Pinheiro-manso (Pinus pinea). Foto: Jebulon/WikiCommons

O que procurar no Outono: o pinheiro-manso

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O pinheiro-manso é uma daquelas árvores que facilmente se consegue identificar, por isso, aproveite os dias de outono para procurar mais uma bela e encantada árvore nativa. Se estiver calor, aproveite a sombra da sua copa em forma de chapéu-de-sol; mas se chover, abrigue-se sob o seu chapéu-de-chuva.

As árvores são fundamentais para a vida da Terra. Têm uma elevada importância ecológica, pois são organismos eficazes para o equilíbrio dos ecossistemas. Fornecem sombra, ajudam a equilibrar a temperatura ambiente e a manter a qualidade e a humidade do ar, são fundamentais para a proteção dos solos.

Pinheiro-manso (Pinus pinea). Foto: Jebulon/WikiCommons

São também muito importantes para muitas espécies de seres vivos, nomeadamente outras plantas, fungos, líquenes e animais, servindo de habitat e de fonte de alimento.

A economia de muitas regiões também depende de muitos recursos que delas se consegue obter. A madeira, o fruto, o carvão, as flores são matérias-primas essenciais para o dia-a-dia do ser humano. Algumas árvores têm também um grande valor paisagístico e ornamental que valorizam os espaços onde se encontram.

E, nesta época, em que o frio se começa a aproximar, é habitual a procura de lenha e de pinhas para aquecer a casa. Mas não nos podemos esquecer que as árvores são muito mais do que um recurso para o homem. São verdadeiros monumentos vivos que devem ser preservados para garantir a sua sustentabilidade e naturalmente a vida na Terra.

O pinheiro-manso (Pinus pinea) é uma espécie florestal de aparência distinta e muito elegante, de grande valor paisagístico, ornamental e económico. É amplamente conhecido pelas suas sementes comestíveis – os pinhões – e por possuir uma copa com aparência de guarda-sol.

O pinheiro-manso

O pinheiro-manso é uma espécie resinosa da família Pinaceae, de crescimento lento, e que pode viver até aos 300 anos de idade, tendo já sido identificados alguns exemplares com 400 a 500.

É uma árvore que pode crescer até 25 metros de altura, podendo muito excepcionalmente chegar a atingir os 50 metros. Possui tronco direito e robusto, casca castanho-avermelhada e espessa, e forma copas densas e amplas. Os indivíduos jovens possuem formas arredondadas; no entanto, com a idade desenvolvem copas mais largas que parecem um chapéu-de-sol.

As folhas são persistentes, aciculares (em forma de agulha), agrupadas aos pares, ligeiramente torcidas, muito firmes e flexíveis. Possuem cor verde-acinzentada brilhante e persistem na árvore três a quatro anos, renovando-se sem que a árvore fique despida.

Como é uma espécie monóica, as flores, masculinas e femininas, crescem na mesma árvore. A floração ocorre na primavera, entre os meses de março a maio, mas muitas vezes as flores passam completamente despercebidas. São muito pequenas, dispostas em inflorescências na extremidade dos ramos do ano. As flores masculinas têm cor amarela e as femininas são verdes.

As pinhas ou cones são grandes, solitárias ou agrupadas em conjuntos de 2 a 3 pinhas, com forma ovóide, verdes quando novas, tornando-se castanho-avermelhadas na maturação. O período de maturação das pinhas é muito longo, demorando três anos após a fertilização dos óvulos.

Foto: Luis Fernández García/WikiCommons

Estas pinhas são revestidas por escamas que protegem a semente – o pinhão – que cai no outono do terceiro ano ou na primavera do quarto ano. Sob cada escama encontram-se geralmente dois pinhões ovóides, com 1,5 a 2 cm de comprimento, com asa alada e pequena e com uma cobertura externa lenhosa, rígida e espessa que protege a semente.

As primeiras pinhas começam a surgir por volta dos 3 a 4 anos de idade, no entanto a frutificação é mais abundante entre os 15 e os 20 anos, aumentando a produção até cerca dos 40 a 50 anos.

O pinheiro-manso possui um sistema radicular muito extenso, ocupando uma área de cerca de 8 a 52 vezes maior que a área de projeção horizontal da copa.

A designação científica desta espécie deve-se à presença dos frutos e sementes que esta árvore produz. O nome do género Pinus é o nome clássico, em latim, dado ao Pinheiro. O restritivo específico – pinea – refere-se ao nome latino das pinhas, alusivo aos pinhões comestíveis – nux pinea, logo, Pinus pinea é o nome dado ao pinheiro que produz pinhas, com pinhões comestíveis.

Espécie nativa e resistente

O Pinus pinea é uma espécie nativa das áreas costeiras do Mediterrâneo, desde o sul da Europa até à Ásia Ocidental, em países como Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia, Albânia, Turquia, Chipre e Líbano.

Em Portugal surge um pouco por todo o território, sendo mais dominante a sul do rio Tejo, principalmente nos distritos de Setúbal, Évora e Faro.

Foto: Gian Carlo Dessi/WikiCommons

Pode encontrar-se em dunas e planícies costeiras e também nas encostas mais baixas de colinas e montanhas de baixa altitude, misturado naturalmente com o pinheiro-bravo, a azinheira, o sobreiro e outros carvalhos, além dos povoamentos puros desta espécie ou em combinação com outras espécies arbustivas, como estevas, tojos, entre outras.

O pinheiro-manso é uma árvore heliófila, que requer exposição solar plena e um clima quente. É capaz de suportar temperaturas muito elevadas, até aos 41º, e é muito resistente à seca, podendo tolerar períodos de seca prolongada. As temperaturas inferiores a 12º, por períodos prolongados, podem provocar problemas no seu desenvolvimento.

Não é muito exigente ao tipo de solo, podendo crescer em terrenos pobres, onde é uma excelente espécie pioneira. Tem preferência por solos ácidos, profundos, leves e soltos, bem drenados, sejam arenosos, graníticos ou siliciosos.

Possui grande resistência ao vento, no entanto não é tolerante a períodos prolongados de geadas, nem ao excesso de água no solo.

Árvore elegante, de grande valor paisagístico

O pinheiro-manso é uma espécie muito importante do ponto de vista ecológico. Devido às suas características, à grande adaptabilidade e rusticidade, é considerada uma espécie pioneira de outras, uma vez que é capaz de estabelecer condições favoráveis ao desenvolvimento e reaparecimento de espécies mais exigentes, como o sobreiro e a azinheira.

Esta árvore tem uma relevante ação protetora dos solos, sobretudo terrenos arenosos, contribuindo para a fixação das dunas costeiras e diminuindo o risco de erosão, além de permitir obter rendimento florestal em terrenos pouco férteis.

Foto: Dubas/WikiCommons

É uma espécie resistente à poluição urbana e, por possuir uma casca grossa e uma copa ampla afastada do solo, apresenta uma elevada resistência à passagem do fogo.

O pinheiro-manso é um excelente refúgio da vida selvagem e uma fonte de alimento fundamental para aves e roedores, que se alimentam das suas sementes e simultaneamente ajudam à sua dispersão.

A elegância e aparência distinta do pinheiro-manso tornam-no uma árvore com grande valor ornamental e paisagístico. A forma única da sua copa, semelhante a um guarda-sol, projeta uma sombra densa e agradável, apreciada em qualquer parque ou jardim.

Pinhas e pinhões

O pinheiro-manso é uma espécie florestal de excelência, sendo cultivado essencialmente pelo elevado valor económico da semente – o pinhão.

O processo de extração do pinhão é lento, complexo e demorado, o que contribui para o valor elevado desta iguaria nacional. De um quilo de pinhas pode extrair-se entre 15 a 45 gramas de pinhões e o preço de um quilo de pinhão pode rondar os 100 euros.

O pinhão possui um sabor muito característico, entre o resinoso e o adocicado, sendo muito apreciado em gastronomia, seja através do consumo direto ou como ingrediente das mais variadas receitas, em pratos de carne, peixe, vegetais, massas, doces, enchidos e chocolate. Com um elevado valor nutricional, rico em nutrientes e em gorduras monoinsaturadas, também ajuda na prevenção de doenças cardiovasculares. Em Portugal, é um elemento indispensável nas mesas de consoada.

As pinhas são normalmente maiores e mais consistentes que as de pinheiro-bravo, sendo, depois da extração do pinhão, vendidas como combustível. A produção média anual é de cerca de 250 pinhas por árvore, podendo, no pico da frutificação, uma só árvore, produzir entre 1000 a 2000 pinhas.

Os mais criativos também usam as pinhas como elementos decorativos, assim como as pequenas árvores, que são cortadas em desbaste, como árvores de Natal.

A colheita, transporte, armazenamento, transformação, importação e exportação de pinhas de pinheiro-manso está regulamentada através de legislação nacional (Decreto-Lei n.º 77/2015, de 12 de Maio) e estabelece, entre outros, a época em que é permitida a colheita de pinhas e que só fica dispensado de registo e comunicação de colheita, as colheitas até ao limite de 10 quilogramas de peso, desde que exclusivamente destinadas a autoconsumo.

Outros recursos naturais

Do pinheiro-manso podemos obter outros recursos: madeira, casca, resina, lenha e carvão vegetal.

A madeira, castanho-avermelhada, é extremamente dura e difícil de trabalhar. Possui elevada resistência e impermeabilidade, sendo ideal para a construção, carpintaria, pavimentos e vigamentos, para os caminhos-de-ferro e para a indústria naval.

Foto: Jebulon/WikiCommons

A casca é rica em taninos sendo usada em algumas regiões para o curtimento de peles. No entanto, a principal aplicação da casca está associada ao cobrimento da superfície do solo, em jardins e na horta, para ajudar a manter as boas condições para um bom desenvolvimento das plantas, protegendo as raízes das condições climáticas adversas, tanto no verão, como no inverno. Também ajuda a controlar o aparecimento de plantas infestantes.

A resina é aproveitada e usada para vernizes, impermeabilizações e até para encerar arcos de violino e sapatilhas de balé. Além disso, é muito aromática e contém terebintina, uma substância usada como antisséptico. E no tratamento de doenças renais, da bexiga e doenças de pele. Na medicina popular terá sido utilizada como balsâmico: a resina era derretida sobre a chama para que o seu perfume impregnasse o quarto, de forma a ajudar a curar doenças do aparelho respiratório.

O pinheiro-manso é uma daquelas árvores que facilmente se consegue identificar, por isso, aproveite os dias de outono para procurar mais uma bela e encantada árvore nativa. Se estiver calor, aproveite a sombra da sua copa em forma de chapéu-de-sol; mas se chover, abrigue-se sob o seu chapéu-de-chuva.


Dicionário informal do mundo vegetal:

Resinosa – planta que produz resina e que pertence ao grupo das coníferas.

Acicular – em forma de agulha.

Monóica – espécie que apresenta flores femininas e masculinas separadamente na mesma planta.

Inflorescência – forma com as flores estão agrupadas numa planta.

Pinha (ou cone, ou estróbilo) – órgão reprodutor das árvores coníferas (tipo de pseudofruto), geralmente de forma cónica, composto por escamas lenhosas, que se sobrepõem parcialmente, dispostas helicoidalmente ao longo de um eixo central, e que protegem as sementes.

Coníferas – grupo de plantas que produzem estruturas reprodutoras com forma cónica (cone, pinha ou estróbilo).

Escamas – folhas rudimentares, modificadas, coriáceas ou lenhosas, que protegem as sementes.

Heliófila – planta que vive preferencialmente em locais de exposição solar plena. Necessita da luz solar para um bom desenvolvimento.


Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os outros artigos desta autora.

Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas. 

Para acções de consultoria, pode contactá-la no mail [email protected]. E pode segui-la também no Instagram.

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