Peixes limpadores da grande barreira de coral australiana podem deixar de limpar outras espécies, alerta estudo internacional liderado por investigadores portugueses.
Nos recifes de coral, a maioria dos peixes é “cliente” dos peixes limpadores. Estes libertam-nos de parasitas e de pele morta e até os ajudam a aliviar o stress.
É isto que acontece, por exemplo, entre o peixe-limpador da espécie Labroides dimidiatus e o peixe unicórnio-elegante (Naso elegans).
Até agora eram pouco conhecidos os potenciais efeitos do aumento da temperatura da água dos oceanos e da acidificação nestas carismáticas associações entre peixes.
Um estudo internacional – coordenado por investigadores portugueses pólo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) – quis saber que consequências podem ter as alterações climáticas nas relações entre estas duas espécies de peixes.
Num artigo publicado a 4 de Setembro na revista Scientic Reports do grupo Nature, os investigadores concluíram que, “após uma longa exposição a água mais quente e mais ácida, os peixes limpadores – Labroides dimidiatus – reduzem a motivação para interagir com outros peixes do recife de coral”, explica um comunicado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
O trabalho, realizado no Laboratório Marítimo da Guia – onde há um grupo de investigação que estuda o impacto das alterações climáticas nos organismos marinhos -, usou valores de temperatura e de pH previstos pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) para o fim do século.
Segundo os investigadores, o aumento da temperatura da água e da sua acidez causam alterações neurobiológicas associadas ao comportamento limpador dos peixes.
Ou seja, ao estudar o funcionamento do cérebro destes peixes, os cientistas “perceberam que as alterações observadas estavam correlacionadas com mudanças nos níveis de neurotransmissores no cérebro (dopamina e serotonina)”.
“Acreditamos que estas mudanças neurobiológicas associadas ao comportamento limpador podem afectar a manutenção das estruturas comunitárias dos recifes de coral”, escrevem os autores no artigo científico.
Isto porque, estas relações entre peixes “modelam a diversidade, abundância e recrutamento de inúmeras espécies de peixes”, segundo o comunicado.
“Perceber como as alterações climáticas podem afetar estes mutualismos é uma prioridade para a investigação marinha.”
O trabalho, iniciado em Novembro de 2014, contou com a colaboração de investigadores da Universidade Nova de Lisboa, da Universidade de Uppsala, na Suécia e da Universidade de James Cook, na Austrália.