PUB

Grous. Foto: Tauri Parna/Wiki Commons

Festival dos Grous convida-o a passear à procura destas aves majestosas em Campo Maior

14.01.2025

A VII edição do Festival dos Grous acontece já de 15 a 19 de Janeiro em Campo Maior, Alentejo, e está convidado a participar nas visitas guiadas e percursos pedestres para observar estas majestosas aves. Os organizadores contaram à Wilder o que vai acontecer.

Este evento é a oportunidade perfeita para observar aquela ave que, provavelmente, queremos ver há muito, o grou (Grus grus).

Grou. Foto: Ken Billington/WikiCommons

De grande porte, o grou tem patas compridas, pescoço longo e estreito e plumagem predominantemente cinzento-azulada. Na cabeça preta e branca tem uma coroa vermelha. Um bando de grous a sobrevoar os campos, de preferência onde possamos ouvir os seus sons e as asas a bater, é um espectáculo da natureza.

Um senão. Esta espécie que se reproduz no Norte e Centro da Europa só está em Portugal entre Novembro e Fevereiro.

A zona de Campo Maior é um dos locais que escolhe para passar os meses mais frios do ano. É de aproveitar, então. Os conservacionistas já o estão a fazer, trabalhando por estes dias no censo a esta espécie que acontece desde há 40 anos, nesta altura do ano.

Festival dos Grous. Foto: GEDA/Arquivo

João Sanguinho, do GEDA (Grupo de Ecologia e Desportos de Aventura), associação sediada em Campo Maior, explicou à Wilder que este Festival nasce numa associação de defesa do ambiente em regime de voluntariado, o GEDA, ancorado à aldeia histórica de Ouguela, em parceria com o Município de Campo Maior, o Agrupamento de Escolas de Campo Maior e o Centro Educativo Alice Nabeiro.

Tem como objetivos “promover a conservação da natureza, da biodiversidade e, em particular, da avifauna, assentes num modelo de sustentabilidade que considera a educação ambiental, a cooperação transfronteiriça, o turismo e o desenvolvimento local”.

O Festival é feito a pensar em vários tipos de pessoa. “Desde o experiente observador de aves, ornitólogo ou investigador, até ao praticante de pedestrianismo, passando pela comunidade escolar, séniores institucionalizados e pessoas com deficiência, que aqui têm a oportunidade de desfrutar da natureza, com condições de acessibilidade”, explicou João Sanguinho.

Festival dos Grous. Foto: GEDA/Arquivo

Na última edição participaram cerca de 500 pessoas.

Uma visita guiada e um percurso pedestre

O Festival está dividido em duas partes, sendo que durante a semana (3 dias) as atividades estão orientadas para a comunidade escolar e, nesta edição, a faixa etária sénior, com atividades de colocação de caixas ninho, projeção de documentários sobre natureza, visitas ao Centro Ambiental do Xévora e à aldeia histórica de Ouguela.

A segunda parte acontece ao fim-de-semana, destinada ao público em geral. O sábado está destinado a uma visita guiada para observação de aves durante a manhã, entre as 08h30 e as 13h00 – guiada pelos monitores do GEDA coadjuvados por técnicos da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) – e almoço convívio seguido de jornadas técnicas no período da tarde. Segundo João Sanguinho, este ano as jornadas são dedicadas ao tema “Monitorização e conservação de estepárias”.

Observatório dos grous. Foto: GEDA/Arquivo

No domingo será organizado o percurso pedestre temático Rota dos Grous (PR2 CMR) que termina no Centro Ambiental do Xévora onde segue a tradicional almoçarada e degustação de produtos locais.

Este é um percurso homologado, temático da avifauna, equipado com um observatório em altura com vistas sobre o montado, habitat do grou. “Nesta ocasião alonga-se o percurso com uma travessia do rio Xévora até outras paragens de ocorrência da espécie no intuito de mostrar a diversidade paisagística e aumentar a permanência e experiência nos ecossistemas da região”, acrescentou o responsável.

Mas há cuidados a ter se for à procura dos grous. “Sendo uma atividade com uma baixa capacidade de carga sobre o meio, o grupo é gerido para que o impacto seja o menor possível naquelas zonas mais sensíveis, especialmente na observação do grou comum e de abetarda”, disse João Sanguinho. “O silêncio é um aspeto bastante importante porque, no caso da observação do grou comum, se trata de uma experiência bastante marcante porque é uma ave que também se ouve e cujo cante é simplesmente fascinante!”

A facilidade relativa de conseguir ver Grous

À pergunta “é difícil observar grous nessa região ou podem ser encontrados com relativa facilidade”, João Sanguinho respondeu que é possível encontrá-los “com relativa facilidade”. Mas tudo depende da “fase ou momento da invernada da espécie, em função da disponibilidade de alimento nas zonas de montando e das culturas agrícolas”. Isto porque, “durante a sua permanência, de princípios de novembro a finais de fevereiro, esta ave efetua uma rotação por entre as diversas zonas de alimento e de dormida”. 

“Para melhorar a experiência de observação desta e outras espécies na região, temos um folheto em fase de desenvolvimento, com elementos gráficos que visam facilitar o acesso pelos visitantes aos melhores locais”, adiantou.

Actividade de educação ambiental no âmbito do Festival dos Grous. Foto: GEDA/Arquivo

Além dos grous, há muitas outras espécies de aves que podemos observar durante este Festival.

“Nas extensas zonas de montado e estepe é possível observar abetarda, sisão, cortiçol-de-barriga-preta, alcaravão e diversas aves de rapina e necrófagas a cruzar os céus.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

Don't Miss