As praias portuguesas servem de refúgio para dezenas de espécies de aves nos meses mais frios do ano, incluindo muitas limícolas que procuram alimento à beira-mar. Fique a conhecer algumas das espécies mais comuns, que poderá encontrar num passeio de Inverno.
Desde 2009 que o Arenaria, um projecto de monitorização científica realizado com o apoio de voluntários, tem vindo a compilar as espécies de aves observadas nas praias de Portugal, incluindo o grupo das limícolas.
Essas aves são assim chamadas por se alimentarem no lodo (‘limus’, em latim) e muitas delas procuram também os estuários e as lagoas costeiras. A maior parte são migradoras, passando apenas a época mais fria do ano na costa portuguesa.
Fique a conhecer as 10 aves limícolas mais observadas no âmbito das contagens do Arenaria. E aproveite para as procurar por estes dias, numa visita à praia ou a outras zonas da costa portuguesa:
1. Pilrito-das-praias (Calidris alba)
A limícola com mais registos no âmbito do Arenaria está a ser também alvo do segundo Censo Nacional de Pilrito-das-praias, que decorre em paralelo. Tal como muitas outras aves deste grupo, tem duas plumagens: a de Inverno, mais discreta (na foto) e a de Verão, ligada à época de reprodução, que decorre no Alto Ártico. Estes pilritos são muitas vezes vistos a correr em frente à rebentação das ondas, enquanto procuram pequenos invertebrados para se alimentarem.
2. Rola-do-mar (Arenaria interprens)
A segunda limícola mais contada nos areais portugueses de Dezembro a Janeiro, no âmbito do Arenaria, a rola-do-mar reproduz-se no Norte da Europa e passa o Inverno nos territórios mais a sul – incluindo a costa portuguesa, em especial as zonas mais rochosas. Tem uma alimentação variada e usa o bico de forma habilidosa para virar pedras e algas, em busca de comida.
3. Pilrito-de-peito-preto (Calidris alpina)
Chamada também de pilrito-comum, esta é outra das limícolas mais registadas nas observações do projecto Arenaria. Pode ser vista nas épocas de migração e também ao longo do Inverno, sobretudo “em zonas planas intermareais ou em locais com algas e em areais com águas pouco profundas”, de acordo com o “Guia das Aves de Portugal e da Europa”, da autoria de Lars Svensson.
4. Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula)
É nos meses mais frios, para fugir aos rigores do Inverno no Norte da Europa, como é o caso da Escandinávia, que o borrelho-grande-de-coleira procura as praias e outras zonas costeiras portuguesas – incluindo os estuários, onde é também presença habitual. Na plumagem de Inverno tem uma interrupção na coleira que pode causar confusão com o borrelho-de-coleira-interrompida, mas é mais compacto e maior do que este.
5. Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus)
Este borrelho é uma limícolas que permanecem em Portugal todo o ano. Reproduz-se habitualmente nalgumas praias portuguesas, onde é necessário cuidado durante o Verão para não perturbar as crias ou destruir os seus pequenos ninhos. Apresenta patas pretas e uma “coleira” incompleta em torno do pescoço e alimenta-se de crustáceos, insectos e vermes.
6. Ostraceiro (Haematopus ostralegus)
Limícola invernante em Portugal, o ostraceiro não é das aves mais comuns, mas ao contrário de outras espécies pode ser facilmente identificado pelas cores da plumagem e pelo bico e patas de cores alaranjadas. Alimenta-se de bivalves, mexilhões, minhocas, insectos e crustáceos.
7. Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola)
Tal como outras espécies de limícolas, estas pequenas aves reproduzem-se nos territórios frios da tundra, no Alto Ártico. Em Portugal podem ser encontradas principalmente durante os meses de Inverno, no litoral, por vezes em grandes grupos. A tarambola-cinzenta alimenta-se de vermes marinhos, moluscos e crustáceos.
8. Maçarico-galego (Numenius phaeopus)
O maçarico-galego é sobretudo um migrador de passagem, que pode ser observado nas praias durante as duas épocas de migração – quando se desloca entre os territórios onde se reproduz mais a norte, incluindo a Escandinávia e a Islândia, e os locais de invernada em África. Segundo o portal Aves de Portugal existe também “uma pequena população invernante, que se distribui de forma esparsa pelas zonas costeiras do sul do país”.
9. Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos)
Segundo o “Guia de Aves de Portugal e da Europa”, este maçarico é muitas vezes visto agachado ou inclinado para a frente, enquanto vai abanando a cauda. Nalgumas zonas de Portugal está presente todo o ano, mas pode ser encontrado mais facilmente durante o Inverno.
10. Pilrito-escuro (Calidris maritima)
Os pilritos-escuros são mais comuns em zonas costeiras rochosas, onde muitas vezes formam bandos em conjunto com as rolas-do-mar enquanto procuram por alimento. Mas são aves pouco comuns na costa portuguesa, onde só se vêem durante o Inverno.
Agora é a sua vez.
Saiba aqui quais são os objectivos e como pode participar no projecto Arenaria. E aprenda mais sobre as quatro espécies de borrelhos e também sobre cinco espécies de gaivotas que podem ser encontradas em Portugal.
Conte as Aves que Contam Consigo
A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.