Novas rosas na China, violetas na Turquia, camélias, um novo carvalho, begónias, pastinaca, plantas medicinais e especiarias foram algumas das 1.730 espécies descobertas em 2016, na “caça ao tesouro” que cientistas de todo o mundo fizeram na área da botânica.
A nova edição do relatório sobre “O Estado das Plantas do Mundo” foi divulgada esta quinta-feira, no Dia Internacional do Fascínio das Plantas, pelos Jardins Reais Botânicos de Kew, em Londres.
Entre as muitas descobertas de novas espécies botânicas para a ciência, o relatório anuncia que foram encontradas 11 novas espécies de mandioca, no Brasil – um dos achados considerados mais importantes, uma vez que pode ajudar a desenvolver novas variedades deste alimento que sustenta milhões de pessoas no mundo.
“Terceira na importância em termos mundiais, a seguir ao milho e ao arroz, a mandioca oferece mais segurança alimentar do que os cereais, pois os tubérculos podem ser deixados no solo até serem necessários, pode ser colhida em qualquer estação e contém cianido suficiente para deter as pestes”, assinalam os autores do documento.
Em Madagáscar, um novo género de bambu revelou-se por sua vez “maravilhoso”: o novo género Sokinochloa, do qual foram encontradas até agora sete espécies, é um bambu trepador que produz conjuntos de flores, mas apenas em intervalos de décadas.
Por vezes, é preciso esperar 50 anos para que este bambu floresça, “pelo que muita paciência foi necessária para esperar pelo seu aparecimento [das flores] para identificar e descrever as espécies.”
Também em 2016, investigadores revelaram 29 novas espécies de begónias, quase todas encontradas nas florestas da Malásia. Aliás, nas florestas tropicais da América do Sul e do Sudeste Asiático foram observadas 336 novas orquídeas.
Na Europa, não há praticamente descobertas relatadas, com excepção da Turquia, onde foram encontradas violetas e também uma nova pastinaca, entre outras novas espécies.
No total, existem hoje mais de 28.000 plantas associadas a usos medicinais, indica ainda o relatório, no qual colaboraram 128 cientistas de 12 países.
Kathy Willis, directora da área científica nos Kew Gardens, explicou ao The Guardian que não é invulgar encontrarem-se tantas novas plantas por ano. “Há enormes áreas sobre as quais não sabemos nada. Acho que é realmente encorajador saber que há tantas, mas tantas novas plantas para serem encontradas, no mundo.”
“As plantas são críticas para a vida na Terra e para todos os aspectos do bem-estar humano”, considerou ainda. “Fico mais entusiasmada com as plantas ligadas às colheitas, pois acho que um dos aspectos mais preocupantes nas alterações climática é o impacto sobre a segurança alimentar.”
No entanto, muitas das espécies agora descritas estão em risco de extinção, devido a novas urbanizações em áreas que antes eram selvagens, avisou.
O relatório destaca ainda as maiores ameaças para o mundo vegetal, como as alterações climáticas e a propagação de pragas como o temível besouro-verde, que se propagou da Ásia para os Estados Unidos e está prestes a espalhar-se pela Europa, devido ao comércio global e às redes de transporte.
Muitas vezes, as plantas não são devidamente apreciadas. “Hoje em dia há uma desconexão entre as plantas e as pessoas. O facto de que tantas delas são plantas nas quais nos apoiamos no dia-a-dia ou que têm o potencial de nos oferecer novas fontes de medicamentos ou comida ou combustível – não consigo pensar num argumento mais forte para conservarmos as plantas do que esse”, disse Kathy Willis ao The Guardian.
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Saiba mais.
Outros destaques do relatório sobre o Estado das Plantas do Mundo:
– Mais de 6.000 espécies de plantas são actualmente consideradas invasoras.
– 83% das 11.138 espécies nativas de Madagáscar são se encontram em mais lado nenhum fora desta ilha. Destas, pelo menos 1.600 estão em risco de extinção.
– Mais de 30.000 plantas estão hoje protegidas pelo Cites, acordo que assegura a sua protecção no âmbito do comércio internacional.