Os dias compridos do Verão são uma boa altura para conhecer novos livros. A Wilder pediu a vários naturalistas sugestões de obras que os marcaram e vai dá-las a conhecer ao longo das próximas semanas. É que a inspiração é contagiosa.
Maria Amélia Martins-Loução, presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO), sugere estes cinco livros que não pode perder.
A Child’s Garden, por Molly Dannenmaier
Tenho este livro há muitos anos, desde que fui para o Jardim Botânico como Directora. Foi a minha “Bíblia” para ajudar a criar um serviço educativo no Jardim Botânico. Levar as crianças e jovens para os jardins, motivá-los a gostar do cheiro da terra, mexer e cavar com as mãos, alertá-los para os diferentes tons de verde e os salpicos de côr que surgem na Primavera, ensiná-los a não ter medo dos múltiplos insectos que poisam nas flores, ou dos sons das aves atarefadas a procurar comida para as suas crias. Este livro é lindo, duma delicadeza e duma sensibilidade que contagia.
Lá Fora, por Maria Ana Peixe Dias, Inês Teixeira do Rosário & Bernardo P. Carvalho
Este é um livro que nunca é demais referir. E muito me alegra saber que está já traduzido em inglês e espero que venha a ser em mais idiomas. Este é cativante. Quando começamos nunca mais largamos. E quando largamos pegamos nele para ir para o campo com os miúdos. Óptimo em metodologias, em pequenos aspectos que não nos lembramos quando saímos desprevenidos, útil para a identificação de algumas espécies. É um livro com inúmeras potencialidades. Está escrito de forma simples, didáctica e muito apelativo pelo que não me admira ter tido o êxito que tem. Merece-o.
A História do Azoto, Bom em pequenino e Mau em Grande, por Vanda Brotas Gonçalves
Este é um livro sobre o azoto. Ensina os jovens a estar despertos para problemas que surgem no ambiente por culpa de más práticas de gestão por parte do Homem: ou excesso de fertilizantes que vão contaminar as águas que de repente surgem com cores estranhas e peixes mortos, ou porque as águas residuais são depositadas sem tratamento. Os jovens são convidados a participar numa história que os leva a querer compreender assuntos que por vezes são meramente abordados nas escolas. Por outro lado, quando tornam a sair para o campo e encontram lagos ou riachos têm curiosidade em perceber se as águas estão ou não poluídas e a perceber a diferença.
A Menina que via o mar de várias cores, por Vanda Brotas Gonçalves
Este é outro livro de Vanda Brotas Gonçalves. Desta vez, a obra procura mostrar as variações de cor do mar. O porquê dessa variação, que se devem às microalgas visíveis apenas ao microscópio. Naturalista é não só ver o que é macro, que nos toca, que tem dimensões passíveis de ser visto a olho nu, mas também procurar ver ou chamar a atenção para o micro, que apenas se vê com o auxílio do microscópio, mas que acaba por ser a base da vida na Terra. Neste caso em particular, leva-nos a despertar para a existências das microalgas, responsáveis pela produtividade do oceano, e que possuem papel relevante como sumidouro do dióxido de carbono presente na atmosfera.
Ambos os livros são histórias para jovens, mas despertam os sentidos para aspectos peculiares que vemos sem ver, ou vemos e ignoramos porque não dizem nada.
Histórias que fugiram das árvores, por Susana Neves
Este é um livro lindíssimo, idealizado, escrito e pensado ao pormenor por alguém que transpira uma enorme sensibilidade pelas árvores. De um rigor botânico e paisagístico verdadeiramente exemplar que nos atrai do princípio ao fim. Apesar de ser um livro grande, para deixar em casa, as suas histórias e curiosidades são de tal modo fascinantes que conseguimos levá-lo connosco na sacola da memória.
A minha selecção de livros foi intencional: por um lado, convidando a ir sempre para fora, para a natureza, mas alertando para aspectos diferentes do habitual que é olhar e aprender a ver a natureza como um todo, os outros seres e nós, com interacções complexas que fazem o ecossistema mais rico e mais biodiverso, desde que o Homem o saiba respeitar.
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