Depois de dois meses em recuperação, este jovem abutre-preto, de uma espécie Criticamente Em Perigo de extinção em Portugal, foi devolvido à natureza em Moura, Baixo Alentejo.
É uma “história incrível” a vivida por esta jovem ave, contou à Wilder o RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens, instalado na Ria Formosa, Algarve.
A 11 de Dezembro passado, uma equipa do SEPNA (Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da GNR) de Aljustrel transportou um abutre-preto (Aegypius monachus) para o RIAS. A ave tinha sido encontrada debilitada e com pouco peso na zona de Ferreira do Alentejo.
Quando chegou ao RIAS, o abutre-preto pesava apenas cerca de quatro quilos. “Precisava recuperar forças para poder estar novamente em condições de sobreviver sozinho.”
Após um exame físico inicial, a equipa do RIAS – que cuida hoje de cerca de 200 animais selvagens – administrou “fluídos sub-cutâneos e vitaminas” e forneceu “alimento adequado a esta espécie”.
Quase dois meses depois, o abutre já tinha sete quilos e voava perfeitamente. Estava pronto para a liberdade.
Foi então anilhado e marcado com um transmissor GPS fornecido pela Vulture Conservation Foundation, para que os seus movimentos migratórios possam ser seguidos.
A 6 de Fevereiro foi libertado na Herdade da Contenda – propriedade da Câmara Municipal de Moura com 5.300 hectares -, graças à ajuda dos vigilantes da Natureza do Parque Natural da Ria Formosa, que fizeram o transporte da ave desde o RIAS.
O regresso do abutre-preto a Portugal
O abutre-preto é a maior das aves planadoras que ocorrem em Portugal. A sua envergadura de asa pode atingir os três metros.
Em Portugal esteve oficialmente extinto durante décadas. Os últimos dados de nidificação comprovada datavam de 1973. Em 1996 houve tentativas de nidificação em duas plataformas mas sem sucesso.
A espécie voltou a nascer em Portugal em 2010, no Tejo Internacional. No final de Julho de 2010 foram registadas duas crias no Tejo Internacional, a Tejo e Aravil, filhas de casais provenientes de Espanha.
Em Abril de 2011 nasceu Idanha, também no Tejo Internacional. A colónia tinha então três casais e hoje é a maior colónia de abutre-preto de Portugal, com cerca de 15 casais. Do lado espanhol existiriam cerca de 40.
Em 2015 nasceu a primeira cria no Alentejo, na Herdade da Contenda, em mais de 40 anos.
Hoje, esta é uma espécie classificada como Criticamente Em Perigo de extinção em Portugal e confinado a três núcleos reprodutores no nosso país (Tejo Internacional, Baixo Alentejo e Douro Internacional).
Entre as maiores ameaças ao abutre-preto estão a mortalidade directa causada pelos humanos, menor disponibilidade de alimento, envenenamento e alteração do habitat (as campanhas do trigo dos anos 30 e a reflorestação com eucalipto nos anos 80 fizeram desaparecer árvores centenárias de grande porte onde os abutres construíam os ninhos).
A época reprodutora dos abutres-pretos começa entre Janeiro e Fevereiro. As crias nascem a partir de Abril e começam a voar entre Agosto e Setembro.