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Foto: marcinjozwiak/Pixabay

Cientistas identificam as aves e mamíferos mais ameaçados pelas estradas na Europa

26.06.2020

Uma equipa internacional analisou as taxas de mortalidade rodoviária de aves e mamíferos na Europa e concluiu que nem sempre as espécies mais atropeladas são as mais vulneráveis à presença de estradas.

 

Os resultados do estudo foram publicados em Junho na revista científica Frontiers in Ecology and Environment, com base na análise de 90 estudos com registos de atropelamentos de mamíferos e aves terrestres em 24 países europeus, entre 2000 e 2018.

Os investigadores estimaram que cerca de 194 milhões de aves e 29 milhões de mamíferos morrem por ano em rodovias europeias, com um maior número de atropelamentos no centro da Europa, onde a densidade de estradas é maior.

Começaram por analisar as taxas de atropelamento para 140 espécies de aves e 75 espécies de mamíferos. Concluíram que, “de uma maneira geral, correm maior risco aquelas que são mais abundantes”, indicou à Wilder a autora principal do artigo, Clara Grilo, investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar no pólo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

A equipa desenvolveu também modelos para estimar as taxas de atropelamento de espécies não estudadas.

 

Cartaxo-comum. Foto: Michal Kochva/Wiki Comuns

 

Em Portugal, os dados analisados apontam para maiores taxas de atropelamento do cartaxo-comum, da toutinegra-de-cabeça-preta e da coruja-das-torres. Já nos mamíferos destacam-se o morcego-de-Kuhl, o morcego-pigmeu e também o ouriço-cacheiro.

 

Morcego-pigmeu. Foto: Evgeniy Yakhontov/Wiki Commons

 

No entanto, “não basta estimar atropelamentos e encontrar os segmentos de estrada com maior número de atropelamentos”, porque as espécies mais vulneráveis aos mesmos não são necessariamente as que são mais vezes atropeladas, sublinhou a investigadora.

Assim, a equipa identificou também a nível europeu “quais são as espécies particularmente vulneráveis à mortalidade adicional [ligada aos atropelamentos]”, com base nos parâmetros demográficos de cada uma. Por cada espécie, analisaram por exemplo a maturidade sexual, o número de crias por ninhada e de ninhadas por ano e a mortalidade natural anual.

 

Quais são as mais vulneráveis?

“As espécies mais vulneráveis à mortalidade adicional são aquelas que têm uma taxa de reprodução baixa e não conseguem compensar a perda de indivíduos devido aos atropelamentos. Por exemplo, as rapinas diurnas e os morcegos”, notou a investigadora. Os resultados do estudo apontam para 126 espécies de aves e mamíferos vulneráveis à morte nas estradas europeias.

 

A águia-de-asa-redonda é uma espécie de rapina diurna. Foto: Martin Mecnarowski/Wiki Commons

 

As concentrações mais altas de espécies de aves vulneráveis foram encontradas na Península Ibérica, Balcãs e países do Leste da Europa. No que respeita a espécies de mamíferos em maior vulnerabilidade, concentram-se no norte de Espanha, Itália, Áustria e Balcãs.

Importante agora é perceber, em populações de espécies vulneráveis, qual é a percentagem de indivíduos que morrem atropelados. Só assim vai ser possível determinar quais são aquelas que estão efectivamente em maior perigo.

“Do ponto de vista da conservação, tem que se ter em conta a densidade populacional para intervir com medidas de mitigação”, concluiu Clara Grilo. “Se apenas analisarmos o número de atropelamentos podemos estar a identificar incorretamente os segmentos de estradas que mais precisam de ser mitigados.”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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