As comunidades com mais espécies de peixes são mais produtivas e resilientes à subida e oscilação das temperaturas nos oceanos, conseguiu provar uma equipa internacional de biólogos marinhos.
O novo estudo, publicado a 16 de Maio na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, diz ser a prova mais completa até agora de que preservar a biodiversidade marinha pode beneficiar tanto as pessoas como os próprios oceanos.
“A biodiversidade é mais do que uma cara bonita”, comentou em comunicado o principal autor do estudo, Emmett Duffy, director da Rede de Observatórios Marinhos de Tennenbaum e cientista sénior no Centro de Investigação Ambiental do Smithsonian. “Conservar a biodiversidade não é só uma questão espiritual ou estética, é uma questão crucial para o saudável funcionamento dos ecossistemas e para os serviços que eles fornecem aos seres humanos, entre eles o alimento”, acrescentou.
A descoberta surgiu do projecto Reef Life Survey, um vasto programa que realizou censos sobre mais de 3.000 espécies de peixes em 44 países em todo o mundo. Muitas das pessoas que fizeram os censos eram cidadãos voluntários, um terço dos quais não tinha experiência científica. Mergulhadores voluntários de 11 países receberam formação dos cientistas do projecto na Universidade da Tasmânia para recolher dados usando métodos padronizados.
“Este estudo é baseado em mais de 4.000 censos subaquáticos”, acrescentou o co-autor do artigo, Rick Stuart-Smith, da Universidade da Tasmânia. “Isto só foi possível graças à contribuição entusiasta de mergulhadores voluntários (…), o que nos permitiu ter esta vasta cobertura dos recifes do mundo, desde as águas tropicais às polares.”
Munidos com bases de dados sobre a biodiversidade marinha, os investigadores estudaram de que forma 11 factores ambientais diferentes influenciam a biomassa de peixes total nos recifes de todo o mundo. Curiosamente, um dos factores mais importantes foi a biodiversidade: o número de espécies e a variedade de formas como estas usam o ambiente reforça a biomassa de peixes. O aumento dos peixes gerado pela biodiversidade só foi ultrapassado por outro factor, o aumento das temperaturas.
Ainda assim, a temperatura tem uma relação mais complexa com a biomassa: oceanos mais quentes tendem a aumentar a biomassa mas as flutuações de temperatura tendem a travá-la. Já a biodiversidade torna as comunidades de peixes mais resilientes em relação às alterações climáticas.
Em comunidades com poucas espécies, a biomassa tende a aumentar com o aumento das temperaturas dos oceanos até aos 20ºC; depois deste limiar, a biomassa começa a decair. As comunidades com muitas espécies tendem a continuar estáveis com temperaturas mais elevadas.
Outro benefício da biodiversidade é proteger os peixes das flutuações de temperatura.
“Estes resultados monstram que preservar a biodiversidade local não é apenas uma questão de ética com valor genético e estético, mas é um imperativo para a vida humana”, comentou outro autor do estudo, Sergio Navarrete da Universidade Católica Pontifícia do Chile.