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Este grande felino precisa urgentemente de atenção

05.05.2016

O leopardo (Panthera pardus) é um dos grandes felinos mais reconhecidos por todo o mundo, mas os cientistas descobriram agora que cerca de 75% do seu território histórico está hoje perdido.

 

Um estudo publicado no jornal científico PeerJ analisou o território historicamente ocupado pelas nove subespécies de leopardo. Em 1750, estas ocupavam cerca de 35 milhões de quilómetros quadrados em África, na Ásia e no Médio Oriente, mas desde então, essa área reduziu-se para 8,5 milhões de quilómetros quadrados, colocando em risco o futuro da espécie.

“O leopardo é famoso por ser um animal esquivo, provavelmente a razão pela qual se demorou tanto tempo a reconhecer o seu declínio global. Os nossos resultados desafiam a ideia generalizada, em muitas zonas, de que os leopardos continuam relativamente abundantes e não estão seriamente ameaçados”, nota em comunicado o principal autor do estudo, Andrew Jacobson, da Zoological Society of London, e também membro do University College London e da National Geographic Society’s Big Cats Initiative.

Embora não esteja tão ameaçado como o tigre, por exemplo, os cientistas sublinham que o leopardo enfrenta sérias ameaças. Aliás, três das nove subespécies conhecidas já desapareceram quase completamente.

A situação é mais grave em várias regiões da Ásia, em especial na maior parte da Península Arábica e em vastas áreas da China e do Sudeste Asiático, onde quase 98% do território histórico do leopardo não existe mais.

Em África, as ameaças são especialmente grandes no Norte, com perdas de 99% do território, e nas regiões a Ocidente, onde este ‘grande gato’ perdeu 95% do habitat histórico. No Sul do continente, cerca de 49% do habitat ainda subsiste.

Embora não existam estimativas confiáveis sobre o número de leopardos, calcula-se que subsistem pouco mais de 100.000 animais em África e talvez pouco menos de 10.000, na Ásia, indica ainda uma notícia do The Guardian.

“A natureza secreta do leopardo, em conjunto com a aparição ocasional e completamente às claras em mega-cidades como Mumbai e Joanesburgo perpetuam a ideia errada de que estes grandes felinos continuam a prosperar na natureza – quando na verdade, o nosso estudo salienta que eles estão cada vez mais ameaçados”, sublinhou por seu turno Luke Dollar, co-autor do estudo e membro da National Geographic Society’s Big Cats Initiative.

O leopardo é conhecido por se adaptar melhor a viver em paisagens urbanizadas do que outros grandes felinos – desde que tenha abrigo, presas selvagens para caçar e não seja perseguido por habitantes locais.

No entanto, alertam os cientistas, as ameaças são muitas: a perda de habitat para as culturas e para a criação de gado doméstico, além de conflitos com os criadores de gado, juntaram-se ao comércio ilegal de peles e à caça de troféus.

Os autores do estudo apontam também o dedo à falta de pesquisas científicas sobre algumas das subespécies, três das quais “foram objecto de menos do que cinco estudos publicados durante os últimos 15 anos”, sublinha Andrew Jacobson. Uma destas, o leopardo de Java, está hoje classificada como Em Perigo Crítico de extinção.

 

Um leopardo faz uma pausa no Parque Nacional de Pilanesberg, na África do Sul, enquanto se prepara para caçar. Foto: Rebecca Schoonover
Um leopardo na África do Sul, enquanto se prepara para caçar. Foto: Rebecca Schoonover

 

Ainda assim, nalgumas regiões as populações de leopardo parecem ter estabilizado, graças a medidas contra a caça ilegal e a criação de áreas protegidas, nomeadamente nas Montanhas do Cáucaso e na zona entre o Extremo Oriente da Rússia e o Nordeste da China.

Josph Lemeris Jr, outro co-autor do estudo, opta por deixar uma nota de esperança, com um alerta no final: “Os leopardos têm uma dieta alargada e são extraordinariamente adaptáveis. Por vezes, acabar com as acções persecutórias dos governos ou de populações locais é o suficiente para dar início à recuperação, mas como muitas populações ultrapassam fronteiras de vários países, a cooperação política é crítica.”

A análise agora divulgada demorou cerca de três anos e percorreu mais de 1300 informações, relativas a mais de 2.500 localizações, sobre o território histórico e actual do leopardo.

 

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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