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Águia-pesqueira. Foto: NASA

A águia-pesqueira P21 já regressou de África e esteve em Cádiz

11.12.2015

Há quatro anos que são libertadas águias-pesqueiras na albufeira de Alqueva, no âmbito de um projecto de conservação da espécie. Por onde voam e onde escolhem nidificar pode ser uma incógnita. Mas nem sempre. Ontem houve notícia do P21. Este macho libertado em 2012 regressou de África e passou a época de reprodução em Cádiz, Espanha.

 

A equipa do projecto de Reintrodução da Águia-pesqueira nunca mais teve notícias do P21 desde o dia em que o libertou. Passados três anos, chegam novidades. Graças à sua anilha verde com o código P21, técnicos espanhóis e portugueses identificaram esta águia-pesqueira (Pandion haliaetus) como uma das 47 que foram libertadas desde 2011 pelo projecto, a decorrer nas margens da albufeira de Alqueva, no Baixo Alentejo.

O macho P21 foi observado na albufeira de Barbate, em Cádiz, a mais de 300 quilómetros de Alqueva.

Todos os anos são trazidos para Alqueva juvenis da Finlândia e Suécia, onde a espécie é abundante. “Normalmente trazemos entre dez a 12 aves”, contou à Wilder Andreia Dias – a trabalhar no projecto que começou em 2011, desenvolvido pelo CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) com o apoio financeiro da EDP. Segundo os dados mais recentes, ao todo já são 56 aves transferidas, das quais se perderam nove: três por acidente, dois por patologias e quatro por predação, acrescentou.

O objectivo é conseguir que a espécie volte a reproduzir-se na Bacia do Mediterrâneo. Além de Portugal fazem parte deste esforço a Itália e Espanha (Andaluzia e País Basco).

Passadas algumas semanas no Alentejo, as águias migram para África. A expectativa é a de que, ao chegarem à maturidade sexual (aos três anos de idade), regressem para nidificar no Alqueva. Até agora, o projecto instalou nove plataformas artificiais de nidificação para as ajudar.

Nos cinco anos que dura o projecto – que termina a 31 de Dezembro deste ano – “tivemos quatro registos de águias-pesqueiras a regressar à zona do Alqueva. Agora soubemos do P21”, contou Andreia Dias.

“Já contamos com a fixação de alguns animais em Espanha. Isto porque estas são aves semi-coloniais, ou seja, são atraídas por locais com populações instaladas. E quando regressam de África, a primeira população que encontram é a da Andaluzia”, onde existiram 21 territórios e 16 casais em 2015.

Mas as coisas parecem estar a mudar para a águia-pesqueira. Na zona de Alqueva instalou-se um casal de águias-pesqueiras selvagens (sem ligação com o projecto) ao fazerem ninho numa árvore seca na Estremadura, a metros da fronteira com Portugal. Este casal teve 1 cria. Além deste, um outro casal, também selvagem, teve duas crias na Costa Vicentina.

Neste momento, os responsáveis estão a preparar com a EDP o prolongamento do projecto. Entretanto, a 9 de Janeiro, vão participar no II Censo à Águia-pesqueira que passa o Inverno em Portugal e sobre o qual pode ler na Wilder. Estima-se que, pelo menos, entre 71 e 81 águias-pesqueiras venham passar o Inverno a Portugal, segundo o I Censo, realizado a 24 de Janeiro.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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