Colibri da colecção de Braga Júnior. Foto: Universidade do Porto

Exposição de colibris com mais de 100 anos está à sua espera no Porto

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Durante o mês de Junho, 30 colibris com mais de 100 anos estão expostos na Reitoria da Universidade do Porto. É uma oportunidade para ver uma parte de uma das colecções de colibris mais antigas e completas da Europa.

Tudo o que precisa fazer é visitar o átrio do Edifício Histórico da Reitoria da Universidade do Porto, durante o mês de Junho.

Lá estão 30 colibris de 28 espécies diferentes – em tons iridescentes de azuis, verdes ou lilases – montados em pedestais brancos e expostos durante o mês de Junho, no âmbito projecto “Breviário” que, até Setembro de 2024, dá a conhecer um objeto diferente das coleções do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP).

Colibri da colecção de Braga Júnior. Foto: Universidade do Porto

“É uma família muito interessante”, disse Ricardo Jorge Lopes, curador da colecção de Ornitologia do MHNC-UP, sobre os colibris.

“Não só porque tem todas estas cores que, mediante a luz e o ângulo, nos oferecem diferentes nuances e promovem o fenómeno da iridescência”, mas também por haver uma “variedade grande de tamanhos”, não só do corpo como do próprio bico que pode ser grande ou pequeno, reto ou curvo.  O tamanho e a forma são determinados pelas características das flores de onde obtêm o néctar, principal fonte de alimentação.

Estas 30 pequenas e coloridas aves agora em exposição fazem todas parte da colecção de 2.000 espécimes de 242 espécies diferentes colhidos no final do século XIX em 10 países do continente americano (Estados Unidos, México, Panamá, Colômbia, Venezuela, Trinidade e Tobago, Guiana Francesa, Brasil, Equador e Peru).

Foram sendo comprados por lotes entre 1870-1890 por José Teixeira da Silva Braga Júnior, vice-cônsul do Brasil no Porto que quis criar um museu particular de História Natural, à firma Deyrolle, fundada em 1831 em Paris.

“Nessa época eram bastante comuns estabelecimentos devotados ao comércio de espécimes, incluindo a sua preparação”, explicou Ricardo Jorge Lopes à Wilder. “Estas firmas mantinham redes de coleta e transporte de exemplares de todo o mundo, alimentando assim a procura de espécimes, quer por parte de museus quer por qualquer particular que os quisesse expor a nível privado.”

É uma das coleções mais antigas de colibris em museus da Europa e nela estão representados quase todos os 102 géneros de colibris, bem como ninhos e ovos. Doada em 1928 ao MHNC-UP, é também a colecção mais representativa entre as colecções de Aves daquele museu do Porto, que tem mais de 7.000 espécimes de 1.673 espécies.

Braga Júnior gastou parte da sua fortuna na aquisição de espécimes ao Deyrolle e, no final da sua vida, teria uma das maiores colecções particulares em Portugal, com mais de 3.800 aves e ninhos e mais de 45.000 invertebrados e 120 mamíferos, por exemplo.

Na colecção de colibris de Braga Júnior há 35 espécimes de 15 espécies listadas na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Dessas, cinco estão Criticamente Em Perigo, como o calçadinho-turquesa (Eriocnemis godini) e o colibri-de-poupa-de-santa-marta (Oxypogon cyanolaemus).

O calçadinho-turquesa já estará possivelmente extinto e apenas se conhecem seis espécimes, recolhidos no século XIX. A colecção do Porto tem três desses espécimes.

O colibri-de-poupa-de-santa-marta, que tem dois espécimes na colecção, tem uma população de menos de 250 indivíduos no Norte da Colômbia. O último registo de uma ave destas na natureza é de há 70 anos.

Hoje, a colecção de colibris de Braga Júnior é mantida com todos os cuidados no Museu. “Todos os espécimes estão acondicionados numa das salas reconstruídas na cave do museu, para alojar os espécimes que não estão expostos, com humidade e temperatura controlada”, explicou o curador. “São necessárias também ações regulares de conservação dos exemplares, nomeadamente a extração do pó, manutenção dos pedestais e a passagem dos espécimes que são utilizados fora da sala de reserva por um tratamento de 22 dias em condições de anoxia.”

Vários espécimes estão já expostos na exposição temporária “O Museu à minha procura” para ilustrar a medição da cor em aves.

“Os espaços expositivos do pólo central do Museu estão a ser intervencionados de modo a abrir ao público espaços de exposição permanente no futuro próximo. Nesse contexto, muitos exemplares de colibris serão expostos para ilustrar conceitos sobre evolução”, adiantou o responsável.

Actualmente conhecem-se 324 espécies de colibris e todas ocorrem no continente americano. Hoje não existem colibris na Europa mas, segundo Ricardo Jorge Lopes “existem fósseis de há 30.000 anos na Europa que indicam que os colibris também evoluíram na Europa”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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