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Macho adulto de águia-de-bonelli (Aquila fasciata). Foto: Creative Commons

Na Tapada de Mafra, já há dois novos ovos de águia-de-bonelli

20.02.2024

O ninho do casal desta espécie tem vindo a ser filmado por uma câmara escondida, no âmbito do projeto de conservação LIFE LxAquila. Saiba o que se está a passar e como observar em direto.

É na Tapada de Mafra que vive um dos 16 casais de águias-de-bonelli (Aquila fasciata) que são atualmente conhecidos na região da Grande Lisboa. Esta grande águia, também chamada de águia-perdigueira, está atualmente classificada em Portugal como Vulnerável à extinção pela Lista Vermelha das Aves.

Foi agora em Fevereiro que a fêmea da Tapada de Mafra colocou dois ovos no ninho que está construído no topo de um grande pinheiro-manso, uma ávore com várias dezenas de anos. A postura dos dois ovos aconteceu com um intervalo de poucos dias, aumentando a probabilidade de sucesso quanto ao nascimento e sobrevivência de novas crias.

A vida dos progenitores no ninho tem sido observada através de uma pequena câmara escondida ali colocada, que permite também aos investigadores aprenderem mais sobre o comportamento desta espécie.

Por exemplo, os biólogos ficaram a saber, através das observações que fizeram no ano passado, que a participação de macho e fêmea na incubação dos ovos é “dividida de forma equilibrada pelos dois membros do casal”, contou recentemente à Wilder a bióloga Ana Sá, que trabalha na Tapada da Ajuda.

Um macho a ganhar experiência

Descobriu-se também que as águias-de-bonelli aprendem por imitação, uma vez que o macho antigo deste casal desapareceu em 2022, por causas desconhecidas, e o novo macho que o substituiu no final desse ano era ainda bastante inexperiente. As aves desta espécie são monogâmicas e costumam permanecer com o mesmo parceiro, a não ser que este morra ou desapareça.

Há cerca de um ano, como descreveu Ana Sá, as filmagens do ninho mostraram que este macho ainda com dois ou três anos de idade – enquanto que a fêmea já tem 15 anos ou mais – não sabia bem o que fazer.

águia-perdigueira, de frente
Foto: Paco Gómez/Wiki Commons

No entanto, à medida que o tempo passava, o jovem macho foi aprendendo “por imitação da fêmea, sendo essa uma aprendizagem bastante rápida”, descreveu a bióloga. “Apesar dos ovos [no ano passado] terem sido rejeitados, pois possivelmente não estariam férteis, o macho aprendeu que precisava de caçar para a fêmea, aprendeu que precisava de a substituir na incubação enquanto esta se alimentava, e aprendeu a colocar-se em cima dos ovos… Foram momentos muito interessantes de seguir, apesar do resultado negativo desta última época de reprodução.”

Agora que o novo macho deste casal já tem mais experiência, é possível que a época de reprodução deste ano termine com sucesso, acredita a equipa.


Saiba mais.

Recorde como tem início a época de reprodução das águias-de-bonelli, no final de cada ano, aqui. E lembre também sete curiosidades sobre esta espécie, que foi a Ave do Ano 2018 para Portugal.

A águia-de-bonelli (Aquila fasciata), também chamada de águia-perdigueira, é a mais pequena das três grandes águias, em Portugal. Com os seus 1,43 a 1,63 metros de envergadura de uma ponta à outra das asas, é ultrapassada no tamanho apenas pela águia-imperial-ibérica e pela águia-real. 

Esta é uma espécie Vulnerável à extinção, segundo a Lista Vermelha das Aves de Portugal Continental (2022). Estima-se que haverá 150 a 180 casais no território nacional, com uma tendência de aumento na área de distribuição. Esta espécie foi um dos principais alvos do LIFE Rupis, um projecto luso-espanhol realizado no Douro Internacional de 2014 a 2020.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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