Foto: Tiago Mateus

Tiago Mateus e o corvo-marinho que lhe valeu o prémio de Fotógrafo de Natureza do Ano

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O fotógrafo de 43 anos falou à Wilder da sua paixão pela fotografia de natureza e de como capturou a imagem grande vencedora do concurso TotalEnergies, no âmbito do festival Insitu.

Porque é que começou a fazer fotografia de natureza?

A minha dedicação à fotografia de natureza começou em 2016. Nasceu em primeiro lugar do gosto que sempre tive por fazer caminhadas pelas praias, florestas e montanhas, e pelo prazer que sentia em passar tempo nesses locais belos, remotos e sem gente. O segundo motivo surgiu precisamente da minha frustração com outros géneros de fotografia que experimentei inicialmente, sem grande sucesso, como por exemplo a fotografia de rua. Não tenho mesmo jeito nenhum para fotografar pessoas.

Contudo, penso que a semente para a minha paixão por este género já tinha sido plantada em 2013, durante a minha primeira viagem aos Picos de Europa, onde caminhei e acampei por 10 dias. Foi uma viagem marcante que me motivou a comprar a minha primeira máquina fotográfica após regressar a Portugal.

Passados quase 12 anos, a fotografia é para mim uma grande paixão que me consome o pouco tempo que resta fora do trabalho, das nove às cinco, pois infelizmente ainda não consigo dedicar-me em exclusivo a esta atividade. Neste momento, trabalho como engenheiro de materiais num laboratório de nanotecnologia da Universidade NOVA de Lisboa.

A fotografia vencedora do concurso foi tirada em que data e local?

Foi feita em 2023, a norte do Cabo Sardão, durante uma oficina de fotografia de natureza que costumo realizar no final do ano, ao longo do litoral Alentejano e Costa Vicentina. Apesar da fotografia parecer muito energética e tempestuosa, estava um típico dia de dezembro no Alentejo, com muito sol, calor e mar bravo. A ave retratada é um corvo marinho, uma espécie muito comum na região.

Porque é que decidiu captar este momento?

Eu e um aluno que me acompanhava avistámos a ave a uma grande distância, mas as primeiras fotos que tirámos não ficaram bem enquadradas, pois a ave negra contra o fundo de rocha, também ela negra mal, se distinguia àquela distância. Por isso, decidimos explorar ao longo da falésia locais onde fosse possível ter o mar a rebentar como plano de fundo, criando uma cena de maior contraste onde se pudesse ver a silhueta do corvo contra um fundo branco.

Acabámos por encontrar um sítio onde isso não só foi possível mas também onde consegui incluir o terceiro elemento da fotografia, o arco natural que dá mais algum mistério à imagem. Depois, foi apenas um jogo de espera: foram necessários cerca de 20 minutos e mais de 60 disparos para ter uma fotografia focada, com o corvo imóvel durante a exposição longa e com a rebentação perfeita em plano de fundo.

A que técnicas ou materiais recorreu?

A minha abordagem à fotografia de vida selvagem não é convencional, talvez por me considerar um medíocre fotógrafo de vida selvagem. Faltam-me os reflexos rápidos, a paciência para esperar pelo animal e principalmente o olho para os detetar. Por isso, abordo a fotografia de vida selvagem da mesma forma como abordo a fotografia de paisagens estáticas ou mais dinâmicas, como é o caso. Monto sempre a câmara no tripé, coloco um disparador remoto, o porta filtros e os filtros para controlar a 100% o tempo de exposição.

É uma abordagem lenta e metódica. Na maioria das vezes, quando termina a montagem disto tudo, já o animal foi embora. Neste tipo de cenários, dou tanta importância ao animal como à sua envolvente e tento sempre fazer um enquadramento cuidado e minucioso. Neste caso, era muito importante para mim mostrar o mar onde o corvo-marinho se alimenta. Por isso, optei por uma exposição mais lenta que mostra o seu movimento e a sua força incrível. 

O que gosta mais de fotografar?

Gosto de fotografar tudo o que existe na natureza: água, rochas, areia, nuvens, vento, árvores e animais. Não tenho uma paisagem preferida. Sempre fotografei muito na costa e na floresta. Nos últimos anos, voltei inúmeras vezes à minha grande paixão fotográfica, a cordilheira cantábrica e as suas majestosas montanhas. Mais recentemente, consegui encontrar um local que reúne o melhor destas três paixões fotográficas, as ilhas Canárias. Um território bem preservado onde me posso perder durante dias por montanhas, florestas, praias e falésias à beira-mar. 


Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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