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Grande Barreira de Coral, um dos recifes mais conhecidos do mundo, na Austrália. Foto: Ryan McMinds / Wiki Commons

Branqueamento de corais chegou mesmo aos recifes profundos

06.09.2018

Afinal, o último evento de branqueamento massivo não afectou apenas os corais de águas rasas mas também os recifes profundos, segundo um estudo científico coordenado por um investigador português.

 

O evento de branqueamento massivo de 2016 causou a morte de 30% dos corais de águas rasas na Grande Barreira de Coral, ao largo da Austrália. Isto por causa das temperaturas anormalmente elevadas.

Um estudo publicado agora na revista Nature Communications demonstra que os danos são sentidos também nos recifes profundos, até profundidades de 40 metros.

“Foi um choque ver que o branqueamento se estendeu a esses recifes menos iluminados porque esperávamos que essas profundidades tivessem proporcionado proteção contra este acontecimento devastador”, disse, em comunicado Pedro Frade, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) e principal autor do estudo.

A Grande Barreira de Coral é conhecida por ter extensas áreas de recifes de coral profundos. No entanto, dada a sua profundidade, estes recifes são difíceis de estudar.

Utilizando veículos de operação remota, a equipa científica fixou sensores até 100 metros de profundidade para caracterizar como a temperatura em profundidade difere das condições no recife raso.

“Durante o evento de branqueamento, o afloramento de água fria do fundo do mar inicialmente gerou condições mais frias no recife profundo. No entanto, quando este afloramento parou no final do Verão, as temperaturas subiram para níveis recorde, mesmo em profundidade”, disse Pim Bongaerts, co-autor do estudo e investigador da Academia de Ciências da Califórnia.

A equipa de mergulhadores realizou pesquisas durante o auge do branqueamento em vários locais no norte da Grande Barreira de Coral. Eles observaram que, em geral, o branqueamento severo e consequente mortalidade afetaram quase um quarto dos corais a 40 metros de profundidade, embora confirmando relatos anteriores que referiam que cerca de metade dos corais teriam sido fortemente afetados nos recifes rasos.

“Infelizmente, esta pesquisa destaca ainda mais a vulnerabilidade da Grande Barreira de Coral”, comentou Ove Hoegh-Guldberg da Universidade de Queensland, onde o estudo foi realizado.

De acordo com o estudo, o branqueamento de corais profundos limita o papel destes enquanto “refúgio” contra as anomalias térmicas derivadas do aquecimento global.

“Já sabíamos que o papel de refúgio dos recifes profundos é geralmente diminuto devido à partilha limitada de espécies com o recife raso. No entanto, agora descobrimos uma limitação adicional, já que os recifes profundos podem ser eles mesmos também afetados por temperaturas altas da água do mar.”

Os investigadores irão agora estudar o processo de recuperação dos corais branqueados e como este varia entre os recifes rasos e profundos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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