O mocho-pequeno-d’orelhas é um habitante conhecido dos parques verdes da cidade de Santander, no Norte de Espanha, graças às muitas caixas-ninho ali instaladas para esta espécie ameaçada.
O mocho-pequeno-d’orelhas (Otus scops), o mais pequeno dos mochos de Portugal e de Espanha, tem hoje uma centena de caixas-ninho instaladas nos parques verdes de Santander, no litoral do Norte de Espanha.
Em causa está um projeto coordenado pela SEO/Birdlife, uma organização não governamental (ONG) espanhola dedicada à conservação das aves, que em parceria com o município de Santander e com diversos voluntários se tem dedicado ao estudo e conservação destes mochos desde há 14 anos. Além da instalação de caixas-ninho, têm sido aplicadas medidas de gestão destinadas a aumentar a diversidade de flores e insetos nos jardins da cidade.
“Graças a este seguimento e ao projeto Santander Capital Natural, instalou-se uma câmara no interior de uma das caixas-ninho, da qual se emite em direto o que está a acontecer”, informou esta semana a SEO/Birdlife, numa nota de imprensa.
O que está a acontecer?
O mocho-pequeno-d’orelhas passa o inverno na África sub-sahariana e regressa à Península Ibérica na primavera, para se reproduzir. Para os seus ninhos, recorre a cavidades naturais em troncos de árvores, mas caso o arvoredo seja escasso, adapta-se bem à utilização de caixas-ninho.
Por estes dias, o macho faz a corte à fêmea do casal, realizando visitas sucessivas à caixa-ninho. Quando finalmente acontecer a postura dos ovos, a fêmea irá incubá-los durante 21 dias.
De seguida, os dois progenitores ficarão responsáveis por alimentar as pequenas crias durante cerca de um mês, período durante o qual a câmara vai permanecer ativa – em especial durante o período noturno, uma vez que se trata de uma ave de rapina noturna.
Além de contribuir para a sensibilização e educação ambiental do público em geral, esta câmara em direto também permite aos conservacionistas e aos investigadores ficarem a conhecer melhor os hábitos desta ave, classificada como Vulnerável à extinção em Espanha (e também em Portugal).
Em 2023, teve início o projeto de investigação Migralight – com o qual colaboram a SEO/Birdlife e o município de Santander – que se dedicou ao estudo das rotas migratórias desta espécie. Na altura foram colocados aparelhos de geolocalização nalgumas destas aves que se reproduzem na localidade espanhola, que entretanto já produziram os primeiros resultados.
“Graças à recuperação de alguns destes dispositivos colocados em mochos adultos, sabemos que estes regressam aos mesmos espaços verdes depois de passarem o inverno em lugares como a Gâmbia e a Guiné Equatorial”, explicou Alberto Benito, técnico da SEO/Birdlife, citado na nota de imprensa. “Pudemos até mesmo constatar a existência de exemplares sedentários, que não abandonam Santander durante o Inverno”, acrescentou.
Os dados obtidos dessa forma permitem saber por onde voam estes mochos migradores, em que épocas do ano e durante quanto tempo. Agora, graças à câmara que filma o interior da caixa-ninho, vai ser possível conhecer melhor de que se alimentam as crias e quais são os cuidados que os progenitores têm com as pequenas aves.
“A câmara do mocho-pequeno-d’orelhas é uma janela aberta para a ecologia deste pequeno mocho, uma espécie-bandeira das iniciativas para a conservação da biodiversidade em zonas verdes urbanas que se têm desenvolvido em Santander ao longo dos últimos 15 anos”, indica Nacho Fernández, técnico responsável por esta iniciativa na ONG espanhola.
Saiba mais.
Conheça melhor o mocho-pequeno-d’orelhas e onde e quando o poderá ver em Portugal, aqui. E espreite outras câmaras escondidas, colocadas pela SEO.