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Foto: Danilo Cedrone/Wiki Commons

Cinco mensagens que Sylvia Earle trouxe a Lisboa sobre o futuro dos oceanos

12.04.2018

Sylvia Earle, uma das mais importantes oceanógrafas de todo o mundo, esteve esta semana em Lisboa. A Wilder foi ouvi-la falar sobre o presente e o futuro dos oceanos, durante o encontro Ocean Talks by Galp, e relata-lhe algumas mensagens-chave desta pioneira da exploração do mar profundo.

 

1. “É maravilhoso dizermos aos miúdos que ainda não sabemos tudo.”

Sylvia Earle, 82 anos, é exploradora residente da National Geographic Society e foi a primeira mulher nomeada cientista-chefe da NOAA, agência científica norte-americana que estuda os mares e as alterações climáticas. “Tenho a memória de saltar para dentro do oceano desde muito nova”, recordou durante a conferência, lembrando que já várias vezes experimentou o que era viver debaixo da água – a mais recente foi em 2012. Mas apesar dos estudos em que colaborou na Fossa das Marianas, naquele que se pensa ser o local mais profundo dos oceanos, uma das questões que sempre perseguiu continua sem resposta: “Não sabia quão profundo o mar é realmente e ainda não temos bem a certeza.” E rematou: “É maravilhoso dizermos aos miúdos que ainda não sabemos tudo.”

 

Sylvia Earle num mergulho partilhado
Sylvia Earle (à dir.), durante um mergulho no mar profundo em 2012. Foto: Amanda Meyer/USFWS

 

2. “Devíamos agradecer aos pequenos seres do oceano por nos manterem vivos.”

Investigadora da ecologia e conservação de sistemas marinhos, Sylvia Earle sabe que os oceanos “são críticos para a nossa existência”. “Devemos tratar os oceanos como se a nossa vida dependesse deles, porque é isso que acontece.” A cientista norte-americana lembrou que hoje se sabe que micro-organismos que vivem nas profundezas do oceano – como as diatomáceas e os procariontes – são muito importantes para a fixação de carbono na Terra. “Sabemos que a natureza do mar profundo ainda é muito desconhecida, mas há processos muito importantes de captura de carbono por bactérias, por criaturas minúsculas”, comentou. “Devíamos dizer obrigado aos pequenos seres do oceano por nos manterem vivos.”

 

3. “Hoje, o que me preocupa mais são os dentes das grandes indústrias…”

Sylvia costumava preocupar-se, nos primeiros mergulhos, com “as criaturas de dentes afiados” que ali nadavam, brincou. Mas hoje, os dentes com que se preocupa “são os dentes das grandes indústrias que estão a ser construídos” para explorar os recursos do fundo do mar. “Há um novo sonho de explorar os minérios no fundo do mar e suspeito que haverá uma grande exploração”, admitiu a naturalista, durante a conferência, que alertou também para os perigos da pesca excessiva e para a necessidade de dar um passo atrás. “Não temos de estar sempre a tirar coisas, podemos explorar o oceano sem lhe retirarmos pedaços”, apelou, lançando ainda um alerta. “Devemos ser cuidadosos e criativos (…) Já bastou! Já é suficiente! Este é o momento para sermos conscientes (‘mindful’) e mantermos locais reservados e nos quais não tocamos.”

 

sylvia earle a experimentar um fato de mergulho conhecido por JIM
A preparar-se para uma das primeiras experiências no mar profundo. Foto: OAR/National Undersea Research Program (NURP)

 

4. E se transformarmos o mar alto numa grande reserva global?

A investigadora, que é recordista do mergulho mais profundo há quase 40 anos, em que chegou aos 381 metros, criou em 2009 a organização ambientalista Mission Blue – Sylvia Earle Alliance. Um dos grandes objectivos é ajudar a criar uma rede global de áreas marinhas protegidas, conhecidas por Hope Spots. O projecto abre ao grande público a possibilidade de nomear áreas marinhas que deveriam ser reservadas para a conservação ou nas quais deveriam ser tomadas medidas adicionais de protecção, justificando por que são críticas para a saúde do oceano. Na conferência desta quinta-feira, Sylvia Earle lembrou que quer ir mais longe: “Vejo o mar profundo como uma grande reserva global.”

 

5. “Ainda temos escolha, ainda temos 10 por cento dos tubarões.”

No final, a mensagem da oceanógrafa continua a ser positiva, mas também um apelo à responsabilidade. “Há algumas décadas, quando era mais jovem, não sabíamos que a exploração do oceano tinha um impacto negativo, mas agora sabemos que há limites ao que tiramos dos mares.”  Sylvia lembrou que as populações dos grandes peixes está reduzida a 10 por cento do que era há poucas décadas, que os oceanos estão a produzir menos oxigénio e ninguém sabe ainda bem porquê e que a acidificação da água do mar está a provocar o branqueamento e morte dos corais. No entanto, apesar de este ser “um oceano diferente devido à acção humana”, a bióloga marinha terminou com uma mensagem de esperança: “Ainda temos escolha, ainda temos 10 por cento dos tubarões. Devemos olhar para dentro de nós próprios para descobrir como cada um pode ajudar os oceanos”.

 

Sylvia Earle em grande plano
Foto: Вени Марковски/Wiki Commons

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Aprenda como pode participar no projecto dos Hope Spots, lançado por Sylvia Earle em 2009.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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