Um estudo em cidades alemãs e nos campos em redor concluiu que há mais polinização de flores em meio urbano, onde há mais abelhões e abelhas-do-mel que na parte rural.
Os resultados do novo estudo foram publicados esta quarta-feira na revista Nature Communications. A pesquisa foi liderada por cientistas do iDiv-German Centre for Integrative Biodiversity Research, da Universidade Martin Lutger de Halle-Wittenberg (MLU) e do Helmholtz Centre for Environmental Research.
A equipa trabalhou a partir de locais ricos em flores, como parques e jardins botânicos, em nove cidades alemãs, incluindo Berlim, Potsdam e Dresden. Comparou os dados aí obtidos com os resultados noutros locais igualmente ricos em flora, em zonas rurais nos arredores.
Tanta nas cidades como no campo, os cientistas usaram armadilhas para insectos para contabilizarem o número e variedade de espécies. Para medirem o grau de polinização, usaram vasos com flores de trevo (Trifolium pratense), contando as sementes aí produzidas. Registaram também todas as visitas de insectos a essas flores, 20 vezes por dia, durante 15 minutos.
Resultado: “As plantas polinizadas com mais sucesso estavam nas cidades. Aqui as flores foram visitadas mais vezes do que nas áreas rurais”, indica um comunicado do iDiv.
Na verdade, os investigadores encontraram mais diversidade e quantidade de insectos em zonas rurais, especialmente de moscas (dípteros) e borboletas. “Mas estes pouco fizeram para polinizar os trevos.”
Essa tarefa foi levada a cabo pelos insectos do grupo das abelhas (himenópteros), que mostraram mais riqueza de espécies e uma maior taxa de polinização dentro das cidades. “Na verdade, três em cada quatro dos visitantes das flores eram abelhões”, relata a equipa. “As abelhas-do-mel foram o segundo visitante mais importante.”
Razões para essas diferenças entre meio urbano e rural? Os cientistas acreditam que estas cidades alemãs têm muitos habitats disponíveis para abelhões e abelhas selvagens. “Boas oportunidades para nidificar podem ser encontradas nos solos expostos, em madeira morta e em cavidades nas paredes, e a grande variedade de plantas em flor nos parques e jardins assegura que há um fornecimento de comida de confiança.”
“As pessoas das cidades estão constantemente a alterar o seu ambiente. Encontrar o caminho certo [nesses ambientes] é algo para o qual as abelhas estão especialmente bem equipadas devido às suas capacidades de orientação e de aprendizagem muito desenvolvidas”, acrescentou Robert Paxton, autor principal do estudo e cientista do iDiv e da MLU, citado no comunicado. “Isso é obviamente mais difícil para moscas e borboletas!”
Campos cultivados são pouco acolhedores
Em contrapartida, faixas com flores, prados, florestas e sebes, que poderiam acolher estes insectos nas zonas agrícolas, são uma presença rara em grandes áreas de cultivo.
“Fiquei realmente chocado ao perceber como é que a performance de polinização em terras cultivadas é pobre de uma forma tão consistente”, notou o investigador. Paxton acredita que o grande uso de pesticidas nas culturas pode ser uma explicação – pois sabe-se que prejudicam fortemente estes insectos – tal como o facto de estes produtos serem menos usados dentro das cidades.
Estima-se que 90% de todas as espécies de plantas com flor dependem de animais para a sua polinização. Também a nossa comida depende de serviços prestados pelos polinizadores. Calcula-se que estes terão valido entre 235 a 557 mil milhões de dólares (entre 214 a 506 mil milhões de euros) para a agricultura mundial.
As cidades poderão ser uma fonte de insectos polinizadores para os campos que as rodeiam, a médio prazo, e por isso devem tornar-se mais atraentes, acredita a equipa. “As necessidades dos abelhões devem ser especialmente tidas em conta quando planeamos espaços verdes.”
Os investigadores aconselham também a que sejam criados mais espaços de nidificação e áreas ricas em flores nos campos e nas ligações entre espaços urbanos e rurais, por exemplo “para suportar a polinização em pomares comerciais.”
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