Cogumelos da espécie Amanita phalloides, conhecidos pelo nome comum cicuta-verde. Foto: Krzysztof Ślusarczyk/Wiki Commons

Este cogumelo, comum em Portugal, encontrou uma estratégia de sucesso para invadir a Califórnia

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Uma equipa internacional de investigadores, que incluiu uma cientista da Universidade de Coimbra, descobriu que o cicuta-verde consegue reproduzir-se sem parceiro na Costa Oeste dos Estados Unidos.

Os cogumelos da espécie Amanita phalloides, chamados de cicuta-verde por a sua ingestão poder provocar a morte, podem ser encontrados de norte a sul de Portugal e noutros países da Europa. Todavia, nos Estados Unidos, foram acidentalmente introduzidos e estão em expansão, em especial na Costa Oeste.

Um estudo internacional, publicado na revista científica Nature Communications, revelou agora que este cogumelo europeu “é capaz de se reproduzir sem parceiro” na região da Califórnia, explica uma nota de imprensa divulgada esta segunda-feira pela Universidade de Coimbra.

“A capacidade de se auto fertilizar pode ser uma vantagem quando se chega a um novo habitat onde não há parceiros compatíveis”, nota Susana Gonçalves, investigadora do CFE – Centre for Functional Ecology da Universidade de Coimbra, e uma das autoras do artigo científico. Ou seja, esta unissexualidade poderá “ajudar a explicar a rápida disseminação da espécie ao longo da Costa Oeste dos Estados Unidos”, avançam os responsáveis do estudo.

Susana Gonçalves junto a um cogumelo da espécie Amanita phalloides. Foto: Universidade de Coimbra

A capacidade de auto fertilização é “um tipo invulgar de reprodução sexual em fungos que raramente foi observado fora do laboratório”, explica por seu turno Anne Pringle, da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, e coordenadora e autora sénior deste estudo. “Esta espécie reproduz-se normalmente de forma bissexuada: as estruturas subterrâneas, o micélio, de dois indivíduos distintos compatíveis, fundem-se e produzem cogumelos que contêm ADN de ambos os indivíduos”, acrescenta a investigadora. Este último é o tipo de reprodução que acontece na Europa.

Para chegarem a estas conclusões, os cientistas sequenciaram o ADN de cogumelos da Europa, incluindo várias populações de Portugal, e descobriram que neste caso, cada cogumelo continha dois conjuntos de material genético – um de cada progenitor.

Cogumelo europeu Amanita phalloides. Foto: Universidade de Coimbra

Já na Califórnia, onde os cogumelos desta espécie foram observados pela primeira vez no início do século XX, o fungo parece estar a fazer algo bastante diferente. “O ADN de alguns cogumelos da Califórnia continha apenas um conjunto de material genético, indicando que cada um tinha surgido a partir de um único indivíduo”, observam os autores do estudo, que adiantam que a forma como isso acontece maneira como o faz “não é muito clara”. É possível, propõem, que os cogumelos desta espécie contornem “de alguma forma os controlos genéticos que garantem que os cogumelos só são produzidos depois de dois indivíduos se terem fundido”.

“O próximo passo é saber se outras espécies invasoras de fungos estão a usar estratégias semelhantes na natureza”, conclui Susana Gonçalves.


Saiba mais.

Recorde alguns cogumelos que pode observar no Outono, incluindo espécies tóxicas como o cicuta-verde.

E descubra como é que os cogumelos, normalmente, se reproduzem.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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