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Chapim-real. Foto:

Há uma ave por mês para descobrir nos jardins da Gulbenkian

05.10.2015

Todos os meses, uma das aves dos jardins Gulbenkian é apresentada a quem visita este espaço verde em Lisboa. O projecto teve início em 2012, com o registo de 42 espécies, e continua a dar frutos. A Wilder conta-lhe tudo.

 

De duas em duas semanas, ao longo de 15 meses, percorreu uma e outra vez todos os recantos dos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, de olhos e ouvidos bem abertos. Foi assim que João Eduardo Rabaça anotou a presença de 42 espécies de aves neste espaço verde bem no centro de Lisboa, que continuam a ser divulgadas para quem visita o local.

O projecto de registo e divulgação da avifauna começou em Junho de 2012, pelas mãos deste professor da Universidade de Évora, que é também coordenador do LabOr – Laboratório de Ornitologia. Isto depois de contactar a Fundação e receber uma adesão “fantástica”, lembrou à Wilder.

O objectivo é “conhecer o que existe e transmitir esse conhecimento às pessoas”, mostrando-lhes que “mesmo numa cidade é possível encontrar espécies que habitualmente associamos apenas aos espaços rurais e a florestas distantes.”

Mais de três anos depois, o projecto continua a dar frutos. Um dos principais é a campanha “Um mês… uma ave” (associada ao Programa Descobrir), que teve início em Março de 2013 e se prolonga agora pela campanha “Outro mês… outra ave”.

A cada mês, uma ave diferente é apresentada aos visitantes dos jardins, escolhida entre as que ali ocorrem naquela estação. Em placards ao ar livre, quem ali passa pode ver uma imagem grande da ave do mês (fotografia da autoria de Diogo Oliveira, associado ao projecto), com os nomes comum e científico da espécie escolhida, e um texto com  curiosidades e as principais características.

“Até agora, já disponibilizámos informação sobre mais de 30 espécies e a campanha irá manter-se até Fevereiro de 2016”, explica João Rabaça.

 

O pica-pau malhado grande é um visitante ocasional dos jardins da Gulbenkian.

 

A divulgação acontece também dentro de portas. Quem procura os balcões da Fundação pode trazer, de forma gratuita, um postal com a foto da ave desse mês e o texto explicativo. “Os postais relativos a cada mês esgotam com frequência logo nas primeiras semanas”, avisa o professor da Universidade de Évora.

Das espécies que têm sido divulgadas, João Rabaça aponta três, pela curiosidade que despertam: “A galinha-d’água que é uma ave residente; o papa-moscas-preto, um migrador de passagem que é observável apenas durante os trânsitos migratórios de Setembro e inícios de Outubro; o tordo-comum, que é um invernante nos jardins. Mas muitas outras poderiam ser sublinhadas.”

A informação de cada mês está também disponível no ‘site’ da Gulbenkian – uma ave de cada vez. Mas até ao fim de Outubro, prevê-se que constem na Internet todas as espécies de aves que foram registadas nos jardins, afirma a coordenadora do programa educativo dos jardins Gulbenkian, Paula Côrte-Real.

Para breve, está também prevista a publicação de um livro sobre “As Aves dos Jardins Gulbenkian”, com todas as espécies.

 

Chapim-carvoeiro
O chapim-carvoeiro não é comum nos jardins Gulbenkian, mas por vezes faz uma visita.

 

O projecto passa ainda por acções com o público, no âmbito do Programa Descobrir, que continuam em 2016. Nas “Paisagens sonoras dos jardins”, João Rabaça desafia os participantes a um passeio de ouvidos bem atentos aos cantos das aves, ajudando-os a identificarem algumas das espécies pelos sons que fazem. Realiza sessões de anilhagem científica, que “também têm despertado um enorme interesse por parte do público”.

 

Recolha de espécies é para continuar

 

Já a coordenadora do programa educativo dos jardins Gulbenkian, Paula Côrte-Real,  lembra que o levantamento da fauna e flora daquele espaço verde começou em 2006, com a elaboração de uma planta com toda a vegetação do jardim (disponível na Internet) e que está agora a ser actualizada.

E o trabalho não vai ficar por aqui: “É nossa intenção prosseguir com a recolha de dados sobre mamíferos, répteis, anfíbios, insectos, fungos existentes no jardim, bem como criar ‘on-line’ um fórum da biodiversidade que os nossos visitantes possam registar as suas observações, contribuindo assim para a constante actualização da lista da biodiversidade neste espaço.”

 

A alvéola-branca é uma ave que pode ser observada na Gulbenkian nos meses mais frios

 

Aliás, quanto ao papel da Natureza e dos jardins para a Fundação Gulbenkian, a coordenadora lembra que Calouste Sarkis Gulbenkian tinha também um fascínio por esses temas e por isso foi escolhido o terreno onde está hoje instalada a Fundação. “Entre os cinco espaços disponíveis na altura, o então Parque da Palhavã era o único onde seria possível criar um espaço verdadeiramente ao gosto do fundador, onde a natureza e arte fossem protagonistas”, sublinha.

A biodiversidade, tanto na flora como na fauna, “foi desde o início um importante desígnio do projeto [de construção], que por oposição ao conceito de jardim botânico ou jardim zoológico, integra estas duas vertentes enquadradas num contínuo natural, que é a estrutura verde de uma cidade”.

É por isso que, entre a fauna avistada nos jardins da Gulbenkian, incluindo as aves, muitas espécies estão ali só “de passagem entre Monsanto e outros espaços verdes de Lisboa, ou até em rotas migratórias de milhares de quilómetros.”

Outras, como é o caso das galinhas d´água, já lá fazem ninho e podem ser vistas todo o ano. Que tal ir visitá-las no Outono?

 

Uma parte dos jardins Gulbenkian. Foto: João Pimentel Ferreira / Wikimedia Commons
Uma parte dos jardins Gulbenkian. Foto: João Pimentel Ferreira / Wikimedia Commons

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

João Rabaça explica-lhe algumas das aves que pode procurar nos jardins da Gulbenkian, se lá der um passeio nesta altura do ano:

“Nestes meses de transições outonais, quem visitar o jardim pela primeira vez poderá registar facilmente a presença de melros-pretos, carriças, patos-reais e galinhas-d’água (esta última junto ao lago ou nos tanques que ladeiam o Centro de Arte Moderna).

Para além, claro, dos pombos-domésticos e pardais-comuns, que são uma presença constante em todas as cidades. Mas outras aves menos conspícuas como estrelinhas-reais, toutinegras-de barrete, estorninhos-pretos, alvéolas-cinzentas ou piscos-de-peito-ruivo podem ser registadas com um pouco mais de atenção e persistência.

E pode sempre ter a sorte de observar o magnífico guarda-rios a sobrevoar o lago ou poisado num ramo sobranceiro. Ou ainda ver um dos visitantes exclusivos deste período como o papa-mosca-preto! E se tiver esta sorte, pense nos milhares de quilómetros que esta pequena ave já percorreu desde a sua área de origem (norte e centro da Europa), e nos milhares que ainda irá percorrer até atingir os seus quartéis de inverno em África…”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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