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Trepadeira-dos-muros. Foto: Daniel Dunca/Shutterstock

A inconfundível trepadeira-dos-muros é a Ave do Ano 2025 em Espanha

09.01.2025

Cerca de 7.000 pessoas votaram para escolher a Ave do Ano 2025 em Espanha. A eleita foi a inconfundível trepadeira-dos-muros, uma espécie ligadas às montanhas e difícil de observar, revelou a Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife).

A trepadeira-dos-muros (Tichodroma muraria) é uma pequena ave cinzenta com asas pretas e vermelhas.

Foi ela a grande vencedora desta 36ª edição desta campanha da SEO/Birdlife que pretende chamar a atenção das pessoas para espécies em declínio populacional ou com ameaças à sua conservação. Do total de 6.883 votos, a trepadeira-dos-muros recebeu 2.537 votos (36,81%).

O pisco-de-peito-azul ficou em segundo lugar, com 2.334 votos (33,86%) e o pardal-das-neves em terceiro, com 2.022 votos ( 29,33%).

A trepadeira-dos-muros é uma das aves mais chamativas da avifauna espanhola, ainda que seja também uma das mais esquivas. A sua cor, predominantemente cinzenta, fá-la passar despercebida até que, ao levantar voo, exibe as suas asas de cor avermelhada.

“Trata-se de uma ave inconfundível, de voo ondulado e espasmódico como o de uma enorme borboleta”, descreve a SEO/Birdlife em comunicado. Está intimamente ligada às escarpas rochosas das zonas de montanha.

É uma ave insectívora e consome todo o tipo de pequenos invertebrados que captura nas paredes rochosas ou em fissuras com alguma vegetação. Por vezes também se alimenta nos troncos de árvores ou em matagais.

Em Portugal é considerada uma visitante acidental, segundo o portal Aves de Portugal. “Nos últimos 30 anos, esta ave singular tem sido observada com alguma regularidade em Portugal. Contudo, apesar da aparente regularidade de observações em anos recentes, a espécie continua a ter no nosso país o estatuto de acidental”.

A espécie distribui-se pelas montanhas da Eurásia e tem em Espanha a sua área mais ocidental da sua distribuição.

“Dado que o seu habitat é muito pouco acessível e a espécie é relativamente difícil de detectar, são muitas as incógnitas sobre o seu estado de conservação”, salienta a organização.

Ainda assim, é possível dizer que a população espanhola está muito fragmentada e que as suas principais áreas de reprodução estão em zonas distanciadas entre si na cordilheira Cantábrica e nos Pirinéus.

Sabe-se ainda que o seu período reprodutor começa em meados de Maio ou início de Junho.

De acordo com o III Atlas das Aves Reprodutoras de Espanha, esta espécie está especializada para viver num habitat muito determinado e a densidade estimada no seu habitat é muito baixa, por isso a população ibérica terá, necessariamente, de ser pouco numerosa.

Em 2012 estimou-se um mínimo de 65 territórios de trepadeira-dos-muros nos Pirinéus catalão, e em 2015 confirmaram-se entre 595 e 704 territórios nos Pirinéus aragonês. Para a cordilheira Cantábrica a informação é incompleta, mas poderia estimar-se entre 50 e 100 territórios. Assim, pode dizer-se que, para toda a Espanha, o número de territórios oscila entre 600 e 900 e que a população de reprodutores estaria entre os 1.200 e os 1.800 indivíduos.

As alterações climáticas e as alterações no habitat são claras ameaças para esta ave de voo ondulado, identificou a SEO/Birdlife.

“Os efeitos do aumento da temperatura no planeta são claramente visíveis nos habitats de alta montanha e as espécies de aves que dependem destes meios são muito sensíveis às variações nas estritas condições em que vivem.”

A trepadeira-dos-muros está adaptada a condições muito concretas de temperatura e de precipitação. “É mais do que provável que tanto a área de distribuição como o tamanho populacional desta espécie se reduzam no contexto das previsões de alterações climáticas, dado que, ao aumentarem as temperaturas os habitats adequados se tornem cada vez mais escassos”, alertou a SEO/Birdlife.

Para ajudar esta ave, ao longo de 2025 a organização vai realizar vários projectos de Ciência, conservação, educação e divulgação para a dar a conhecer e “ajudar a solucionar os problemas que tanto esta espécie como todas as aves de alta montanha enfrentam”.

Por exemplo, a SEO/Birdlife vai trabalhar com federações de montanhismo e associações de guias de montanha e de escalada para sensibilizar para os danos que essas práticas desportivas podem causar às aves. O objectivo é compatibilizá-las com a conservação das aves de montanha.

Também está prevista a publicação dos resultados do primeiro censo espanhol de aves de alta montanha – ou seja, que desenvolvem o seu ciclo vital acima dos 1.500 metros de altitude -, cujos trabalhos terminaram em 2024. “Com estes resultados melhoraremos o conhecimento disponível sobre o tamanho populacional e distribuição de um dos grupos de aves mais desconhecido, proporcionando informação básica para conhecer o seu estado de conservação.”


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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