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Campanha SOS Cagarro. Foto: Andreia Amaral

Açores apagam as luzes durante vários dias para salvar estas aves

25.10.2024

Pelo quinto ano consecutivo, a ilha do Corvo realiza, de 27 a 31 de outubro a partir das 21h00 e de 1 a 9 de novembro a partir das 00h00, um apagão geral da iluminação pública para salvar cagarros (Calonectris borealis).

Esta é uma iniciativa da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e da Câmara Municipal do Corvo, e este ano conta ainda com um grupo de ação que prestará apoio à implementação da Campanha SOS Cagarro na ilha de 23 de outubro a 9 de novembro. 

Campanha SOS Cagarro. Foto: Andreia Amaral

Para além do Corvo fazer um apagão geral das suas luminárias, são muitas as entidades e municípios por todo o arquipélago dos Açores que se associam à Campanha SOS Cagarro e reduzem a sua iluminação em zonas críticas para o cagarro. Na Ilha de São Miguel, várias localidades realizam apagões parciais, nomeadamente Vila Franca do Campo, Vila da Povoação, Faial da Terra e pela primeira vez, Vila do Nordeste. Também entidades como a Lotaçor e a EDA juntam os seus esforços para contribuir para tornar as noites mais seguras para os cagarros.  

Esta medida, que acontece durante o período crítico de emancipação dos juvenis de cagarro, pretende minimizar o impacto da poluição luminosa nos primeiros voos destas aves e aumentar o conhecimento disponível sobre o impacto desta ameaça nos juvenis de cagarro ao abandonar o ninho e nos primeiros dias da sua vida, período sobre o qual há pouca informação.  

Juvenil de cagarro. Foto: Tânia Pipa

Ao abandonar o ninho, em outubro e novembro, os juvenis de cagarro são atraídos pelas luzes das nossas vilas e cidades, ficando desorientados e acabando por cair por terra, podendo ser predados por cães e gatos, sofrer colisões e ferimentos ou mesmo desidratação e até correr o risco de atropelamento. Estes fatores podem pôr em risco e diminuir a sua probabilidade de atingirem a idade adulta, não só nos Açores, mas também na Madeira e nas Canárias.   

“Para além dos apagões e brigadas de resgate já habituais, nos Açores têm vindo a ser instalados os chamados ‘hotéis de cagarros’, onde se podem encontrar caixas vazias para resgatar um cagarro ou deixar uma caixa com o cagarro resgatado. Mas convém não esquecer de enviar mensagem ao responsável pelo ‘hotel’ com informação sobre o resgate”, explicou, em comunicado, Azucena de la Cruz, coordenadora da SPEA Açores. Estes hotéis de apoio às brigadas podem ser encontrados em várias ilhas do arquipélago incluindo Corvo, Graciosa, Faial, e em São Miguel.  

Voluntários na ilha do Corvo. Foto: Tânia Pipa

“Para além destes, estamos a fazer um esforço para capacitar os jovens para que possam realizar brigadas e libertações adequadamente no âmbito do projeto Educar para Conservar financiado pelo Fundo Ambiental. Queremos jovens mais ativos na conservação da Natureza.“   

No caso do Corvo, estas ações estão integradas no Laboratório de Poluição Luminosa instalado naquela ilha e em diversas ações do projeto LIFE Natura@night e são um exemplo a nível mundial, pois minimizam o impacto desta ameaça e aumentam o conhecimento contribuindo para a implementação da Estratégia Macaronésica para a mitigação de uma das ameaças prioritárias para as aves marinhas na Região.   

Ainda no Corvo, este ano a campanha irá contar com a colaboração ativa de 14 voluntários (além das crianças e jovens corvinos), que irão apoiar ativamente o Parque Natural da ilha e a SPEA na implementação da Campanha SOS Cagarro e na monitorização do apagão geral.  

Cagarro. Foto: Tânia Pipa

Campanha SOS Cagarro é coordenada pela Direção Regional das Políticas Marítimas e apoiada pela SPEA, através dos vários projetos de conservação de aves marinhas a decorrer nos Açores, nomeadamente, LIFE Natura@night, LIFE IP Azores Natura e Fundo Ambiental.  

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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