Depois de várias semanas na jaula de aclimatação construída no Parque Natural do Douro Internacional, em Freixo de Espada à Cinta, quatro abutres-pretos (Aegypius monachus) foram reintroduzidos na natureza a 3 de Novembro para ajudar a reforçar a colónia mais isolada do país, anunciou a associação Palombar.
Arçã, Alfavaca, Azedinha e Almeirão – três fêmeas e um macho – estiveram na jaula de aclimatação construída no âmbito do projeto LIFE Aegypius Return no Parque Natural do Douro Internacional. A jaula foi aberta no domingo, 3 de novembro, no âmbito de um programa de solta branda.
Depois da jaula aberta, os abutres decidem quando querem sair, sem intervenção dos técnicos do projeto.
Os quatro abutres decidiram permanecer mais uma noite na jaula, já aberta, e só saíram no dia seguinte, 4 de novembro, às 11h21.
“Aparentemente, precisaram do incentivo do Arribes, um outro abutre-preto juvenil, selvagem, que nasceu este ano na colónia do Douro Internacional e que recebeu um emissor GPS/GSM. O Arribes acabou por entrar na jaula e “chamar” os seus pares, que o seguiram para o exterior muito timidamente. Do exterior, toda a cena era observada por um grifo (Gyps fulvus) curioso, que se foi aproximando e que gerou animosidade entre os cinco abutres-pretos. O Arribes acabou por se afastar, voando, e os quatro abutres, no limiar da porta, deixaram o grifo entrar na jaula e alimentar-se dos restos de carne que ainda lá havia. A pouco e pouco, os quatro abutres foram explorando o ambiente exterior e já passaram a primeira noite em liberdade”, segundo a Palombar.
Os nomes dos abutres foram escolhidos por alunos do 7.º ano do Agrupamento de Escolas Guerra Junqueiro, de Freixo de Espada à Cinta. Por terem sido os primeiros abutres a integrar este programa de solta branda, todos receberam nomes iniciados pela letra A. Os nomes são também alusivos ao património natural e cultural da região: Arçã: é o nome dado, em Trás-os-Montes, a uma espécie de rosmaninho; Alfavaca: é uma planta aromática. Os alunos escolheram este nome porque, segundo explicaram, “esta planta é utilizada para tratar infeções e feridas. E, tal como a planta cuida de nós, o abutre-preto também cuida de todos, porque faz parte da patrulha de limpeza da natureza”; Azedinha: nome que alude ao estômago dos abutres, que é muito ácido ou “azedo”; Almeirão: é uma planta herbácea nativa do sul da Europa, que quiseram homenagear.
Estes quatro abutres-pretos inauguraram a jaula de aclimatação construída no âmbito do projeto LIFE Aegypius Return em Fornos, no concelho de Freixo de Espada à Cinta, numa propriedade dos parceiros de projeto ATN/Faia Brava.
Todos estes abutres são juvenis, nascidos em liberdade (dois em 2022 e dois em 2023), que tinham sido encontrados debilitados em vários pontos do país.
Foram resgatados e reabilitados em diversos centros de recuperação: CARAS – Centro de Acolhimento e Recuperação de Animais Silvestres (Évora), dois deles; outro no CERAS – Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens (Castelo Branco) e mais um no CRASM – Centro de Recuperação de Animais Selvagens de Montejunto (Tojeira, Cadaval).
Depois todos foram transferidos para o CERAS, onde terminaram a sua reabilitação, e daí para a jaula, que foi inaugurada a 21 de maio de 2024.
A introdução dos abutres na jaula foi acompanhada por equipas de veterinários do CERAS e do Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (CRAS/HV-UTAD), que também apoiaram durante a recolha de amostras biológicas e a colocação de emissores GPS/GSM.
Segundo a Palombar, “a jaula de aclimatação foi construída com o objetivo de receber abutres-pretos provenientes de centros de recuperação para a fauna, para que se possam adaptar ao ambiente natural de forma gradual e fidelizar-se à região”. O objetivo é “reforçar a colónia reprodutiva transfronteiriça do Douro Internacional, que é bastante frágil pelo seu reduzido tamanho e por ser a mais isolada das colónias portuguesas”.
Através deste programa de solta branda, o projeto LIFE Aegypius Return prevê devolver à natureza 20 abutres-pretos até 2027, nesta área protegida.
O projeto LIFE Aegypius Return é cofinanciado pelo programa LIFE da União Europeia. Nele participam a Vulture Conservation Foundation, beneficiário coordenador, e os parceiros locais Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural (que contam com cofinanciamento da Viridia – Conservation in Action e MAVA – Fondation pour la Nature), Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Protecção da Natureza, Associação Transumância e Natureza, Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e Associação Nacional de Proprietários Rurais Gestão Cinegética e Biodiversidade.