A faia (Fagus sylvatica) é uma espécie arbórea de que gosto muito pelas características particulares que apresenta: desde a cor e forma das folhas e dos frutos à forma colunar da copa e aos ramos pendentes e retorcidos.
Esta espécie não é nomeada como espécie nativa em Portugal, existindo até alguma controvérsia sobre a sua origem. No entanto existem registos fósseis da sua presença no Norte do país, anteriores ao Neolítico.
A faia
A faia, também conhecida como faia-europeia, é uma espécie folhosa da família Fagaceae, a mesma família de outras espécies bem nossas conhecidas, como o castanheiro, os carvalhos e o sobreiro.
É uma árvore graciosa que pode crescer até 40 metros de altura. A copa é cónica e estreita nos exemplares mais jovens. Nas árvores mais velhas é larga, arredondada e muito ramificada. O tronco tem casca lisa e tons claros.
As folhas são caducas, ovadas a elípticas, com margem ondulada e ápice agudo. As folhas mais jovens são verde-claras e brilhantes, e possuem pelos em torno da margem. As mais adultas são verde-escuras e apresentam pelos apenas junto às nervuras da página inferior.
A floração da faia ocorre entre abril e maio. É uma espécie de floração monóica – com flores masculinas e femininas, que ocorrem no mesmo indivíduo – e que se encontram agrupadas em inflorescências. As flores aparecem pouco depois das folhas e surgem em pequenos amentilhos. Os amentilhos masculinos, de cor amarela, são globosos, pendentes com um pedúnculo fino e comprido. Por sua vez, os femininos têm uma cor esverdeada e surgem geralmente em grupos de dois, no extremo do pedúnculo.
Os frutos da faia são semelhantes aos do castanheiro – um invólucro verde e ligeiramente espinhoso, que protege as sementes no seu interior. Estas são castanhas e brilhantes, com uma forma angulosa e triangular, e encontram-se agrupadas em conjuntos de 2 a 4 sementes. Aquando da maturação, o invólucro torna-se acastanhado, abre-se em quatro partes, e liberta as sementes entre setembro e outubro. A produção de frutos é mais intensa entre os 40 e 80 anos de idade.
A designação científica desta espécie é um tanto incerta. Ainda assim, segundo alguns autores, o termo genérico Fagus deriva do verbo grego phagêin, que significa “comer”, associado ao facto de ser uma árvore cuja semente é comestível. A designação sylvatica deriva do latim silva que significa “selvagem, madeira” e que está relacionado com o facto de ser uma espécie que cresce na floresta.
Planta naturalizada
A faia é uma planta tipicamente europeia, com uma distribuição bastante alargada. Está presente em todos os países da Europa Central e nalguns países da Europa do Sul (por exemplo, Espanha, Itália e Grécia), do Norte (como a Suécia, Dinamarca e Noruega) e ainda do Leste (Roménia, Ucrânia, Rússia e Turquia, entre outros).
Em Portugal, existem registos fósseis da sua presença nas regiões do Norte, tendo-se extinguido antes do Neolítico. Terá sido reintroduzida no século XIX na Serra do Gerês e noutras serras do Norte e Centro. Embora não seja considerada espontânea, esta espécie cultivada está muito bem adaptada ao clima temperado do nosso país, formando hoje extensos maciços espontâneos provenientes da abundante regeneração natural nos locais onde foi anteriormente plantada.
É uma espécie característica de montanha, cresce em encostas e no fundo dos vales e tem preferência por estações mais frias e húmidas. Prefere zonas de sombra, sobretudo nas idades mais jovens, e tem preferência por solos delgados, profundos, ligeiros e bem drenados, mas com boa disponibilidade de água e com pH alcalino. É resistente aos frios do inverno, embora não seja tolerante às geadas tardias. Não tolera seca estival nem ventos costeiros.
A faia é uma espécie de crescimento muito lento, sobretudo nos primeiros 10 anos de vida, podendo atingir cerca de 30 metros aos 100 anos. Em média, uma faia pode viver de 200 a 250 anos.
Múltiplas aplicações
Esta é uma árvore com elevado valor florestal e amplamente utilizada como espécie ornamental em parques e jardins públicos e privados, pois forma copas densas e uma arquitetura harmoniosa, mesmo quando despida de folhas que contrastam com os tons acinzentados da sua casca. Algumas variedades apresentam características peculiares bastante interessantes que a tornam ainda mais atraente, desde ramos pendentes e retorcidos a tons vermelhos e dourados nas folhas.
A madeira da faia – embora não seja considerada nobre como a dos carvalhos, por exemplo – é muito valorizada pelo seu grão fino e cor clara, ligeiramente rosada, sendo empregue em marcenaria, em parquets, soalhos e em sulipas. O poder calorífico da sua madeira é superior ao do carvalho, sendo excelente para aquecimento.
As folhas jovens desta árvore são comestíveis, cruas ou cozinhadas, misturadas em saladas. O consumo de sementes por humanos não é recomendado pelo alto teor de ácido oxálico que apresenta e que pode causar desconforto estomacal. No passado, as sementes em poucas quantidades eram moídas, e após os taninos serem lixiviados por imersão (devido ao elevado nível de toxicidade), eram misturadas em farinhas para fabrico de pão e bolos, e também utilizadas como substitutas do café.
Ricas em óleo e gorduras, as sementes ainda hoje são usadas para o fabrico de óleos para usos culinários, sendo de sabor semelhante ao das avelãs. Em alguns países nórdicos esses óleos também são utilizados em lampiões e lamparinas para iluminação.
A faia tem um elevado valor ecológico. É uma fonte importante de alimento para inúmeros animais selvagens, desde larvas de insetos, a aves e pequenos roedores e outros animais de maior porte, que muito apreciam as suas sementes. Onde cresce e se desenvolve, esta espécie forma uma camada rica em húmus que permite a fertilização natural dos solos.
Do ponto de vista medicinal e farmacológico, é reconhecida pelas suas propriedades antipiréticas, antissépticas, antitússicas, anti-inflamatórias e antiácidas. Atua como estimulante e expetorante. A destilação seca da sua madeira resulta numa resina utilizada no combate à tuberculose. O carvão vegetal obtido desta planta também tem aplicação medicinal em situações de meteorismo e disenteria, e pode funcionar como dentífrico e como primeiro recurso em situações de envenenamento.
Rainha das árvores
Para os Celtas, a faia estava associada à aprendizagem, à sabedoria e ao conhecimento. Constituía um dos quatro pilares do ano solar Celta, juntamente com o carvalho, a bétula e a oliveira, no qual as características naturais das árvores eram utilizadas para as associar a determinadas situações.
Por ser uma árvore de grande porte, cuja copa densa e imponente cria um ambiente protegido, a faia estava associada à ideia de proteção e de generosidade. Alguns autores referem que a arquitetura das catedrais terá sido inspirada nos bosques de faia, onde o eco da voz cria um ambiente apropriado ao culto, e semelhante ao som do interior de uma catedral.
Na Grã-Bretanha, a faia é considerada a rainha das árvores, a mãe dos bosques e símbolo da feminilidade, sendo respeitada como árvore sagrada, protetora de todos os que nela procuram abrigo.
Esta árvore é uma das últimas a despir-se de folhagem, já quase no final do outono, quando a coloração das suas folhas tinge a paisagem de tons amarelos e acobreados bastante únicos. Mas agora, na primavera, é altura de apreciar o aparecimento das pequenas flores e das primeiras folhas ainda verdes, que preencherão a copa imponente destas árvores, criando uma sombra magnífica e fresca.
Dicionário informal do mundo vegetal:
Amentilho – inflorescência semelhante a uma espiga, onde as flores, geralmente unissexuais, surgem agrupadas num eixo comum.
Pedúnculo – “pé” que sustenta a inflorescência.
Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os outros artigos desta autora.
Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas.
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