre-preto que foi devolvido à natureza no Alentejo

13.02.2020

Depois de dois meses em recuperação, este jovem abutre-preto, de uma espécie Criticamente Em Perigo de extinção em Portugal, foi devolvido à natureza em Moura, Baixo Alentejo.

 

É uma “história incrível” a vivida por esta jovem ave, contou à Wilder o RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens, instalado na Ria Formosa, Algarve.

A 11 de Dezembro passado, uma equipa do SEPNA (Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da GNR) de Aljustrel transportou um abutre-preto (Aegypius monachus) para o RIAS. A ave tinha sido encontrada debilitada e com pouco peso na zona de Ferreira do Alentejo.

 

Foto: RIAS

 

Quando chegou ao RIAS, o abutre-preto pesava apenas cerca de quatro quilos. “Precisava recuperar forças para poder estar novamente em condições de sobreviver sozinho.”

Após um exame físico inicial, a equipa do RIAS – que cuida hoje de cerca de 200 animais selvagens – administrou “fluídos sub-cutâneos e vitaminas” e forneceu “alimento adequado a esta espécie”.

 

Foto: RIAS

 

Quase dois meses depois, o abutre já tinha sete quilos e voava perfeitamente. Estava pronto para a liberdade.

Foi então anilhado e marcado com um transmissor GPS fornecido pela Vulture Conservation Foundation, para que os seus movimentos migratórios possam ser seguidos.

 

Foto: RIAS

 

A 6 de Fevereiro foi libertado na Herdade da Contenda – propriedade da Câmara Municipal de Moura com 5.300 hectares -, graças à ajuda dos vigilantes da Natureza do Parque Natural da Ria Formosa, que fizeram o transporte da ave desde o RIAS.

 

O regresso do abutre-preto a Portugal

O abutre-preto é a maior das aves planadoras que ocorrem em Portugal. A sua envergadura de asa pode atingir os três metros.

 

abutre em voo
Abutre-preto. Foto: Artemy Voikhansky/Wiki Commons

 

Em Portugal esteve oficialmente extinto durante décadas. Os últimos dados de nidificação comprovada datavam de 1973. Em 1996 houve tentativas de nidificação em duas plataformas mas sem sucesso.

A espécie voltou a nascer em Portugal em 2010, no Tejo Internacional. No final de Julho de 2010 foram registadas duas crias no Tejo Internacional, a Tejo e Aravil, filhas de casais provenientes de Espanha. 

Em Abril de 2011 nasceu Idanha, também no Tejo Internacional. A colónia tinha então três casais e hoje é a maior colónia de abutre-preto de Portugal, com cerca de 15 casais. Do lado espanhol existiriam cerca de 40.

Em 2015 nasceu a primeira cria no Alentejo, na Herdade da Contenda, em mais de 40 anos.

Hoje, esta é uma espécie classificada como Criticamente Em Perigo de extinção em Portugal e confinado a três núcleos reprodutores no nosso país (Tejo Internacional, Baixo Alentejo e Douro Internacional).

Entre as maiores ameaças ao abutre-preto estão a mortalidade directa causada pelos humanos, menor disponibilidade de alimento, envenenamento e alteração do habitat (as campanhas do trigo dos anos 30 e a reflorestação com eucalipto nos anos 80 fizeram desaparecer árvores centenárias de grande porte onde os abutres construíam os ninhos).

A época reprodutora dos abutres-pretos começa entre Janeiro e Fevereiro. As crias nascem a partir de Abril e começam a voar entre Agosto e Setembro.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.
Saiba mais sobre o abutre-preto aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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