No último ano, Afroz Shah, um advogado indiano, mobilizou 1.500 voluntários que retiraram quatro mil toneladas de plásticos, vidros e lixo da praia Versova, em Bombaím. Esta já é a maior limpeza de praia do planeta. As Nações Unidas reconheceram o seu trabalho e deram-lhe agora o título de Campeão da Terra.
Afroz Shah é um dos vencedores da edição deste ano dos prémios Campeões da Terra, atribuídos pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) e que foram entregues a 2 de Dezembro na COP13 da Convenção sobre Diversidade Biológica (2 a 17 de Dezembro) em Cancún (México).
Este advogado venceu na categoria Acção e Inspiração, por causa dos seus esforços em lançar aquela que se tornou na maior limpeza de praia do planeta.
“Os esforços de Shah, e as centenas de voluntários que ele inspirou, são um exemplo maravilhoso da acção cidadã e lembram o resto do mundo que até os acordos mais ambiciosos e globais dependem da determinação individual”, comentou Erik Solheim, director do PNUA, em comunicado. “A sua espantosa liderança está a chamar a atenção do mundo para os impactos devastadores do lixo marinho”, acrescentou.
Em Outubro de 2015, Shah e o seu vizinho Harbanash Mathur, de 84 anos e que entretanto faleceu, decidiram que tinham de fazer alguma coisa para resgatar a praia do lixo que a estava a engolir. Por isso, arregaçaram as mangas e começaram os dois a limpar uma faixa de 2,5 quilómetros. O lixo – incluindo sacos de plástico, sacos de cimento, garrafas de vidro, peças de roupa e sapatos – cobria todo o areal.
Shah decidiu depois bater à porta dos moradores e pescadores da zona para lhes falar dos danos causados pelo lixo marinho. Em apenas um ano, a missão de duas pessoas cresceu e transformou-se numa comunidade de 1.500 voluntários de todas as idades que quiseram tornar a sua praia, mangais e oceano mais saudáveis e seguros, para os humanos e para as espécies marinhas.
Todos os fins-de-semana, os voluntários trabalharam oito horas nas praias, às vezes debaixo de um Sol abrasador, usando pás, camiões ou apenas as suas mãos.
“Este prémio é uma honra para as centenas de voluntários que se juntaram a mim durante este último ano para limpar a nossa praia e oceano”, disse Shah. “Sou um apaixonado pelo oceano e sinto que temos o dever de o libertar do plástico.”
O vencedor espera que este seja o início da luta das comunidades costeiras contra o lixo marinho. “Nós humanos precisamos fortalecer a nossa ligação com o oceano e não temos de esperar por alguém que nos ajude a fazê-lo”.
Todos os anos, em todo o mundo são produzidas quase 300 milhões de toneladas de plásticos e uma quantidade semelhante de lixo plástico. Desses, 13 milhões de toneladas acabam nos oceanos, segundo dados do PNUA. “É como se estivéssemos a despejar dois camiões do lixo no mar a cada minuto. O plástico danifica as nossas pescas, os ecossistemas marinhos e as economias, com um custo de até 13 mil milhões de dólares (cerca de 12 mil milhões de euros) por ano”, acrescenta o comunicado do PNUA.
Shah quer agora expandir a acção do seu grupo e evitar que o lixo acabe no rio local, que desagua na praia. Além disso, está previsto o início da limpeza das florestas de mangais na costa, cobertas de lixo, e do esforço para inspirar pessoas na Índia e no resto do mundo a lançar os seus próprios movimentos de limpeza.
Os outros vencedores dos prémios Campeões da Terra 2016 são o biólogo mexicano José Sarukhan Kermez (Prémio Carreira), o Presidente do Ruanda Paul Kagame (Liderança Política), a Agência de Energia Sustentável Marroquina Masen (Visão empresarial), a australiana Leyla Acaroglu com produtos inovadores para a sustentabilidade (Ciência e Inovação) e um prémio póstumo (Acção e Inspiração) para Berta Cáceres, a defensora dos direitos humanos nas Honduras, assassinada em Março deste ano.
Os prémios reconhecem líderes do Governo, sociedade civil e sector privado por acções com um impacto positivo no Ambiente. Desde que foram criados, há 12 anos, já distinguiram 78 pessoas.
[divider type=”thick”]Saiba mais.
Conheça os portugueses que estão a limpar as praias do país, como o projecto “Mariscar Sem Lixo”, ou o projecto Plasticus maritimus. E por que não visitar a exposição sobre lixo marinho deste último projecto, no Centro de Interpretação Ambiental Pedra do Sal, em Cascais, até Maio? Fica a sugestão.