No seguimento do novo relatório do IPCC dedicado ao solo e às alterações climáticas, a associação pede ao Governo português e à Europa que incentivem apostas diferentes na agricultura.
O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), divulgado esta manhã, “prova que a interrupção da crise climática não será possível sem uma mudança radical da nossa produção e consumo de alimentos e sem uma muito melhor proteção das florestas”, diz a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, em comunicado.
A associação sublinha que o relatório traz “fortes evidências científicas dos impactes catastróficos no clima pela forma atual como usamos o solo e do enorme potencial que este setor apresenta para reduzir as emissões”.
Por isso, a Zero pede que Portugal adopte “práticas agrícolas que trabalhem com a natureza e se afastem da agricultura industrial de grande escala”.
Além disso defende a eliminação do desperdício alimentar, a redução do consumo de carne, o travar da desflorestação e o restauro dos ecossistemas danificados.
“Portugal é dos países onde o uso do solo é mais decisivo para atingirmos os objetivos do Acordo de Paris” sobre alterações climáticas, comentou Francisco Ferreira, presidente da Zero.
Além de evitar as “extensas monoculturas” e a “destruição sistemática das nossas florestas pelos incêndios”, Francisco Ferreira salienta a importância de “cuidar adequadamente do solo” e de “investimentos agrícolas que sejam apostas diferentes do passado, com menos necessidades de água e de fertilizantes e com maior resiliência à mudança climática”.
Quanto aos hábitos dos portugueses, o responsável defende uma mudança da dieta alimentar – “que inclui demasiada carne e peixe” – em benefício da saúde, dos ecossistemas e do clima.
O novo relatório do IPCC mostra que uma maior acção climática alinhada com a meta de manter a elevação da temperatura de 1,5 °C é crucial para evitar a quebra das cadeias alimentares. “Ultrapassar este limiar, muito provavelmente pioraria os riscos existentes e aumentaria a desertificação, diminuiria a produtividade das culturas e da pecuária, reduziria o teor de nutrientes das culturas e contribuiria para a insegurança alimentar, pobreza, migrações e conflitos”, salienta a Zero.
Hoje há já agricultores na Europa que perdem a produção e a receita devido a secas, inundações, ondas de calor e incêndios florestais. Alguns deles deram início à acção judicial “Pessoas pelo Clima” para instar os decisores da União Europeia (UE) a aumentar a ambição da sua resposta à crise climática.
“É cada vez mais difícil adaptarmo-nos às consequências nefastas das alterações climáticas”, disse Alfredo Sendim, agricultor português e um dos participantes na acção judicial. “Em breve seremos forçados a abandonar a nossa terra e a nossa ocupação tradicional.”
“A UE deve aumentar urgentemente a ambição da sua meta climática para 2030 para nos proteger a nós e a milhões de outros pequenos agricultores europeus.”