Castor. Foto: Bohuš Číčel/WikiCommons

Castores constroem em dois dias barragem que Chéquia estava há sete anos para fazer

11.02.2025

Uma colónia de castores (Castor fiber) no Parque Natural de Brdy, na Chéquia, construiu em apenas dois dias uma barragem que o governo local estava para construir há sete anos e que estava orçada em 1,2 milhões de euros.

O objectivo do projecto do governo era recuperar as zonas húmidas do Parque Natural de Brdy e assim ajudar a reter humidade naquela região. Mas estava há sete anos à espera das licenças e autorizações das autoridades responsáveis pela bacia hidrográfica do rio Vltava para poder avançar.

Segundo a Radio Prague International, uma família de castores fez este trabalho em apenas dois dias, construindo várias pequenas barragens e criando assim uma zona húmida natural exactamente onde fazia falta. Poupou às autoridades locais cerca de 1,2 milhões de euros. 

Segundo os técnicos ambientalistas, vivem naquela zona pelo menos oito castores mas há outros nas proximidades.

Os castores ergueram as barragens num local que uma base militar tinha drenado há vários anos.

Bohumil Fiser, responsável pela Paisagem Protegida de Brdy, disse à Radio Prague International que a natureza seguiu o seu curso e os castores criaram as condições necessárias praticamente de um dia para o outro.

“A gestão florestal militar e a Bacia do Rio Vltava estavam a negociar entre si para avançar com o projecto e resolver questões relativas à propriedade dos terrenos. Os castores ganharam a todos, poupando-nos 1,2 milhões de euros. Construíram as barragens sem qualquer documentação legal e de graça”, comentou o responsável.

“Os castores são capazes de construir uma barragem numa noite, duas noites no máximo”, comentou o zoólogo Jiri Vlcek à mesma rádio. “Já as pessoas têm de ter licenças de construção, conseguir que o projecto seja aprovado e arranjar financiamento”, acrescentou.

Os técnicos de conservação que estiveram no local afirmam que a zona húmida e as lagoas que os castores criaram vão oferecer boas condições para outras espécies mais raras, como por exemplo algumas espécies de anfíbios.

“Os castores é que sabem. Os locais onde constroem as barragens são sempre escolhidos da forma certa, melhor do que se os tivéssemos projectados no papel”, disse Jaroslav Obermajer, coordenador do departamento regional da Agência Chéquia para a Protecção da Natureza e da Paisagem (AOPK).

De acordo com esta agência, os castores já tinham ajudado a reter a água em outras regiões. Mas nem sempre aquilo que os animais fazem é do interesse dos humanos. O que não aconteceu desta vez.

Em 2016, investigadores britânicos publicaram um estudo com os benefícios dos castores para recuperar rios e travar picos de cheia, por exemplo.

O regresso do castor

O castor é o maior roedor que viveu na Península Ibérica em tempos históricos. Outrora espalhado pela Europa e uma espécie abundante, o castor foi caçado até à quase extinção, tendo desaparecido de grande parte da sua área de distribuição.

Em Portugal, o castor ter-se-á extinguido no século XV devido à destruição de zonas húmidas e à caça excessiva. No resto da Europa, o desaparecimento deste mamífero chegou mais tarde, no final do século XIX, devido, principalmente, à caça intensiva (por causa da carne, pêlo e óleo de castor). Nessa época restariam apenas cerca de 1.200 exemplares distribuídos por oito populações, sendo a do Baixo Ródano, em França, a mais próxima da Península Ibérica. 

A sorte do castor na Europa começou a mudar no início do século XX graças a projectos de reintrodução e translocação (movimentação de indivíduos de uma área para outra, para ajudar a restabelecer populações e recuperar territórios históricos). A recuperação da espécie começou em 1922 depois da sua reintrodução na Suécia e, desde então, tem sido reintroduzido em mais de 20 países, por vezes de forma irregular.

O regresso à Península Ibérica aconteceu em 2003, quando 18 castores, vindos do Norte e Sudoeste da Europa, foram libertados, não oficialmente, na bacia do rio Ebro, em Espanha. 

Em 2018, a Comissão Europeia declarou o castor uma espécie historicamente nativa e, depois disso, o Governo espanhol declarou o castor como espécie protegida.

Em 2023 foram encontrados vestígios de castores no rio Douro, a apenas cinco quilómetros da fronteira com Portugal. Os indícios de castor foram encontrados no rio Tormes, afluente que desagua no troço internacional do rio Douro, perto da povoação da Bemposta (Mogadouro). O registo dista da fronteira portuguesa 11 quilómetros ao longo do rio, mas apenas 5 a 6 quilómetros em linha recta, segundo os investigadores Alfonso Balmori de la Puente e Teresa Calderón, dois dos autores do artigo.

Nesse mesmo ano, a 1 de Julho, investigadores espanhóis confirmaram a presença da espécie também na bacia do rio Guadalquivir, mais concretamente em Villatorres e Torreblascopedro, na província de Jaén. Acreditam que a presença de castores na região seja “consequência de outra introdução irregular”.

Em Junho de 2024 foram descobertos, pela primeira vez, castores no rio Tejo, do lado espanhol.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

Don't Miss