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Abelha. Foto: Suzanne D. Williams/Pixabay

Clima: associação Zero pede agricultura que trabalhe com a natureza

08.08.2019

No seguimento do novo relatório do IPCC dedicado ao solo e às alterações climáticas, a associação pede ao Governo português e à Europa que incentivem apostas diferentes na agricultura.

O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), divulgado esta manhã, “prova que a interrupção da crise climática não será possível sem uma mudança radical da nossa produção e consumo de alimentos e sem uma muito melhor proteção das florestas”, diz a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, em comunicado.

A associação sublinha que o relatório traz “fortes evidências científicas dos impactes catastróficos no clima pela forma atual como usamos o solo e do enorme potencial que este setor apresenta para reduzir as emissões”.

Por isso, a Zero pede que Portugal adopte “práticas agrícolas que trabalhem com a natureza e se afastem da agricultura industrial de grande escala”.

Além disso defende a eliminação do desperdício alimentar, a redução do consumo de carne, o travar da desflorestação e o restauro dos ecossistemas danificados.

“Portugal é dos países onde o uso do solo é mais decisivo para atingirmos os objetivos do Acordo de Paris” sobre alterações climáticas, comentou Francisco Ferreira, presidente da Zero.

Além de evitar as “extensas monoculturas” e a “destruição sistemática das nossas florestas pelos incêndios”, Francisco Ferreira salienta a importância de “cuidar adequadamente do solo” e de “investimentos agrícolas que sejam apostas diferentes do passado, com menos necessidades de água e de fertilizantes e com maior resiliência à mudança climática”.

Quanto aos hábitos dos portugueses, o responsável defende uma mudança da dieta alimentar – “que inclui demasiada carne e peixe” – em benefício da saúde, dos ecossistemas e do clima.

O novo relatório do IPCC mostra que uma maior acção climática alinhada com a meta de manter a elevação da temperatura de 1,5 °C é crucial para evitar a quebra das cadeias alimentares. “Ultrapassar este limiar, muito provavelmente pioraria os riscos existentes e aumentaria a desertificação, diminuiria a produtividade das culturas e da pecuária, reduziria o teor de nutrientes das culturas e contribuiria para a insegurança alimentar, pobreza, migrações e conflitos”, salienta a Zero.

Hoje há já agricultores na Europa que perdem a produção e a receita devido a secas, inundações, ondas de calor e incêndios florestais. Alguns deles deram início à acção judicial “Pessoas pelo Clima” para instar os decisores da União Europeia (UE) a aumentar a ambição da sua resposta à crise climática.

“É cada vez mais difícil adaptarmo-nos às consequências nefastas das alterações climáticas”, disse Alfredo Sendim, agricultor português e um dos participantes na acção judicial. “Em breve seremos forçados a abandonar a nossa terra e a nossa ocupação tradicional.”

“A UE deve aumentar urgentemente a ambição da sua meta climática para 2030 para nos proteger a nós e a milhões de outros pequenos agricultores europeus.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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