Esteva (Cistus ladanifer). Foto: Otília Correia

Passeios botânicos: Descubra as plantas (e outros aspectos) fascinantes da Serra da Arrábida

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Na semana do Dia Internacional do Fascínio das Plantas, que se comemora esta quarta-feira, dia 18, Maria Amélia Martins-Loução, presidente da SPECO – Sociedade Portuguesa de Ecologia, sugere-nos um dos lugares que mais lhe apraz visitar.

“A Serra vista de longe parece uma elevação com vegetação toda idêntica, mas é na verdade um engano”, explica a presidente da SPECO.

É que em contraste com as encostas a norte, que são “suaves”, as encostas da Arrábida viradas a sul são “bastante inclinadas em direcção ao mar”, descreve Maria Amélia Martins-Loução, que é também professora catedrática aposentada e investigadora na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. “É esta disparidade, com o azul do mar, ao fundo, que maravilha o visitante.”

Vista geral da Serra da Arrábida. Foto: Maria Amélia Martins-Loução

A juntar a este contraste e à geomorfologia, há o aspecto litológico, também ele “diverso” – ou seja, a constituição das rochas. Por aqui podemos encontrar “uma série de rochas carbonatadas de calcário, margas, brechas, arenitos que origina solos esqueléticos heterogéneos, pobres (terra rossa), que possibilitam a sobrevivência de uma diversidade de flora que nos maravilha”. 

Em qualquer época do ano, aliás, “a Serra da Arrábida é sempre bela”, nota a presidente da SPECO. “Nas matas, nas encostas viradas a norte, imperam as árvores frondosas de carvalho cerquinho (Quercus faginea), zelha ou bordo (Acer monspessulanum), misturados com outras espécies que normalmente formam arbustos, como o  carrasco (Quercus coccifera), o aderno de folhas largas (Phillyrea latifolia) ou o lentisco (Pistacia lentiscus), que aqui se erguem competindo para a luz e exibindo uma forma arbórea invulgar.”

Já nas encostas da Serra que estão viradas a sul, “a vegetação é arbustiva, constituindo o que se denomina maquis, onde sobressai o verde escuro e/ou acizentado”.

Quem visitar estes locais, pode avistar em qualquer altura do ano “plantas arbustivas esclerófilas, sempre verdes – enumera Maria Amélia Martins-Loução – como o medronheiro (Arbutus unedo), carrasco (Quercus coccifera), o aderno-de-folhas-largas (Phillyrea latifolia), o aderno-de-folhas-estreitas (Phillyrea angustifolia), o lentisco (Pistacia lentiscus) ou a urze-molar (Erica arborea).”

Medronheiro (Arbutus unedo). Foto: Otília Correia

Outras espécies abundantes são as “semi-decíduas de Verão”, ou seja, plantas que perdem as folhas apenas por um curto período de tempo nesta estação. Exemplos? “O saganho-mouro (Cistus salvifolius ), o sargaço (Cistus monspeliensis), a roselha-grande (Cistus albidus), a esteva (Cistus ladanifer), o alecrim (Rosmarinus officinalis), o rosmaninho (Lavandula stoechas) e a lavanda (Lavanda pedunculata)”, acrescenta a investigadora.

Plantas com estratégias de sobrevivência

Todas estas plantas são “responsáveis por uma panóplia de cores, odores e formas que atraem insectos num rodopio incessante”.

“A beleza desta riqueza florística está aliada à diversidade de adaptações – morfológicas, fisiológicas, simbióticas e ciclos de vida – que as diferentes espécies desenvolvem para sobreviver à falta de água e nutrientes no solo, às oscilações de temperatura, à forte exposição solar e até aos fogos.”

Carrasco (Quercus coccifera). Foto: Otília Correia

No que respeita à falta de água, as plantas da Arrábida lidam com esta realidade “ao tirar partido de nevoeiros matinais que lhes fornecem a água oculta que as diferentes espécies tão bem sabem usar”. Quanto à polinização, “é assegurada por numerosos insectos que abundam consoante a hora do dia.”

Mas não só. “Muitas das esclerófilas – plantas de folhas duras e coriáceas adaptadas a condições de secura – produzem frutos altamente apetecíveis pelas aves, que as dispersam assegurando a sua presença ao longo de toda a serra.”

Uma sugestão de visita

Um dos locais de fácil acesso onde toda esta transição pode ser vista, sugere a presidente da SPECO, fica no início da estrada que segue em direcção ao Portinho da Arrábida, para quem vai de Sesimbra para Setúbal.

“Quando se toma este caminho encontra-se uma pequena elevação, o Jaspe, onde do lado esquerdo se podemos penetrar na mata e apercebermo-nos da dimensão das espécies”, explica.

“Mas se seguirmos em frente, encontramos um pequeno promontório que desce primeiro suavemente e depois a pique direito ao mar, onde o maquis se espraia em todo o seu esplendor. Neste morro, com uma beleza que nos esmaga, com o vento a bater na cara e o sol tórrido a queimar-nos no Verão, ou o frio a tolher-nos no Inverno, somos levados a pensar como é que em locais destes, tão desabrigados e inóspitos, as espécies conseguem viver e dispersar.”


Ao longo desta semana, esteja atento às sugestões que a Wilder vai publicar sobre locais de interesse botânico em Portugal. Para já, conheça a Serra do Gerês e a Duna de Montalvo, na zona entre Alcácer do Sal e a Comporta.

Se quiser descobrir ainda mais locais botânicos fascinantes, consulte a obra “Sítios de Interesse Botânico de Portugal Continental” (Volume I e Volume II), da Sociedade Portuguesa de Botânica, disponível de forma gratuita através da editora Imprensa Nacional. E aproveite e conheça toda a Coleção Botânica em Português, de acesso gratuito.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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