Foto: LPN

Confirmadas as primeiras crias de abutre-preto na Reserva da Malcata

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Uma equipa de peritos de um projecto de conservação confirmou as primeiras crias de abutre-preto e um novo ninho na Reserva Natural da Serra da Malcata, a quarta e mais recente colónia portuguesa desta espécie Criticamente Em Perigo.

O abutre-preto (Aegypius monachus), a maior ave de rapina da Europa, é um residente recente na Reserva Natural da Serra da Malcata.

Foto: LPN

Só no Verão de 2021 foi confirmado o sucesso reprodutor de um casal de abutre-preto na Reserva da Malcata, área protegida do distrito de Castelo Branco, pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Em Novembro desse ano foram descobertos pelo menos três ninhos, revelou então a Rewilding Portugal.

Ontem, a 24 de Maio de 2023, chegaram boas notícias desta colónia, a quarta de uma rede composta por pelo Douro Internacional, Moura (Herdade da Contenda) e Tejo Internacional. 

A equipa do LIFE Aegypius Return, que no início do mês esteve na zona durante uma visita técnica dos parceiros do projecto –  VCFATNPalombarSPEA e LPN, juntamente com os Vigilantes da Natureza da Direção Regional do Centro – confirmou agora as primeiras crias deste núcleo reprodutor e descobriu um novo ninho.

“Com a utilização de telescópios, de forma manter uma distância segura dos ninhos e assim evitar perturbações, os parceiros do projeto conseguiram confirmar as primeiras crias da época”, segundo um comunicado da Liga para a Protecção da Natureza (LPN).

A monitorização no âmbito do projecto começou no início de Fevereiro e vai continuar até ao fim da época de reprodução. O objectivo é “confirmar os ninhos previamente conhecidos e identificar potenciais novos locais de reprodução”.

No nordeste de Portugal, os dois ninhos existentes foram reocupados nesta época e na Herdade da Contenda foi identificado um novo ninho durante uma visita técnica dos parceiros do projeto LIFE Aegypius Return.

Abutre-preto. Foto: Francesco Veronesi / Wiki Commons

Na Serra da Malcata, as atividades de monitorização estão a ser lideradas pelo ICNF, em cooperação com as ONG locais ATN e Rewilding Portugal.

A recente visita técnica permitiu confirmar um novo ninho nesta colónia, que totaliza 10 ninhos conhecidos, cinco com reprodução confirmada nesta época de reprodução. Este é considerado “um resultado encorajador para o ambicioso objetivo de duplicar o número de casais reprodutores existentes em Portugal até 2027”.

Para aumentar a segurança dos ninhos e atrair novos casais reprodutores, os parceiros do projeto vão instalar 120 novas plataformas artificias de nidificação em áreas com elevado potencial de reprodução e reparar 105 ninhos existentes. Na Herdade da Contenda, um ninho foi rapidamente ocupado após as primeiras intervenções feitas em Janeiro de 2023. 

O projeto prevê ainda a instalação de dois campos de alimentação de aves necrófagas e a criação de 66 áreas não vedadas em Portugal e Espanha, o que será feito em estreita colaboração com produtores de gado em regime extensivo e as autoridades de conservação da natureza e de veterinária.  

A equipa do projeto irá gerir e melhorar 570 hectares de habitat em torno das colónias de reprodução existentes, de forma a evitar incêndios florestais e mitigar a perturbação humana que afeta o sucesso reprodutor da espécie. Para acelerar o regresso e consolidar a presença de indivíduos, pelo menos 20 abutres-pretos provenientes de centros de recuperação e reabilitação de fauna silvestre serão libertados.

Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

O primeiro abutre-preto reabilitado, Zimbro, foi libertado em Março deste ano no nordeste de Portugal. É no Parque Natural do Douro Internacional que se encontra a colónia mais frágil, com apenas dois casais reprodutores. Ainda este ano, será construído uma jaula de aclimatação na área do Parque, que irá acolher os abutres-pretos recuperados durante um período, antes de serem devolvidos à natureza.

Durante quase 40 anos, o abutre-preto esteve extinto em Portugal como espécie reprodutora. Graças aos esforços de conservação de muitas organizações na Península Ibérica, as colónias reprodutoras espanholas começaram a recolonizar Portugal em 2010.

Quatro colónias foram estabelecidas, embora bastante vulneráveis, razão pela qual a espécie está listada como “Criticamente em Perigo” em Portugal.

Os parceiros do projecto LIFE Aegypius Return estão a trabalhar para melhorar o estado de conservação do abutre-preto e aumentar a conectividade entre as colónias, de modo a reduzir o estado de conservação para Em Perigo. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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