Os peneireiros-das-torres já estão a chegar às planícies de Castro Verde, vindos de África. Os machos são os primeiros e têm uma importante missão: preparar os ninhos onde, em breve, irão nascer entre três a cinco pequenas crias. Um grupo de voluntários pôs-se em cima de escadotes para lhes dar uma ajuda.
Rita Alcazar viu o seu primeiro peneireiro-das-torres (Falco naumanni) do ano na última semana de Janeiro. “Agora estão a começar a chegar mais e mais”, disse ontem à WILDER a coordenadora da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) em Castro Verde.
É em Castro Verde que podemos encontrar a maior parte da população nacional desta ave, o falcão mais pequeno que se reproduz em Portugal e espécie classificada como Vulnerável pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005).
No final do século XX, a espécie estava a regredir em Portugal e no mundo. Desapareciam as suas áreas de alimento nos campos de cereais e a requalificação do património histórico levou a que fossem tapadas muitas cavidades em muralhas, igrejas e outros edifícios, usadas como locais de nidificação. Nos anos 90 do século passado, muitas das colónias no Alentejo tinham praticamente desaparecido.
Mas, a pouco e pouco, os peneireiros estão a regressar. Nas reservas da LPN em Castro Verde existem 10 colónias com cerca de 200 casais, de acordo com os dados referentes a 2015, disse Rita Alcazar.
A 30 de Janeiro deste ano, um grupo de 11 voluntários ajudou a limpar cerca de 250 cavidades que estas aves usam para fazer os ninhos, em três colónias de peneireiros-das-torres na Freguesia de São Marcos da Ataboeira, no concelho de Castro Verde.
“Os peneireiros levam muitas coisas para o ninho e, se este não for limpo, depressa fica sem espaço”, explica Rita Alcazar. Em cima de escadotes e com máscaras, os onze voluntários ajudaram a limpar e a manter espaçosas as cavidades que, em breve, vão receber as crias de peneireiro-das-torres.
Todos os anos, por esta altura, os peneireiros-das-torres (também conhecidos por francelhos) começam a chegar a Castro Verde. Primeiro, os machos. Estes “começam à procura de locais para criar”, diz Rita Alcazar. “Quando as fêmeas chegam, os machos tentam conquistá-las para a cavidade bonita que escolheram.”
Uma estratégia que resulta (quase) sempre é voarem em redor das fêmeas com grilos que apanharam presos nas garras. “Querem mostrar-lhes que são excelentes caçadores e capazes de as sustentar”, acrescenta. Aliás, este é um comportamento comum nas rapinas. “As águias-pesqueiras fazem o mesmo, mas com peixe.”
Em meados de Março, as fêmeas começam a pôr entre três a cinco ovos, de um cinzento esverdeado com pintas cinzentas-escuras, um pouco maiores do que um ovo de codorniz e bem mais pequenos que um ovo de galinha. As crias nascem a partir de meados de Abril.
Segundo o último censo nacional para a espécie, de 2006, havia 450 casais em Portugal, 80% dos quais na região de Castro Verde. Todos os anos, os técnicos da LPN monitorizam os ninhos das 10 colónias e tentam mantê-los o melhor possível. Agora é esperar que sejam ocupados novamente.