Os correspondentes da Wilder João e Afonso Petronilho, pai e filho com uma paixão especial pela descoberta do mundo natural, fazem “beachcombing” há vários anos e já têm uma bela colecção de tesouros que têm vindo a catalogar. Aqui contam-lhe por que esta é uma excelente actividade para as férias de Verão.
“Beachcombing” é uma actividade que consiste em percorrer as praias à procura de organismos (ou partes deles) e objectos de valor, interesse ou utilidade que foram transportados pelo mar até à linha de costa. Pode ser praticada em qualquer época do ano, sozinho, em família ou com os amigos; pelos mais novos ou pelos mais velhos. É algo que pode ser divertido, didáctico, e por vezes, lucrativo.
Confesso que não sou muito de me estender ao sol nem de mergulhar nas águas oceânicas. Apesar disso, sempre gostei de caminhar na praia e de sentir a areia nos pés. Com o nascimento dos meus filhos, comecei a disponibilizar mais tempo para os acompanhar nas idas à praia e foram eles, com a sua curiosidade inata de crianças, que despoletaram esta actividade ao ar livre que acabou por se tornar num passatempo de família. Temos dedicado mais tempo a estas caminhadas pela areia na Praia do Poço da Cruz e na Praia de Mira, por ficarem próximas da nossa área de residência. Mas também já o fizemos na Praia da Aguda, na Praia de Buarcos e na Praia da Consolação, estas três últimas de características rochosas, acessíveis durante a maré baixa.
O melhor período do dia para praticar “beachcombing” é durante a maré baixa, uma vez que o recuo das águas permite ter acesso a zonas que anteriormente estavam submersas, revelando segredos escondidos na areia ou presos nas rochas. Igualmente fascinante é percorrer uma praia após uma grande tempestade, uma vez que o vento forte e a ação das ondas transportam objectos flutuantes ou que estavam presos no fundo do mar, depositando-os ao longo da linha de maré alta.
Durante o verão, entre uns curtos banhos de sol ou uns mergulhos refrescantes nas águas do mar, costumamos fazer caminhadas e pentear a praia, sempre atentos a algum achado que ainda não faça parte da nossa coleção. São momentos divertidos e relaxantes, e por vezes, quando regressamos à “base”, as nossas mãos e calções vêm a abarrotar de coisas arrojadas pelo mar. Depois, o mais difícil é escolher aquelas que temos que levar connosco.
Quem desejar praticar esta actividade deverá consultar a tabela de marés para planear a saída de campo e levar água, alguma comida, protetor solar, um saco para transportar os achados e uma máquina fotográfica ou caderno de desenho para registar pegadas, rastos de animais ou objectos de maiores dimensões e difíceis ou impossíveis de transportar.
A costa portuguesa tem uma grande diversidade de praias arenosas e rochosas onde se pode vaguear à descoberta de achados de praia. Nestas últimas, é aconselhável usar calçado apropriado para evitar as arestas cortantes das rochas ou escorregar sobre as mesmas, e estar atento à mudança de marés, uma vez que a subida das águas é geralmente mais rápida.
Ao longo dos últimos três anos temos achado e recolhido centenas de objectos ou partes de organismos. Estes tornaram-se num verdadeiro tesouro colecionável, em constante renovação e que temos tentado catalogar com a ajuda de guias. O que nem sempre é tarefa fácil. A nossa colecção tem conchas de moluscos de várias espécies, tamanhos e formas, inteiras ou partidas, entre as quais, lapas, burriés, beijinhos, búzios, amêijoas, mexilhões, conchas de chocos, navalheiras, vieiras (estas cada vez mais difíceis de obter inteiras, devido à utilização de tractores no puxar das redes de pesca da arte xávega). Temos também carapaças ou patas de crustáceos, como os caranguejos; equinodermes, como estrelas-do-mar ou ouriços-do-mar; ovos de cação ou de raia (temos um desta última espécie, que é um dos nossos achados mais raros); penas, bicos e crânios de aves, sobretudo de gaivotas, mas também de outras espécies, como pardelas e gansos-patolas; ossos de peixes, aves e cetáceos; e ainda algas marinhas, algumas com mais de dois metros de comprimento.
E depois há outros achados, muito variados e com origens diferentes, que nos levam a imaginar quais serão as suas histórias. Entre eles constam pedras, seixos, pedaços de vidro foscos e coloridos (vidro-do-mar), fragmentos de objectos de cerâmica (cerâmica-do-mar) e pedaços de madeira. Este tipo de achados tornam-se únicos por terem sofrido o desgaste pela ação do mar e da areia, o que lhes confere formas interessantes e um aspecto polido. Armadilhas para polvos e boias de pesca são, frequentemente, encontradas cobertas de tubos calcários construídos pelos poliquetas, por exemplo. Quem se aventurar num passeio à beira-mar pode encontrar uma multitude de achados naturais ou artificiais.
Contudo, apesar de todo o fascínio e encanto que é encontrar todos estes objectos e imaginar o seu percurso ao longo da sua deriva, estes são prova da enorme quantidade de lixo que o ser humano produz e que, directa ou indirectamente, afecta todos os seres vivos que habitam no planeta, mais particularmente, os que vivem no mar.
Antes de terminar gostaria de lançar este desafio: neste verão, lance-se à aventura numa praia perto de si e descubra os objectos ou organismos que ela tem para lhe oferecer. Vai ver que vale a pena. Desperte o “beachcomber” que há em si!
[divider type=”thick”]Leia o blogue do João.
O João e o Afonso desafiam-no a encontrar 15 tesouros naturalistas na praia.
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