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Uma formiga Matabele trata a ferida de uma companheira de ninho, cujas patas foram mordidas numa luta com térmitas. Foto: Erik Frank, University of Würzburg

Estas formigas reconhecem feridas infectadas e tratam-nas com antibióticos

05.01.2024

Uma equipa de investigadores dedicou-se a estudar as formigas Matabele, presentes a sul do deserto do Sahara, e deparou-se com um facto surpreendente.

De acordo com os resultados de um estudo liderado por dois cientistas das universidades de Würzburg Julius Maximilians e de Lausanne, publicado pela revista científica Nature Communications, as formigas Matabele (Megaponera analis) reconhecem quando as suas companheiras estão em risco de vida, devido a uma ferida infectada.

Estas formigas africanas podem ser encontradas em diferentes pontos a sul do Sahara, mas não em Portugal, onde se conhecem pelo menos 163 espécies diferentes de formigas. Alimentam-se apenas de térmitas e muitas vezes combatem com as suas presas enquanto as caçam, acabando mordidas pelas poderosas mandíbulas das suas inimigas.

No entanto, se as feridas causadas pelas térmitas infectarem, outras formigas do mesmo ninho conseguem aperceber-se do problema e tratar a formiga em apuros com um antibiótico que elas próprias fabricam, explica uma nota de imprensa da Universidade de Würzburg Julius Maximilians.

Uma formiga Matabele trata a ferida de uma companheira de ninho, cujas patas foram mordidas numa luta com térmitas. Foto: Erik Frank, University of Würzburg

Análises químicas realizadas por investigadores desta universidade alemã mostraram que as formigas desta espécie conseguem aperceber-se das alterações químicas que sofre uma formiga infectada. Quando isso acontece, aplicam componentes anti-microbianos e proteínas nas feridas, que são produzidos a partir de uma glândula que estes insectos têm no lado do tórax.

Os cientistas envolvidos no estudo descobriram que a secreção produzida por estas formigas africanas contém um total de 112 componentes diferentes, metade dos quais têm um poder anti-microbiano ou ajudam a sarar mais depressa as feridas. “A terapia é altamente eficiente: a taxa de mortalidade dos indivíduos afectados é reduzida em 90 por cento”, indicam também.

“Com excepção dos humanos, não conheço outras criaturas vivas que apliquem tratamentos médicos tão sofisticados em feridas”, comentou Erik Frank, um dos coordenadores do novo estudo, citado pela universidade alemã.

Por outro lado, estas descobertas “podem ter implicações médicas porque os principais patogéneos nas feridas das formigas, da espécie Pseudomonas aeruginosa, são também uma causa importante de infecção em humanos, com várias variantes que são resistentes a antibióticos”, acrescentou Laurent Keller, que também liderou a mesma investigação, e está ligado à Universidade de Lausanne, na Suíça.

Erik Frank explicou ainda que pretende agora explorar outros comportamentos do mesmo género noutras espécies de formigas e de outros animais sociais. Outro objectivo é identificar os antibióticos utilizados pelas formigas Matabele, que mais tarde poderão dar origem a novos medicamentos úteis para os humanos, indicou também.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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