José Xavier e José Seco estão a muitos quilómetros de distância de nós, a bordo do navio científico britânico James Clark Ross, no Oceano Antártico, a estudar a fauna marinha. Estes investigadores portugueses convidam os leitores da Wilder a conhecer os bastidores.
José Xavier (da Universidade de Coimbra e do British Antarctic Survey) e José Seco (Universidade de Aveiro, Universidade de St. Andrews e colaboração directa na Universidade de Coimbra) estão nas Ilhas Orcadas, na Antártida, na expedição PELAGIC (Pelagic Fauna Ecology of the Southern Ocean).
Antes de partirem, em Janeiro, explicaram que o objectivo é avaliar a presença de metais pesados – como o Mercúrio, Níquel, Chumbo e Zinco – em toda a cadeia alimentar marinha no Oceano Antártico, desde albatrozes a crustáceos, peixes, lulas, pinguins e cetáceos.
A expedição decorre entre Janeiro e Fevereiro e tem o apoio logístico do British Antarctic Survey e do Programa Polar Português PROPOLAR.
Só para subir a bordo do James Clark Ross e fazer Ciência já foi um grande desafio. Foi preciso desenvolver um “bom projeto com importância, conseguir o projeto financiado e ter uma boa colaboração”, contaram hoje os investigadores à Wilder, por email.
Na opinião de ambos, “a vida de um cientista a bordo é fascinante. Estamos sempre a trabalhar desde que acordamos”. Nesta expedição estão a fazer 12 horas por dia, no turno da noite (das 18h00 às 06h00 da manhã).
Todos os dias, a primeira coisa que fazem depois de se levantarem é passar pela UIC (o local de reunião dos cientistas) e consultar o quadro branco com o plano para o dia.
“Este plano foi previamente elaborado pelo PSO (Cientista principal) JonWatkins e pelo capitão do navio, após acordo com todas as equipas nas várias reuniões preliminares.”
Num dia bom de Ciência, os investigadores usam diferentes tipos de redes científicas para recolher as amostras de que precisam para estudar os metais pesados na cadeia alimentar na Antártida.
“Ao chegar ao local de amostragem, uma equipa de quatro cientistas coloca as redes na água. Terminado o tempo de pesca (que pode variar de alguns minutos a algumas horas), as redes são recolhidas.”
Depois, “tudo o que foi pescado é reencaminhado para o laboratório, onde é pesado e os animais são triados (identificados por espécies, pesados e medidos) pelos vários cientistas especialistas.”
E há um animal especialmente desejado, a lula. Segundo explica José Xavier no seu blogue, estima-se que existam cerca de 50 espécies de lulas no Oceano Antárctico, um conhecimento obtido através da análise das dietas dos seus predadores naturais. “No entanto, quando se usam redes científicas, o número de espécies capturadas é muito menor, isto porque elas são extremamente rápidas e evitam facilmente as redes.” Por isso, “sempre que se apanha uma lula, há festa!” Nesta expedição as redes já apanharam três espécies diferentes: Galiteuthis glacialis, Psychroteuthis glacialis e Slosarczykovia circumantarctica.
Nem todas as amostras das várias espécies são imediatamente usadas. Algumas são preservadas em arcas frigorificas (a -20 ou -80 graus C) ou em álcool para posteriores análises. “A partir daí é fazer contas de quantas mais amostras precisamos.”
Os dias de trabalho são muito intensivos e é normal acontecerem imprevistos. Por exemplo, “uma tempestade fez-nos atrasar a recolha de amostras por dois dias” mas, acrescentam, “tudo vale a pena”. Especialmente em momentos únicos. “Por vezes, quando acabamos o nosso turno, somos prendados com um nascer-do-sol estonteante, com icebergues e até com baleias. Está sempre algo a acontecer…”
[divider type=”thick”]Saiba mais.
Acompanhe a expedição no site do PROPOLAR ou no blog do José Xavier.
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